Setor de serviços recua 1,6% em abril ante março, diz IBGE, pior que o esperado

Consenso Refinitiv esperava queda de 0,5% no mês; no acumulado dos últimos doze meses, a alta dos serviços está em 6,8%

Roberto de Lira

(Foto: ANTT)

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O volume de serviços no Brasil caiu 1,6% em abril ante março, na série com ajuste sazonal. Em relação a abril de 2022, o setor mostrou crescimento de 2,7%, na 26ª alta seguida, segundo dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgados nesta quinta-feira (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O desempenho do setor em abril se mostrou pior que o projetado pelo consenso Refinitiv, que previa queda de 0,5% na comparação mensal e alta de 4,3% na leitura ante abril de 2022.

No indicador acumulado nos primeiros quatro meses do ano, o volume de serviços teve expansão de 4,8% frente a igual período de 2022. Já no acumulado dos últimos doze meses, a alta foi de 6,8%, abaixo dos 7,3% observados em março.

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Segundo do IBGE, a retração no mês foi puxada quatro das cinco atividades investigadas. Assim como em março, o setor de transporte se destacou como a principal influência, mas desta vez para o campo negativo. O grupo caiu -4,4%, devolvendo parte do ganho acumulado (7,5%) entre fevereiro e março.

Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa, disse em nota que vários segmentos de serviços dentro desse setor acabaram por gerar um impacto negativo: gestão de portos e terminais, transporte rodoviário de cargas, rodoviário coletivo de passageiros e transporte dutoviário. “Esses segmentos tiveram importância no âmbito do volume de serviços como todo, ultrapassando a fronteira do próprio setor”, analisou.

Os demais recuos vieram dos serviços de informação e comunicação (-1,0%), dos profissionais, administrativos e complementares (-0,6%); e dos outros serviços (-1,1%).

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Lobo disse que em serviços de informação e comunicação, as principais influências vieram de serviços audiovisuais (-4,2%) e de tecnologia da informação (-1,2%). “Nos profissionais, administrativos e complementares, destacam-se os serviços de engenharia, de apoio às atividades empresariais e de organização, promoção e gestão de feiras, congressos e convenções”, comentou.

Já os outros serviços foram pressionados pelos segmentos de serviços financeiros auxiliares e de corretoras de títulos e valores mobiliários.

A única atividade em expansão do mês foram os serviços prestados às famílias (1,2%), que recuperaram parte da perda acumulada entre fevereiro e março (-2,2%). “O ganho nesse mês vem tanto de alojamento e alimentação (3,7%) como de outros serviços prestados às famílias (3,5%). Dentro desse segmento, a parte de atividades teatrais, musicais e de espetáculos em geral teve maior influência”, observou o gerente da PMS.

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Comparação com abril de 2022

No confronto contra abril de 2022, o avanço de 2,7% no volume de serviços também foi acompanhado por quatro das cinco atividades. Essa é a 26ª taxa positiva consecutiva, mas vem apresentando desaceleração.

“É o resultado menos intenso desde março de 2021 (4,6%), quando se iniciou essa sequência de taxas positivas. Um dos motivos é a base de comparação. Tivemos movimentos muito fortes em 2021 e 2022 e agora vêm perdendo folego”, explicou Lobo.

Ele destacou ainda os efeitos do segmento de serviços de tecnologia da informação, que tiveram um crescimento acentuado durante a pandemia, por conta da adequação das empresas ao teletrabalho e disponibilização de serviços online.

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Também teve impacto o transporte de cargas, com o escoamento da produção agrícola, que bateu recordes de safra, e do comércio eletrônico. Essas atividades mostraram movimentos fortes em 2021 e 2022 e vêm apresentando crescimentos menos intensos.

O acumulado do ano, frente a igual período do ano anterior, foi a 4,8%, com taxas positivas em todas as atividades. A contribuição positiva mais importante ficou com o ramo de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (5,4%), seguido por informação e comunicação (5,4%), serviços profissionais, administrativos e complementares (4,8%), serviços prestados às famílias (6,8%), e outros serviços (0,2%).

Transportes

No indicador especial de transportes por tipo de uso, tanto o transporte de cargas (-3,4%) como o de passageiros (-1,4%) apresentaram queda na passagem de março para abril, segundo o IBGE

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No caso do transporte de passageiros, foi o segundo resultado negativo consecutivo, período em que acumulou uma perda de 4,7%. Dessa forma, o segmento encontra-se 0,9% abaixo do nível de fevereiro de 2020 (pré-pandemia) e 23,7% abaixo de fevereiro de 2014 (ponto mais alto da série histórica).

Já a queda no transporte de cargas eliminou uma pequena parte do ganho de 8,0% verificado entre fevereiro e março. O segmento está 3,4% abaixo do ponto mais alto de sua série, alcançado em março de 2023. Com relação ao nível pré-pandemia, o transporte de cargas está 34,9% acima de fevereiro de 2020.

“O transporte de cargas tem peso maior, impactando mais o setor. Dentro de cada um deles, o rodoviário de cargas teve impacto mais decisivo, assim como o rodoviário coletivo de passageiros”, afirmou Lobo.

Na comparação com abril de 2022, o transporte de passageiros recuou 5,2% e interrompeu uma sequência de 24 taxas positivas seguidas, ao passo que o transporte de cargas cresceu 7,8%, assinalando o 32º resultado positivo consecutivo. No indicador acumulado do primeiro quadrimestre, o transporte de passageiros cresceu 3,9% e o de cargas avançou 10,7%.

Turismo

O índice de atividades turísticas teve queda de 0,1% frente a março, a terceira taxa negativa seguida, período em que acumulou perda de 1,6%. Com isso, o segmento de turismo se encontra 0,7% acima do patamar de fevereiro de 2020 e 6,7% abaixo do ponto mais alto da série, alcançado em fevereiro de 2014.

Regionalmente, apenas cinco dos 12 locais pesquisados acompanharam este movimento de retração. A influência negativa mais relevante ficou com Distrito Federal (-6,2%), seguido por Paraná (-2,8%), Bahia (-1,3%) e Pernambuco (-1,7%). Por outro lado, São Paulo (1,0%) e Rio de Janeiro (2,6%) assinalaram os principais avanços em termos regionais.

De acordo com o gerente da pesquisa, nesse mês, houve grande influência do segmento de transporte aéreo de passageiros e de locação de automóveis, que puxaram o indicador para o campo negativo.

“Também no setor de alojamento e alimentação, a parte de alojamento está com viés negativo, e, apesar de os restaurantes estarem puxando pra cima, não foi suficiente para trazer o índice para o campo positivo”, analisou o gerente da pesquisa.

Regiões

Na análise regional, o volume de serviços recuou em 26 das 27 Unidades da Federação em abril em relação a março. Os impactos mais importantes vieram de São Paulo (-1,5%) e Rio de Janeiro (-5,5%), seguidos por Santa Catarina (-3,5%), Goiás (-5,6%) e Mato Grosso (-4,2%). Em contrapartida, Ceará (1,0%) exerceu a única contribuição positiva do mês.

“Esse tipo de disseminação, seja de taxas positivas ou negativas, é muito incomum de acontecer. A última vez foi em setembro de 2020, quando 26 unidades tiveram resultados positivos”, observou Lobo.

Frente a abril de 2022, o avanço do volume de serviços no Brasil (2,7%) foi acompanhado por 23 das 27 Unidades da Federação. A principal contribuição positiva ficou com Minas Gerais (6,9%), seguido por Paraná (8,7%), Santa Catarina (10,7%), São Paulo (0,6%) e Rio Grande do Sul (5,3%). Em sentido oposto, Mato Grosso do Sul (-1,3%), Alagoas (-1,8%) e Amapá (-4,2%) assinalaram os únicos resultados negativos do mês.

No acumulado do primeiro quadrimestre de 2023, o avanço do volume de serviços no Brasil (4,8%) se deu de forma disseminada entre os locais investigados, já que 26 das 27 Unidades da Federação também mostraram expansão na receita real de serviços. O principal impacto positivo veio de São Paulo (2,4%), seguido por Rio de Janeiro (5,8%), Minas Gerais (8,4%), Paraná (10,5%) e Santa Catarina (10,4%). Por outro lado, Mato Grosso do Sul (-0,2%) registrou a única influência negativa sobre índice nacional.