BofA mantém call de corte de juro em janeiro: ‘Copom não precisa afrouxar linguagem’

David Beker, chefe de economia para Brasil e estratégia para América Latina do Bank of America (BofA), diz que o Copom poderá reduzir Selic desde que os dados econômicos indiquem este cenário

Élida Oliveira

Sede do Banco Central, em Brasília 18/12/2024 REUTERS/Adriano Machado
Sede do Banco Central, em Brasília 18/12/2024 REUTERS/Adriano Machado

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A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) em manter os juros em 15% e não sinalizar um possível afrouxamento para a próxima reunião não impede a autoridade de fazer cortes em janeiro caso o cenário econômico mude, avalia David Beker, chefe de economia para Brasil e estratégia para América Latina do Bank of America (BofA).

No comunicado que acompanhou a decisão divulgada na noite desta quarta-feira (10), o Copom reafirmou a necessidade de “cautela” diante de um cenário de “elevada incerteza”. 

Em um encontro com jornalistas na manhã desta quinta-feira (11), Beker avaliou o cenário econômico atual, e citou as projeções para a Selic em 2026. Segundo Beker, o BofA mantém a projeção de corte na Selic em janeiro, apesar da incerteza que se impôs um pouco mais a partir do texto do comunicado. “Estou com projeção de call para janeiro. Estou menos confortável? Sim, mas não mudei ainda.”

A expectativa do BofA é que o Copom inicie os cortes em janeiro, em 0,50 bps, e termine o ano em 11,25% – patamar abaixo da mediana do mercado, que está em 12% – mas, ainda assim, acima do juro neutro.

Comunicado

O comunicado que acompanhou a decisão do Copom chegou a ser classificado como um “banho de água fria” por alguns integrantes do mercado, que esperavam uma comunicação mais amena. Mas os dirigentes mantiveram a estratégia de juros altos “por período bastante prolongado” a fim de convergir a inflação à meta. Para o Copom, ainda há riscos para a inflação, como a desancoragem das expectativas, a resiliência da inflação de serviços, a conjunção das políticas econômicas interna e externa.

Beker disse que também esperava que o Copom tivesse suavizado sua linguagem no comunicado, mas vê incentivos para o Banco Central manter uma postura “hawkish” (dura) até o último minuto, para maximizar os efeitos da política monetária restritiva.

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Ele avalia que o Copom pode reconhecer que o cenário melhorou e que suas ações surtiram efeito, e então proceder com o corte em janeiro. Ele reconhece, porém, que a falta de suavização da linguagem, no entanto, aumenta a incerteza sobre a possibilidade de uma redução no início do ano.

Beker disse que as condições econômicas agregadas apoiam o corte e que a taxa Selic, atualmente em 15%, permanecerá acima da neutralidade mesmo após a redução.

“Se o BC sinalizasse um afrouxamento, o mercado já o precificaria, diminuindo o impacto da política”, diz.

Troca de diretores 

O mandato de dois diretores do Banco Central, que integram do Copom, termina em 31 de dezembro, e ainda não houve indicação de possíveis nomes para substituí-los. Beker afirma que deverão ser nomes técnicos, que não vão interferir na condução da política monetária.

Essa troca de diretoria chegou a ser apontada por parte do mercado como possível razão para que o Copom não sinalizasse o que faria com os juros nas próximas reuniões – assim, os novos diretores não ficariam condicionados a cumprir uma agenda que discordassem, o que poderia afetar a credibilidade da autoridade monetária.

Mas, para Beker, essa avaliação não faz sentido, já que o contrário também poderia ser visto como possível quebra de credibilidade – ou seja, se os novos diretores assumirem e mudarem a condução da política monetária, isso também poderia ser lido como perda de credibilidade.

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Para Beker, o que deve pesar é “a consistência entre as políticas fiscal, creditícia e monetária”, pontos cruciais para cortar e manter o juro mais baixo.