Reajustes da Petrobras acima do esperado levam projeções do IPCA de 2023 para acima de 5%

Maior parte dos analistas veem inflação de 2023 em 5,1%; mediana da projeção no Boletim Focus está em 4,84% há duas semanas

Roberto de Lira

(Foto: Getty Images)

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O reajuste nos preços no atacado pela Petrobras anunciado nesta terça-feira (15), de 16,3% para a gasolina e de 25,8% para o diesel, mexeram com as projeções de inflação para os próximos dois meses e para o IPCA fechado de 2023. Os analistas já veem a inflação ultrapassando o patamar de 5% no final do ano. No Boletim Focus divulgado ontem pelo Banco Central, a mediana das projeções está estacionada em 4,84% há duas semanas.

Nos cálculos da XP Investimentos, por exemplo, o impacto na taxa de inflação mensal será de 11 pontos-base no indicador de agosto e de 35 pontos-base em setembro. Como as altas projetadas dos combustíveis eram menores, a estimativa agora é que o IPCA de agosto fique em 0,25% (ante os 0,15% anteriores) e o de setembro alcance 0,59% (ante 0,26%).

“Tínhamos 6% de reajuste adicional em gasolina para distribuidoras até o fim do ano. Logo, como veio 16%, isso deixa cerca de 30 bps de viés de alta para nossa projeção de 4,6% para IPCA total de 2023”, comenta a XP

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Leonardo Costa, da ASA Investments, afirma que a surpresa na intensidade do anúncio levou sua projeção para a inflação do ano de 4,8% para 5,1%. Isso vem de um impacto nas taxas mensais de agosto (de 0,12% para 0,22%) e de setembro (de 0,33% para 0,61%).

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, calcula que o impacto direto do reajuste de gasolina no IPCA é de 29 bps, o que somado ao avanço do diesel chega a cerca de 31 bps.

“O relevante para o reajuste do diesel é o impacto indireto, que tende a elevar sobremaneira o custo de transportes da economia e tornar o processo desinflacionário menos intenso. Vale ressaltar que um reajuste dessa magnitude eleva o risco de eventuais manifestações de caminhoneiros”, alerta.

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Com os reajustes, a projeção da inflação anual da Ativa subiu de 4,8% para 5,1%. Para o IPCA de agosto especificamente saltou de 0,08% para 0,23%. Já a previsão para a inflação de setembro passou de 0,26% para 0,41%.

A Ativa ainda comentou que consideramos a aplicação do reajuste como positiva para as ações da Petrobras, uma vez que afasta rumores sobre a prevalência de decisões políticas sobre  assuntos estratégicos da companhia.

Alexandre Espirito santo, economista-chefe da Órama Investimentos, também reviu para cima as projeções. “Estimamos que o efeito no IPCA seja dividido entre o mês de agosto (+13 bps), que passa a 0,36%, e de setembro (+25 bps), que vai a 0,57%, levando a projeção de 2023 para 5,1% (+38 bps), de 4,8% anteriormente.“

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Para o JP Morgan, o aumento maior do que o esperado impulsionou a estimativa para o IPCA de agosto, de 0,12% para 0,19%. A projeção de setembro, por sua vez, subiu de 0,25% para 0,36%.

“Apesar disso, como fizemos alguns ajustes nas projeções de inflação do 4º trimestre sobre passagens aéreas e preços de alimentos mais baixos, mantemos nossa projeção de IPCA para o final do ano de 4,8%”, comenta o banco de investimentos em relatório.

“Vínhamos sinalizando que, desde o anúncio da nova política de preços o desconto à paridade havia aumentado de uma média de 1% para mais de 10%, atingindo máximos históricos. Após os ajustes, estimamos que o desconto para a paridade de importação deve ser de aproximadamente 9% no diesel e de 15% na gasolina.”

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Ricardo Jorge, sócio da Quantzed, também estima uma alta entre 35 e 45 pontos-base para o IPCA do ano, o que levaria a inflação a superar os 5% no final de 2023, da atual estimativa de 4,7%.

O Itaú também vê um impacto adicional de aproximadamente 25 bps nos meses de agosto e setembro no IPCA. Com isso, a projeção da inflação para 2023 subiu de 4,9% para 5,1%. “Mantemos nossa projeção para o IPCA de 2024 em 4,3%”, diz o banco em relatório.

Para Rodrigo Correa, estrategista-chefe e sócio da Nomos, além do natural impacto do reajustes no IPCA, a pergunta que fica é se tal aumento será significativo para que se aborte os cortes planejados na Selic.

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Ele comenta que, na ata da última reunião, o Copom sinalizou uma manutenção de cortes de 0,50% a cada reunião e que esse ritmo era o suficiente para manter as taxas de juros em patamar ainda restritivo por mais um tempo até que o processo de desinflação ocorra.

Após a notícia, de hoje, Correa diz que essa intenção ficar reforçada, com menor probabilidade de uma velocidade maior de cortes, de 75 pontos base.

Ele afirma ainda que o reajuste foi decidido para evitar que o desabastecimento ocorra. Ele critica o que chamou que “uma política de precificação completamente opaca, que desconsidera o interesse dos minoritários e usa a Petrobras para finalidades políticas.”