Recuo na atividade em setembro confirma desaceleração e mantém chance queda no PIB do 3° tri

Economistas fazem projeções de economia estagnada até setembro; desempenho do final do ano dependerá do comportamento dos serviços

Roberto de Lira

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O dados do IBC-Br de setembro, que mostraram uma queda de 0,06% ante o mês anterior, abaixo da projeção de alta marginal feita pela maioria dos analistas, confirmaram a desaceleração da atividade que já vinha sendo observada nos resultados de indústria, serviços e varejo pelo IBGE no 3º trimestre.

Para os economistas, está mantida a probabilidade de um resultado negativo ou, na melhor das hipóteses, de estabilidade no PIB no 3º trimestre ante o trimestre anterior. Já a projeção para os últimos três meses do ano vai depender do desempenho dos serviços, que tem se mostrado volátil.

Rodolfo Margato, economista da XP, destaca que a comparação do IBC-Br do trimestre encerrado em setembro ante o 3º trimestre do ano passado espelha a desaceleração da atividade. O dado divulgado nesta sexta (17) mostrou um crescimento de 0,78%, bastante inferior às taxas de 4,5% no 1º trimestre e 3,2% no 2º trimestre, em comparação com os resultados de 2022.

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O economista projeta que o efeito de carrego estatístico para o 4º trimestre – ou seja, assumindo taxas de variação nulas entre outubro e dezembro – indica contração de 0,3%. “Por ora, estimamos aumento de 0,2% em outubro, explicado por resultados um pouco melhores no setor de serviços”, explica.

“O desempenho fraco deste indicador no trimestre passado deve levar a algumas revisões baixistas entre os analistas de mercado. Em linhas gerais, os dados recentes corroboram nossa visão de enfraquecimento da atividade econômica ao longo do 2º semestre”, comenta.

Margato afirma que a projeção da XP para o PIB de 2023 permanece em 2,8% e recuando para 1,5% em 2024.

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Na opinião de João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, o resultado negativo do IBC-Br no mês refletiu, principalmente, a queda de serviços (-0,3% no mês), apesar do comércio varejista ampliado (+0,2%) e a indústria (+0,1%) terem subido marginalmente no período.

Savignon pondera que, apesar de o indicador apontar para uma queda relevante para o 3º trimestre e o seguinte, a precisão da variação trimestral do índice pode ser contestada e, assim, o carrego estatístico não deve ser levado a “ferro e fogo”.

“Certo é que a desaceleração da atividade no período era esperada, mas temos visto dados mais fracos que os projetados no início do trimestre, reflexo da dissipação dos efeitos da supersafra desse ano, que impulsionou o 1º semestre, e do nível de aperto monetário ainda presente na economia”, explica.

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Na análise do Santander Brasil, o resultado abaixo do esperado em setembro reforça a perspectiva de um dado negativo para o PIB do 3º trimestre. “Setembro foi um mês de resultados mistos para a atividade econômica. Os dados do setor terciário indicaram uma contração no volume de serviços (-0,3%) e uma ligeira recuperação nas vendas do varejo ampliado (+0,2%). A produção industrial apresentou desempenho positivo (+0,1%), mas com composição negativa”, lembra o analista Gabriel Couto em relatório.

Ele destaca ainda que os dados disponíveis de outubro fornecem, em sua maioria, sinais negativos. “Os dados de confiança econômica da FGV para famílias, serviços e varejo permanecem abaixo do limite neutro, enquanto nossos dados proprietários (IGet) sugerem reduções tanto nas vendas no varejo amplo quanto nos serviços prestados às famílias”, compara.

Para o Santander Brasil, apesar da recente surpresa positiva no resultado do PIB do 2º trimestre, há sinais de desaceleração ampla para a atividade à frente, especialmente para segmentos mais cíclicos, devido às condições financeiras altamente restritivas.

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“Além disso, esperamos contribuições negativas da produção agrícola para o 2º semestre, uma vez que o impacto positivo das safras recordes de verão foi limitado ao 1º trimestre e início do 2º trimestre”, diz o texto.

Viés de baixa

Laura Moraes, economista da Neo Investimentos, por sua vez, alerta que o IBC-Br apontou para um PIB do 3º trimestre de +0,72% em relação ao mesmo trimestre de 2022 e que esse resultado é significativamente abaixo do PIB estimado pela modelagem mais detalhada da gestora. “Com isso, colocamos um viés de baixa na nossa projeção”, avisa.

​A avaliação de Nicolas Borsoi, economista chefe da Nova Futura, também é de que os dados divulgados nesta sexta pelo BC reforçaram a visão de que o PIB ficou estagnado no trimestre. “Temos uma projeção de queda de 0,2% no PIB do 3º trimestre e vejo algum viés baixista para a projeção”, estima.

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Para ele, agora chegou a parte difícil do ciclo, levando a uma percepção de que o 4º trimestre será pior que o 3º, adicionando assim um risco à projeção da Nova Futura para o crescimento de 2023. “Por enquanto, seguimos com 3%, mas 2,8% parece provável também”, alerta.

André Nunes de Nunes, economista chefe do Sicredi, diz que a variação de -0,64% ante o trimestre anterior aponta para uma variação negativa do PIB após dois trimestres de forte expansão no início do ano.

“Essa tendência de retração no 3º trimestre reflete a desaceleração vista nos setores mais cíclicos da indústria, do varejo e dos serviços empresariais. Por outro lado, o mercado de trabalho resiliente mantém o consumo das famílias aquecido, que ainda deve se expandir neste trimestre. Com isso, esperamos uma queda leve no PIB do 3º trimestre”, afirma.

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Para Nunes, ao longo do 4º trimestre, à medida que o mercado de trabalho perder força, deve haver uma continuação desse movimento de desaceleração, com o consumo das famílias moderando. “Na nossa projeção, o PIB deve crescer 0,0% no 4º trimestre e encerrar o ano com crescimento de 3,0%”, calcula.

Igor Cadilhac, economista do PicPay, analisa que o resultado do IBC-Br de setembro foi influenciado por variações próximas à estabilidade em quase todos os setores da atividade econômica. “No entanto, de modo geral, o resultado do mês foi homogêneo e negativo, com os números expansionistas concentrados em poucas aberturas”, pondera.

Para ele, o grande destaque mensal ficou com a indústria extrativa, o varejo alimentício e os serviços prestados às famílias, setores que vêm se beneficiando da exportação de commodities e de um aumento da massa de rendimento.

“Olhando à frente, a grande questão continua sendo a capacidade de resiliência do setor de serviços. É importante reconhecer que tivemos a segunda surpresa negativa nesse setor importante da atividade econômica, o de maior peso, e cuja dinâmica tende a ser mais inercial, mas que ainda vemos um desempenho positivo no último trimestre”, afirma.

Com relação a dinâmica do PIB, Cadilhac estima uma variação de 0,1% no PIB do 3º trimestre e um crescimento de 3% para a economia em 2023.

Dinâmica negativa

Para André Cordeiro, economista sênior do Banco Inter, o IBC-Br confirmou um mês de setembro fraco para a atividade econômica. Mesmo com a variação positiva na produção industrial e nas vendas no varejo, ele lembra que o qualitativo desses indicadores mostrou uma dinâmica negativa.

“A produção industrial variou apenas na margem e com 20 das 25 atividades pesquisadas apresentando variação negativa na produção. As vendas no varejo surpreenderam positivamente, mas foram amplamente influenciadas pelo aumento no volume em supermercados e hipermercados, que responde por mais de 50% do índice”, destaca.

Cordeiro explica que, por ser um item de consumo básico, isso sugere que a demanda está enfraquecida, uma vez que cinco das oito atividades de varejo pesquisadas tiveram variação negativa.

Por fim, o setor de serviços apresentou variação negativa pelo segundo mês consecutivo, interrompendo uma sequência de 30 taxas positivas na comparação anual. “Portanto, os dados mostram que a dinâmica da atividade econômica no 3º trimestre de 2023 é consistente com uma variação negativa do PIB, que antecipamos que irá recuar em 0,5%”, reafirma.

Para o 4º trimestre, o economista do Inter diz que a perspectiva não é muito positiva, com a tendência de desaceleração se mantendo, enquanto as condições climáticas extremas observadas nas últimas semanas deverão impactar negativamente a agricultura.

“Por outro lado, a sazonalidade do fim do ano pode ajudar a compensar parte dessa desaceleração. Ainda assim, antecipamos um bom desempenho para o PIB em 2023, que deverá crescer cerca de 2,8%”, estima.