Queda do IBC-Br: o que explica a prévia do PIB de maio ter decepcionado tanto as expectativas?

Em meio a revisões para cima do PIB pelo Focus, prévia do BC caiu 0,43% na base mensal ante projeção de alta; economistas seguem otimismo com recuperação

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em um contexto em que analistas projetam recuperação da economia e vêm elevando as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) para 2021 – o último relatório Focus elevou a projeção da atividade para 5,26% no ano, a 12ª revisão para cima seguida – os dados apresentados nesta quarta-feira (14) pelo Banco Central surpreenderam negativamente.

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de maio, considerado sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), teve queda de 0,43% em relação a abril, informou o BC em dado dessazonalizado. A mediana das expectativas, segundo pesquisa feita pela Refinitiv, era de avanço de 1%.

Na comparação com o mesmo mês de 2020, o IBC-Br subiu 14,21%, apresentando no acumulado em 12 meses ganho de 1,07%, segundo números observados.

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O resultado de maio, contudo, mostra que a economia voltou a contrair depois de recuo do IBC-Br de 2% em março – quando interrompeu dez meses seguidos de ganhos.

Por outro lado, vale destacar, a alta de abril foi revisada com força para cima, a 0,85%, de ganho de 0,44% informado antes.

Para João Leal, economista da Rio Bravo, essa revisão para cima dos números de abril é um dos motivos para o dado de maio ter vindo mais fraco, já que a base de comparação estava mais alta.

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De qualquer forma, o dado da prévia do PIB do BC não deixou de decepcionar. “Os números destoaram bastante de outros indicadores de maio, principalmente produção industrial, varejo e serviços. Apesar desses dados terem vindo, principalmente indústria e varejo, abaixo das expectativas, ainda tiveram crescimento relevante no mês de maio”, aponta o economista.

A atividade industrial cresceu 1,4% em relação ao mês anterior, as vendas no varejo ampliado registraram um aumento considerável de 3,8% frente abril e o volume de serviços expandiu 1,2% na mesma base de comparação. Também destacando os dados como uma grande surpresa, Alberto Ramos, chefe de pesquisa econômica do Goldman Sachs para a América Latina, aponta ainda que os indicadores de sentimento do consumidor e das empresas e PMI de Manufatura e Serviços fortaleceram-se ainda mais em maio.

Para Leal, outros fatores que podem explicar a decepção com a atividade é a ainda não reabertura completa da economia, impactando ainda segmentos como saúde e educação e limitando o crescimento; além disso, a atividade também pode ter sofrido um impacto negativo com a desaceleração da agricultura, em meio à persistência da seca em algumas regiões produtoras no país, abalando a produção de diversos tipos de plantio.

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Com esse cenário no radar, o economista ressalta que, apesar de não ter no momento revisado a projeção do PIB para o segundo trimestre – mantendo projeção de alta de 0,4% frente os primeiros três meses de 2021 -, o viés é negativo. Por outro lado, para o ano como um todo, a projeção segue de alta de 5,4% da atividade econômica, em especial por avaliar que o segundo semestre deve apontar para uma recuperação bastante forte.

Os efeitos do IBC-Br devem ser de limitar novas revisões para cima da atividade, avalia. “O Focus, que tem mostrado alta nas projeções, deve pausar um pouco o processo. As revisões devem parar por enquanto, até serem divulgados mais dados da atividade nos próximos meses”, avalia o economista.

Ramos, do Goldman Sachs, destacou que o resultado fraco da atividade em maio não é representativo da força e ímpeto do ciclo empresarial. “Esperamos que a recuperação econômica avance nos próximos trimestres em conjunto com mais progresso (gradual) da vacinação contra a Covid, renovado estímulo fiscal, recuperação do consumidor e da confiança empresarial e cenário externo favorável”. Isso deve, no entanto, ser mitigado pelo aumento das taxas de juros, inflação alta,  ruído político persistente e incerteza política.

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Para Rodolfo Margato, economista da XP, os resultados do IBC-Br de maio precisam ser avaliados com bastante cautela, uma vez que o conjunto amplo de indicadores de atividade havia mostrado que a economia doméstica ganhou tração naquele mês. Ele destaca que houve flexibilização adicional das medidas restritivas de mobilidade e pagamentos de auxílio emergencial. Além disso, “as perspectivas para o segundo semestre são favoráveis. A forte retomada dos índices de confiança de empresários e consumidores aponta para aceleração no ritmo de crescimento da atividade local no terceiro trimestre”, completou ele à Reuters.

O Bank of America também aponta que a atividade deve mostrar melhora à medida que as restrições de mobilidade estão sendo suspensas devido à queda nos casos de Covid.

O setor de serviços, que foi o mais impactado pelas restrições recentes, deve continuar se recuperando, avaliam os economistas do banco americano. Além disso, a prorrogação do pagamento do auxílio emergencial até outubro deve continuar ajudando as vendas do varejo nesse período.

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No entanto, permanece a incerteza quanto à escassez de insumos, o que pode impactar negativamente a produção industrial.

Para o segundo semestre, o BofA aponta que o ritmo de recuperação deve acelerar com o avanço da vacinação permitindo uma reabertura total da economia, projetando assim crescimento do PIB em 5,2% neste ano.

(com informações da Reuters)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.