Puxado por combustíveis, IPCA deve mostrar aceleração em setembro, apontam economistas

Dado será divulgado amanhã às 9h e projeção do consenso Refinitiv é de 0,34%; El Niño e Guerra de Israel causam preocupações para dados futuros

Camille Bocanegra

Posto de combustíveis do DF (José Cruz/Agência Brasil)

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Na próxima quarta-feira (11), os olhares se voltam para o principal indicador a ser divulgado no cenário doméstico. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro terá seus números apresentados às 9h (horário de Brasília), com consenso Refinitiv de alta de 0,34% frente agosto (ante avanço de 0,23% no mês passado) e de 5,27% frente setembro de 2022. As projeções vão de 0,24% e 0,40% na base mensal e de 5,16% e 5,31% na comparação anual.

O Bradesco aponta que a inflação será puxada por combustíveis e passagens aéreas. A projeção do banco é de avanço de 0,32% na comparação mensal e 5,2% na base anual.

A visão do time de Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú BBA, é similar. “Esperamos que a inflação acelere para 0,35% (em comparação com 0,23% em agosto), com pressões ascendentes vindas dos preços regulados (especialmente a gasolina, após os recentes aumentos de preços da Petrobras PETR4)”, considera a equipe econômica do BBA.

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Para o acumulado de 12 meses, o BBA estima crescimento de 5,3%, em comparação com os 4,6% registrados em agosto. Na análise do banco, a base de comparação tornou-se mais baixa após cortes de impostos do ano passado.

Nos dados do núcleo da inflação, a expectativa é de desaceleração na margem, ainda que os preços de aluguel e taxas de condomínio apresentem elevação. O crescimento subjacente de serviços e industriais deve trazer, de acordo com o BBA, avanço de 3,6% e 2,3%.

Para o Bradesco BBI, na comparação mensal, deverá acontecer crescimento de 0,39%, um das mais altas projeções apresentadas. De acordo com o BBI, o consenso traz a estimativa de 0,37%.

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As projeções não se apresentam muito divergentes, com expectativa de 0,34% do UBS, que considera um crescimento no acumulado de 12 meses de 5,26%, Para a Eleven, o crescimento em comparação à setembro deverá ser de 0,36%, com avanço anual de 5,13%.

Entre os setores que a casa de análise estima maior alta, estão transportes (+1,71%) e habitação (+0,38%), enquanto os segmentos de alimentação e bebida (-0,55%) e artigos para residência (-0,41%) devem puxar o indicador para baixo.

“Em setembro, o índice será negativamente impactado pelo aumento nos preços de combustíveis, além de menor deflação em alimentação e bebidas”, considera a Eleven. A casa espera que o dado não impacte “o atual curso estabelecido pelo Banco Central, com manutenção do ritmo de redução de juros em 50 bps, com a Selic terminando o ano em 11,75%”.

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Na expectativa do C6 Bank, 2023 deve ser encerrado com inflação de 5,4% e, para 2024, a projeção final é de 5,5%. Na divulgação que acontecerá amanhã, o banco projeta alta de 0,35% na comparação mensal, com 5,27% no acumulado de 12 meses.

“Olhando os principais contribuidores do 0,35%, a gente ainda vai ver um impacto forte do aumento do preço da Petrobras, que aconteceu em agosto. A gente estima que esse impacto seja de 0,15% do IPCA e que a gasolina suba perto de 3%”, comenta a economista Claudia Morena, do C6 Bank.

Outros pontos destacados como responsáveis pela elevação do índice estão as passagens aéreas, diesel e a parte de energia. A alimentação, por sua vez, deve vir com deflação, tanto no domicílio quanto fora.

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“O que é importante ficar de olho nessa inflação é o número em si, que mexerá com a inflação acumulada em 12 meses, mas principalmente os núcleos da inflação, para observar se a média dos núcleos está mostrando a desaceleração”, explica Claudia. A economista destaca, também, como relevante observar a inflação de serviços, que tem se apresentado como resiliente ainda e que apresenta forte correlação com o mercado de trabalho.

Impactos de El Niño e guerra entre Israel e Hamas

Economistas ouvidos pela Reuters consideram que o impacto potencial do fenômeno El Niño, para a produção agrícola, pode ser fonte de preocupações para os próximos dados, assim como um provável aumento nos preços dos combustíveis pela guerra entre Israel e o Hamas.

Nesta segunda, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, considerou que a nova política de preços da estatal poderia ajudar a mitigar os efeitos negativos da alta do petróleo vista nos últimos dias. De acordo com especialistas, como Adriano Pires, diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), é possível esperar novos aumentos nos combustíveis a partir de semana que vem, se o conflito pendurar.

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Isso poderia manter as expectativas de inflação em patamar diferente do esperado pelo Copom para manter em curso o regime de cortes da Selic.

(com Reuters)