Produção industrial frustra expectativas e casas rebaixam projeções para PIB em meio a dados econômicos mais fracos

Alta da inflação, desaceleração econômica e juros mais altos têm levado economistas a revisarem estimativas diante de ambiente mais desafiador

Mariana Zonta d'Ávila

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A produção industrial de outubro, divulgada na manhã desta sexta-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), frustrou expectativas ao apresentar queda de 0,6% na base mensal e, na esteira de dados econômicos abaixo do esperado, economistas do mercado têm revisado para baixo suas projeções para atividade neste e no próximo ano.

Em relatório, a XP afirma que o resultado divulgado nesta sexta foi uma surpresa negativa, dado que a projeção da casa era de alta de 0,8% na comparação com setembro.

Para 2022, contudo, a XP espera uma redução gradual das interrupções na cadeia de suprimentos que bloquearam a produção de manufatura. A expectativa é de que a produção industrial total aumente em torno de 0,5% no próximo ano, após ter recuado 4,5% em 2020 e recuperado 4,3% em 2021.

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Segundo os economistas da casa, o processo de reposição de estoques deve impulsionar a produção em atividades como a indústria automotiva. Por outro lado, o desaquecimento da demanda doméstica decorrente de juros mais altos aliados a uma expansão “mais moderada” da economia global pode impedir que a indústria brasileira cresça de forma consistente no próximo ano, avaliam.

PIB zero em 2022?

Em meio à forte pressão inflacionária e desaceleração da economia, a XP cortou suas projeções de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2021, de 5% para 4,5%. Para 2022, a casa reduziu de 0,8% para 0% sua projeção de expansão do PIB, devido principalmente ao menor carrego estatístico deste ano.

“As pressões que levaram o IPCA acima de 10% em 2021 vão continuar, em menor escala, em 2022. Juros em alta e acomodação dos preços de energia ajudam na desinflação. Ainda assim, projetamos a inflação do IPCA em 5,2% em 2022, acima do teto do intervalo da meta”, escreve a XP.

O cenário mais desafiador também levou o Itaú BBA a reduzir, em novembro, suas estimativas para o crescimento da atividade econômica brasileira. O banco cortou suas estimativas para o PIB este ano de 5,0% para 4,7%, e manteve projeção de contração de 0,5% da atividade em 2022, devido à uma demanda contraída como uma reposta dos juros mais elevados.

Ontem, o Produto Interno Bruto (PIB) mostrou contração de 0,1% no terceiro trimestre de 2021 na comparação com o segundo trimestre. O indicador veio pouco abaixo do esperado. A expectativa de economistas consultados pelo consenso Refinitiv era de estagnação em relação ao segundo trimestre.

Na comparação anual, a economia cresceu 4%, abaixo da alta de 4,2% esperada.

Economistas têm frequentemente revisado para baixo suas estimativas para o PIB neste e no próximo ano. De acordo com o relatório Focus, do Banco Central, mais recente, o PIB deve ter expansão de 4,78, em 2021, e de 0,58%, em 2022.

Quarto trimestre ruim

Na avaliação de André Perfeito, economista-chefe da Necton, os dados da indústria divulgados nesta sexta já sinalizam um início de quarto trimestre ruim, que pode jogar para baixo a atividade este ano.

“A combinação de juros em alta e falta de um plano claro da administração federal tem cobrado um preço elevado na atividade no país e esta tendência deve continuar. Não há espaço para melhora no curto prazo”, avalia.

Segundo o economista, a atividade fraca deve segurar a alta de juros no país. A Necton manteve, por ora, a projeção de crescimento do PIB para 2022 em 0,3%.

Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, também avalia que a atividade industrial decepcionou em outubro.

Ele lembra que a indústria foi impactada, entre fevereiro e abril, pelo aumento significativo das infecções por Covid-19, pelos lockdowns em várias partes do país e que várias indústrias tiveram restrições de fornecimento de insumos e produtos intermediários, como chips no setor automotivo, por exemplo.

A flexibilização das medidas de isolamento social, a partir de abril, abriram caminho para um fortalecimento gradual da atividade industrial, destaca Ramos, mas nos últimos meses, a rotação do consumo de bens para serviços e pressões de empurrão de custos e fricções na cadeia de abastecimento adicionaram ventos contrários à atividade no setor de manufatura.

Várias montadoras pararam a produção devido à escassez no fornecimento de peças, principalmente semicondutores, lembra.

“Daqui para frente, espera-se que o setor industrial continue a enfrentar ventos contrários de condições financeiras mais apertadas (taxas crescentes), demanda fraca à medida que a inflação corrói a renda disponível real, fricções persistentes na cadeia de abastecimento (oferta limitada de semicondutores) e maiores custos de logística, energia e de outros insumos”, escreve o economista do Goldman Sachs.

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