Produção industrial cai 0,6% em abril, diz IBGE, mais que o esperado

Consenso Refinitiv previa retração de 0,2% no mês; queda ante abril de 2022 chegou a 2,7%, ante projeção de -1,1%

Roberto de Lira

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A produção industrial brasileira voltou a mostrar desempenho negativo em abril, após ter apresentado recuperação em março. Segundo dados divulgados nesta sexta-feira (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção caiu 0,6%, após ter subido 1,0% em março. Ante abril de 2022, o recuo foi de 2,7%.

O indicador veio acima do consenso Refinitiv de analistas, que apontava para retração de 0,2% na comparação mensal e de 1,1% na anual.

No ano, a queda acumulada chega a 1,0% e, em 12 meses, variação negativa está em 0,2%. Com esses resultados, a indústria ainda se encontra 2,0% abaixo do nível pré-pandemia (fevereiro de 2020) e 18,5% aquém do ponto mais alto da série histórica, observado em maio de 2011.

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Segundo o IBGE, 16 dos 25 ramos pesquisados mostraram queda na produção em abril. Segundo André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), diferentemente dos últimos três meses do ano passado, quando houve um saldo positivo acumulado de 1,5%, no início de 2023, houve em abril uma maior presença de resultados negativos. Esses 16 ramos industriais em queda significam o maior espalhamento de resultados negativos visto desde outubro de 2022.

Alimentos

As principais influências negativas no mês vieram de produtos alimentícios (-3,2%), máquinas e equipamentos (-9,9%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-4,6%).

O setor de produtos alimentícios registrou o quarto mês seguido de queda na produção, período no qual acumulou uma perda de 7,3%. “Antes dessa sequência de quedas o setor apresentou resultados positivos por três meses seguidos, gerando um ganho acumulado de 20,2%. Portanto, ainda é um saldo positivo”, ponderou Macedo em nota.

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Em abril houve grande influência negativa por parte da produção de açúcar. “Isso teve relação direta com um maior volume de chuvas, especialmente na segunda quinzena do mês, nas regiões produtoras de cana-de-açúcar da região Centro-Sul do país”, explicou. Por outro lado, ele afirmou que a retomada do crescimento de carnes de bovinos, após ser afetada pelas restrições de exportação para a China, atenuou a queda do setor.

Máquina e equipamentos

O setor de máquinas e equipamentos (-9,9%), por sua vez, eliminou o crescimento de 6,7% observado em março. Neste mês, houve queda disseminada nos seus principais grupamentos.

Veículos automotores, reboques e carrocerias teve queda de 4,6%, depois de apresentar variação nula nos meses de fevereiro e março. “Automóveis e caminhões, que são os itens de maior peso na atividade, tiveram queda na produção”, afirmou Macedo.

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Ele lembra que esse segmento é um exemplo dos efeitos da manutenção de taxa de juros em patamares mais elevados, por conta do encarecimento e da maior dificuldade na concessão do crédito. Taxas de inadimplência elevadas e o maior endividamento das famílias também afetam o setor e o total da indústria

Para além desses fatores, ele citou que permanece “a dificuldade na obtenção de componentes eletrônicos para o setor e, por conta disso, observa-se uma maior frequência de paralisações, reduções de jornadas de trabalho e férias coletivas.”

Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-9,4%), indústrias extrativas (-1,1%), bebidas (-3,6%), produtos de metal (-3,3%), outros equipamentos de transporte (-5,2%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-2,9%) também se destacaram negativamente.

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No sentido oposto, entre as nove atividades que apresentaram aumento na produção, o setor de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (3,6%) foi o que exerceu maior impacto positivo em abril. Trata-se do terceiro resultado positivo em sequência do setor, período em que acumulou crescimento de 6,3%.

Em relação às grandes categorias econômicas, ainda na comparação com março, os setores de bens de capital (-11,5%) e bens de consumo duráveis (-6,9%) mostraram taxas negativas em abril.

Já bens de consumo semi e não duráveis (1,1%) e bens intermediários (0,4%) registraram avanços no mês. Enquanto a primeira eliminou a perda de 0,6% acumulada na passagem de fevereiro para março, a segunda acumulou expansão de 1,8% devido a três meses seguidos de aumento na produção.

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Comparação interanual

Ante abril de 2022, a indústria recuou 2,7%, com resultados negativos em 18 dos 25 ramos pesquisados. As principais influências negativas vieram de produtos químicos (-12,2%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-9,7%) e máquinas e equipamentos (-14,3%).

Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-15,7%), metalurgia (-5,5%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-12,2%), produtos de metal (-8,7%), produtos de minerais não metálicos (-9,6%), bebidas (-7,2%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-9,9%) e produtos de madeira (-15,9%) também recuaram.

Pelo lado das altas, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (3,2%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (18,1%) foram responsáveis pelas maiores influências positivas.

Vale destacar também os resultados positivos dos ramos de produtos alimentícios (2,0%), de indústrias extrativas (1,4%) e de outros equipamentos de transporte (19,2%).