Primeira queda desde 1992, mas com sinais de retomada: o que o PIB mostra sobre a reação da China ao coronavírus

Ritmo de recuperação está sendo bastante diverso entre os setores e, apesar da retomada, ainda há muitos desafios a serem superados

Lara Rizério

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – A reação está acontecendo, mas o golpe foi duro – e a batalha continua. Essa é a avaliação para os dados do PIB da China do primeiro trimestre de 2020, que caiu 6,8% na base de comparação anual, refletindo a paralisação da economia pelo coronavírus.

Foi a primeira queda trimestral da atividade desde 1992, quando os números começaram a ser medidos. Apesar da baixa, o resultado surpreendeu positivamente as expectativas de mercado coletadas pelo Wall Street Journal, que previam contração de 8,3%, mas frustrou as expectativas coletadas pela Bloomberg, de queda de 6,0%.  Na comparação com os últimos três meses de 2019, o desempenho negativo foi de 9,8%.

Em meio ao esforço para deter a propagação do vírus, que deixou oficialmente mais de 4.600 mortos no país, foram adotadas medidas de confinamento sem precedentes no final de janeiro, o que paralisou a atividade econômica. O país vem retomando progressivamente o ritmo de atividades, mas ainda a passos lentos.

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O gigante asiático também divulgou outros dados que, conforme destaca a XP Investimentos, reforçaram a mensagem de que a atividade econômica chinesa continua em contração, mas em ritmo menor que nos dois primeiros meses do ano.

No primeiro trimestre de 2020, a produção industrial do país caiu 1,1% (versus expectativa de de queda de 7,5%), enquanto o investimento em ativos fixos caiu 16,1% (em linha com as projeções).
Além disso, as vendas no varejo sofreram uma queda de 15,8% na comparação anual de março (versus expectativa de baixa de 8%), enquanto a taxa de desemprego urbana ficou em 5,9% no período (versus 6,2% em fevereiro).

O Bradesco BBI reforça que, embora a atividade tenha começado a se recuperar ao longo de março, a economia chinesa ainda não voltou aos negócios como de costume, principalmente porque o surto continuou se espalhando por outras regiões do mundo (e pelos principais parceiros comerciais da China).

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A expectativa dos analistas do banco é de que a equipe econômica siga adotando políticas contundentes, como de corte de juros, para compensar o impacto do surto de coronavírus.

Por outro lado, ressaltam, um sinal mais positivo dos dados divulgados foi a produção industrial, que registrou um declínio muito menor do que o esperado e mostra uma estabilização da atividade. Do lado negativo, as vendas no varejo caíram muito abaixo.

Conforme apontou o porta-voz do Bureau Nacional de Estatísticas, Mao Shengyong, como o coronavírus está em pleno estágio de propagação mundial, a China “enfrenta novas dificuldades e desafios para reiniciar a atividade e a produção”. Além disso, apesar do processo de lenta reabertura, centenas de milhões de chineses seguem limitados em seus deslocamentos.

“Esperamos que ainda leve algum tempo até que a atividade econômica retorne ao normal, impactando a dinâmica do mercado”, avalia o Bradesco BBI.

Julian Evans-Pritchard, analista da Capital Economics, destaca que entre abril e junho há a previsão de que a China volte a crescer. Contudo, haverá aumento do desemprego, fraca demanda interna e condições econômicas difíceis no exterior que provocarão a queda nas exportações, um dos motores para a economia chinesa.

Além disso, o coronavírus tem enfraquecido pequenas e médias empresas privadas, mais dinâmicas em termos de emprego. Conforme avalia a consultoria Trivium China, 460 mil delas fecharam no primeiro trimestre.

Ritmo diferente

Baseados em dados de mais de 400 pequenas e médias empresas do gigante asiático, os analistas do Credit Suisse buscaram avaliar o nível de atividade das indústrias – e também a diferença entre elas.

As fábricas voltaram em março, mas o nível de utilização ainda esta longe de 100%, indicando um número próximo de 65%, comparado com 85% no segundo semestre de 2019. Contudo, eles apontam que a produção industrial, ao cair apenas 1,1% no primeiro trimestre na base anual, registrou um avanço bem significativo frente à baixa de 13,5% observada entre janeiro e fevereiro também na comparação com o mesmo período de 2019.

De qualquer forma, não se espera uma indústria muito forte com as quedas tanto na demanda doméstica quanto nas exportações.

Já com relação ao setor de consumo, a pesquisa realizada pelo Credit com mais de 800 pessoas indica uma baixa propensão das pessoas a aumentar gastos com delivery, jantares fora de casa e produtos discricionários.

“O nível de consumo per capita caiu 12,5% no primeiro trimestre. Assim, a expectativa é que tanto vendas no varejo quanto serviços trabalhem em um ritmo bem mais lento nos próximos meses”, afirmam os analistas.

Desta forma, a expectativa é de que a economia chinesa retome lentamente, ao mesmo tempo em que haverá uma grande disparidade na velocidade de recuperação dos setores, o que pode trazer sinalizações sobre como se dará a retomada em outros países.

No momento, para tentar dirimir o impacto na economia, a China realizou várias medidas fiscais e reduziu as taxas de juros, de forma a fazer com que os bancos passem a emprestar mais dinheiro às empresas.

Contudo, ainda há o questionamento sobre se essas medidas são suficientes e se o país não precisaria de um pacote de estímulos. Isso, porém, é descartado neste momento, em que a China planeja um saneamento de suas finanças.

Assim, apesar das estimativas ainda serem de crescimento da economia chinesa para esse ano, ele deve vir de forma bem mais modesta: o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetou crescimento de 1,2% este ano, antes de uma alta de 9,2% em 2021, com um cenário de recuperação da economia mundial.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.