Prefeitura do Rio aciona TCU por limite de passageiros no Santos Dumont

Para prefeitura, Anac usou de forma indevida um acórdão da Corte para buscar flexibilizar política que atraiu voos para o Galeão. Eduardo Paes afirma que vai se reunir em janeiro com o ministro de Portos e Aeroportos

Agência O Globo

Passageiros no aeroporto Santos Dumont, no Rio (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Passageiros no aeroporto Santos Dumont, no Rio (Fernando Frazão/Agência Brasil)

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A Prefeitura do Rio decidiu acionou o Tribunal de Contas da União ( TCU) contra a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), após reunião da agência com companhias aéreas para elevar o limite de passageiros do Santos Dumont, como antecipou o blog do colunista do Globo Lauro Jardim. Hoje, o terminal opera com limite de 6,5 milhões de passageiros por ano.

No fim de semana, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, já havia criticado nas redes o que chamou de “forças ocultas” se movimentando na agência para alterar a política de atuação coordenada entre os terminais, em vigor desde 2024, considerada responsável pela revitalização do Galeão. Esse modelo foi alcançado após negociação que envolveu autoridades fluminenses, a própria Anac e o governo federal.

Na avaliação da Prefeitura do Rio, a Anac usou de forma indevida um acórdão do TCU para justificar uma possível flexibilização do limite de passageiros no terminal no Centro do Rio. Em junho, o TCU aprovou acordo para reformular o contrato com a RIOgaleão, permitindo que ela continuasse na gestão.

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As mudanças incluem a troca de uma outorga anual pela adoção de um percentual de 20% sobre as receitas, que deverá ser repassado à União. O acordo na Corte afirma que um cronograma com estimativas de volume anual de passageiros será usado como referência para a revisão do contrato do Galeão.

Na decisão, o ministro Augusto Nardes, relator do processo no TCU, afirmou que o poder público não está vinculado aos limites citados no acordo, de 6,5 milhões de passageiros. Ou seja, o governo não tem obrigação de mexer no volume de passageiros permitido no Santos Dumont. “O MPTCU sugeriu que a questão das restrições no SDU (Santos Dumont) fosse tratada fora do acordo consensual, por meio de ato decisório do Ministério de Portos e Aeroportos”, diz o texto de Nardes.

O texto do relator esclarece que “inclui na modelagem econômico-financeira uma mera previsão para o final da limitação do SDU, com transição durante três anos”. E que essa opção não vincula o poder público a esse prazo.

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Segundo o blog de Lauro Jardim, o texto da Prefeitura, assinado pelo procurador-geral do município, Daniel Cervasio, afirma que o acórdão do TCU não autoriza a ampliação do fluxo de passageiros no Santos Dumont e apenas menciona cenários técnicos usados na “modelagem econômico-financeira da concessão”, sem impor qualquer diretriz de política pública. A Prefeitura pede que seja considerada como terceira interessada e solicita a intimação da Anac e do Ministério de Portos e Aeroportos para esclarecimentos.

Paes: ‘conversei com Lula’

Ontem, Eduardo Paes disse que vai se reunir com Silvio Costa Filho, ministro de Portos e Aeroportos, na segunda semana de janeiro para debater o tema. Em entrevista à CBN, o prefeito atribuiu o movimento a pressões do mercado. Ele lembrou que até 2023 o Galeão estava “esvaziado”. Após a medida, de janeiro a outubro deste ano, o Galeão registrou 14,6 milhões de passageiros, mais que dobrando os 6 milhões do mesmo período de dois anos atrás, segundo dados da RIOgaleão. O terminal será leiloado novamente.

— Há uma licitação marcada para o Galeão em março. É um processo que foi feito a partir de um acordo com o TCU. Toda empresa que quer vir para o Galeão precisa de segurança. Sem confiança na estabilidade do processo, é muito ruim. Conversei com o presidente Lula no domingo, que é o maior defensor dessa história, e ele se comprometeu a falar com o ministro Silvio. Falei com o ministro Silvio e ficamos de voltar a falar na segunda semana de janeiro para que esse processo fique bem esclarecido — disse Paes à CBN.

Na entrevista, o prefeito disse que há “interesses republicanos e econômicos”:

— O que há, obviamente, são pressões. A Infraero é uma empresa que tem no Santos Dumont a única forma de se sustentar, uma estatal. Por exemplo, você tem uma companhia aérea, a Latam, que tem o hub internacional dela no aeroporto de Guarulhos. É óbvio que, para eles, é muito mais interessante pegar todos os passageiros do Rio, colocar em um voo do Santos Dumont, fazer check-in, ir para Guarulhos e embarcar para o exterior, enquanto cariocas e nossos visitantes têm que ficar fazendo escala, baldeação em São Paulo, quando nós temos aqui o aeroporto internacional, que é o melhor do Brasil.

Procurada, a Latam não comentou.

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Pesquisa da Fecomércio RJ, feita pelo IFec RJ, constatou que 56,8% dos 1.609 passageiros entrevistados no Santos Dumont afirmaram que aceitariam embarcar no Galeão. Se as passagens fossem mais baratas no Tom Jobim, 19,2% usariam o terminal da Ilha do Governador, somando 76% que estariam dispostos a utilizar o aeroporto internacional.