Os principais riscos para a economia global em 2022, segundo a Eurasia

Estados Unidos e política de zero Covid-19 na China estão entre os maiores riscos; eleições no Brasil serão acompanhadas de perto

Mariana Zonta d'Ávila

Ian Bremmer, presidente e fundador da Eurasia Group (
Riccardo Savi/Getty Images)
Ian Bremmer, presidente e fundador da Eurasia Group ( Riccardo Savi/Getty Images)

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Em 2022, a palavra que irá ditar os principais riscos políticos é liderança – ou a falta dela. É o que mostra relatório da Eurasia Group com as principais perspectivas e pontos de atenção para os mercados este ano.

De acordo com Ian Bremmer, fundador e presidente da Eurasia, um dos principais riscos globais este ano recai sobre a perda de confiança no governo dos Estados Unidos.

“Os EUA é o país mais poderoso do mundo, o único capaz de projetar poder militar, econômico, diplomático e cultural em todas as partes do globo. É também o mais dividido politicamente e disfuncional, o mais desigual economicamente e o menos vacinado das democracias industrializadas do G7”, disse durante coletiva de imprensa virtual realizada nesta segunda-feira (3).

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Os olhares estarão voltados para as midterms (ou as eleições de meio de mandato) de 2022 que, segundo Bremmer, serão uma das mais importantes da história dos EUA.

As votações acontecerão em meio a alegações de fraude por democratas e republicanos, e vão marcar uma eleição presidencial em 2024 que Donald Trump, se concorrer, vencerá imediatamente ou tentará roubar, destaca o time.

“A votação deste ano não provocará em si uma crise, mas representa um ponto de inflexão histórico”, escreve a consultoria, em relatório divulgado nesta segunda.

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Bremmer destaca que os EUA não esteve presente na lista de principais riscos elencados pela consultoria na última década, o que traz uma mudança significativa em relação aos últimos anos.

“Não é que a democracia global está em crise. A maioria está bem, mas a dos EUA não está. O poder econômico, tecnológico, militar e cultural, por exemplo, segue crescendo, mas a habilidade dos EUA de acreditar no seu sistema político e de promover uma liderança internacional caiu de um penhasco”, afirmou.

Ainda que os EUA mereça uma atenção especial este ano, com o risco se intensificando no futuro, o principal destaque em 2022 recai sobre a política de zero Covid-19 na China.

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Na avaliação da Eurasia, a pandemia deve ser reduzida a uma condição de epidemia até o fim do primeiro trimestre nas economias mais desenvolvidas, graças a vacinas mais eficazes com mRNA. “Mesmo assim, a ressaca econômica da pandemia perdurará com cadeias de suprimentos interrompidas e inflação persistente”.

Na China, contudo, a situação tende a ser mais delicada, destaca a consultoria, devido à sua política de zero Covid-19, que no início de 2020 foi considerada eficaz, mas que agora, diante de uma variante mais transmissível, tem levado a lockdowns mais amplos e “vacinas menos eficazes”.

Mas há boas notícias. Segundo Bremmer, a pandemia de coronavírus tem se tornado epidemia mais rápido do que o esperado em diversos países desenvolvidos. E com a variante ômicron levando a casos menos graves, além do avanço da vacinação, isso deverá ser acelerado, diz.

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Há ainda a questão geopolítica envolvendo os Estados Unidos e a China, com ambas as economias focando mais em suas realidades econômicas domésticas do que em conflitos políticos.

O cientista político destaca também o bom estado de democracias ao redor do mundo, caso de Alemanha, Canadá e Japão, que tiveram eleições recentemente.

“Brasil não é para amadores”

No relatório divulgado nesta segunda, a Eurasia também destaca o ano de eleições presidenciais no Brasil, com as projeções de uma possível vitória de Lula desestabilizando os mercados – dadas suas promessas de maiores gastos públicos –, ao mesmo tempo em que “um Jair Bolsonaro desesperado desafiará a legitimidade das instituições democráticas do Brasil”.

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Segundo Bremmer, contudo, as preocupações de que a democracia no Brasil esteja em risco ou de que Lula faça uma virada radical para a esquerda que desencadeie uma crise de confiança financeira são ambas “exageradas”.

“A democracia do Brasil não está em risco. As instituições democráticas do Brasil são consolidadas e fortes. O Judiciário, governadores, congresso e a mídia são independentes”, diz.

Para o consultor político, é muito provável que Bolsonaro chegue a um segundo turno contra Lula. E, diante da perspectiva de derrota, “ele intensificará seus ataques aos tribunais, à mídia e ao próprio processo eleitoral do Brasil para manter sua base mobilizada e polir suas credenciais antiestabelecimento.”

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Já Lula terá uma virada pragmática na gestão econômica, avalia Bremmer, e a provável escolha de um companheiro de chapa de centro – o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin – é um sinal disso.

“Lula terá que cumprir promessas de mais gastos, mas vai compensar com impostos mais altos e uma nova regra fiscal”, aponta.

“Dada uma dívida e carga tributária muito altas, isso não é uma boa notícia. O resultado é um crescimento sem brilho e um terceiro mandato muito difícil. Mas o país não está caminhando para um colapso político ou econômico”, destaca a Eurasia.