O que se sabe sobre o risco de disseminação do coronavírus no Brasil

Em coletiva, Ministério da Saúde deu detalhes sobre o primeiro caso da doença no País e explicou como se prevenir e o que fazer em caso de sintomas

Rodrigo Tolotti

(Crédito: NIAID-RML)

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SÃO PAULO – Após a confirmação do primeiro caso de uma pessoa infectada pelo novo coronavírus no Brasil, o Ministério da Saúde atualizou nesta quarta-feira (26) as informações sobre a doença, afirmando que a partir de agora deve haver um aumento de casos no País.

O ministro responsável pela pasta, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que agora são 20 casos suspeitos no Brasil, 59 descartados, além do paciente confirmado com a doença. Do total de suspeitos, são 2 na região Nordeste, 2 no Sul e 16 no Sudeste, sendo 11 apenas em São Paulo.

Sobre o caso confirmado, trata-se de um homem de 61 anos, residente em São Paulo, que, segundo o Ministério, “traz o histórico de viagem para a Itália, na região da Lombardia (norte do país), a trabalho, sozinho, no período de 9 a 21 de fevereiro”. A Itália é o país europeu mais afetado pela doença.

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Na segunda-feira (24) o Ministério da Saúde ampliou os critérios para definição de caso suspeito para o novo coronavírus. Agora, também estão enquadradas dentro desta definição as pessoas que apresentarem febre e mais um sintoma gripal, como tosse ou falta de ar, e chegando dos seguintes países: Alemanha, Austrália, Emirados Árabes, Filipinas, França, Irã, Itália e Malásia. A lista já incluía, além da China, Cingapura, Coreia do Sul, Coreia do Norte, Camboja, Japão, Tailândia e Vietnã.

Mandetta explicou em coletiva de imprensa que agora o Brasil entra em uma nova etapa. “Passamos a uma nova fase de providências, no sentido de mitigar os efeitos da doença em SP e em todo Brasil […] Não muda muito com relação aos casos suspeitos, mas agora temos uma patologia confirmada”, afirmou.

Quem teve contato com o infectado

O ministro afirmou que o fato de ter sido confirmado um caso não irá alterar a forma como o governo está trabalhando com o novo coronavírus. O homem de 61 anos foi colocado em quarentena domiciliar e está sendo acompanhado de perto.

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Na coletiva, o ministro e os secretários explicaram que só será mantido em hospital o paciente em situação mais grave. Para o paciente confirmado, eles disseram que o isolamento domiciliar já é o suficiente e que mantê-lo no hospital aumenta o risco de infecção de novas pessoas.

Segundo Mandetta, a pessoa infectada que veio da Itália fez uma reunião de família no último domingo com cerca de 30 pessoas. Apesar disso, ele ressaltou que ninguém à princípio será colocado em quarentena, sendo que a única pessoa que está sendo observada com mais atenção é a esposa deste paciente, que deverá ser monitorada mesmo após os sintomas dele melhorarem.

Além disso, alguns passageiros do voo em que ele veio, que saiu de Paris, na França, deverão ser contactados de forma preventiva. De acordo com o ministério, as pessoas que estavam sentadas ao lado ou nas duas fileiras da frente e de trás (totalizando 16 passageiros) devem ficar em observação.

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A recomendação é que os passageiros entrem em contato com a companhia aérea e informem o quadro respiratório e o local em que viajaram para que se verifique a proximidade que estavam deste paciente.

Disseminação da doença

O ministro reforçou que ainda não existem todas as informações sobre o novo coronavírus, mas que estudos indicam que, para cada pessoa infectada. outras duas ou três também devem ser infectadas.

Além disso, até o momento, dentro de diversas pesquisas que já foram feitas, nota-se que o tempo de incubação da doença varia de zero a 14 dias, com média entre 8 e 10 dias. Por outro lado, ele destaca que é possível que algumas pessoas demorem mais para manifestarem os sintomas.

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Mandetta disse ainda que, diferente do H1N1 por exemplo, se nota que a faixa etária mais atingida está entre 40 e 69 anos e que a taxa de óbito está em 2,3%. A letalidade por faixa etária se mostra mais grave para quem está acima dos 60 anos.

Ele afirmou também que o número de casos suspeitos tende a aumentar no Brasil porque a lista de países de risco também está aumentando.

Quais providências serão tomadas

Mandetta ressaltou que nenhum procedimento será alterado nos aeroportos ou fronteiras. Segundo ele, não existe eficácia no cancelamento de voos porque não é possível saber se quem estava dentro do avião tem o vírus ou mesmo se ele passou por algum país de risco antes de pegar o voo para o Brasil.

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De acordo com ele, “essa é mais uma gripe que o mundo vai ter que atravessar”.

“Não tem como fechar fronteiras. É uma gripe. Como todo vírus, a medida de melhor controle é por etapas, é termos agilidade [no diagnóstico]”, disse Mandetta ressaltando que o sistema de saúde fez tudo com muita rapidez ao diagnosticar o primeiro caso.

“Estamos na fase de contenção, que é evitar que o vírus se espalhe. Caso se espalhe, vamos para a fase de mitigação”, completou o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Kleber de Oliveira.

Como se prevenir

Assim como já tem sido destacado por autoridades de saúde, o Ministério explicou que a melhor forma de prevenção é cuidar da higiene, principalmente lavando a mão com frequência (a cada três horas pelo menos), sendo que o uso do álcool em gel deve ser para quando a pessoa não conseguir lavar a mão.

“Vamos passar por essa situação investindo em soluções, ciência e informação. [A recomendação é] Higiene, evitar aglomerações desnecessárias, cuidados de etiqueta respiratória, o brasileiro precisa aumentar o número de vezes que lava a mão”, afirmou o ministro.

Outra recomendação é para na hora de tossir, cobrir a boca com o braço, na região entre o ombro e cotovelo ou usar um pano. Para o espirro, utilizar um lenço descartável ou usar o braço caso não tenha outra opção.

Sobre as máscaras cirúrgicas, que muitas pessoas já estão correndo atrás para comprar, a recomendação de uso é apenas para quem estiver com sintomas. Se você não estiver doente, não há motivo para utilizar a máscara.

Quem tem voo marcado

Com relação às pessoas que já têm um voo marcado, mesmo que para países que estão na lista de risco, o ministro evitou pedir para que elas cancelem a viagem, sugerindo a “regra do bom senso”.

“Vale a regra do bom senso. Se não for necessário, espera para a gente ver como isso [a epidemia] se comporta. Mas também não podemos parar a vida porque existe uma gripe, um vírus, uma síndrome respiratória. Isso vai continuar acontecendo”, disse o ministro.

Para quem está apenas planejando, Mandetta sugeriu o adiamento exatamente para evitar uma exposição desnecessária. O pedido para não viajar foi feito para quem já está com algum sintoma.

“Se tem sintomas, como febre e tosse, não viaje. Se viajou mesmo assim, informe as autoridades de saúde quando chegar. Se não tem sintomas e vem de áreas com casos de coronavírus e ainda não se passaram 14 dias da viagem, procure uma unidade de saúde”, alertou.

Quais os sintomas

A doença Covid-19, causada pelo novo coronavírus, tem entre seus principais sintomas a tosse seca, febre e cansaço, segundo a OMS. Apesar disso, alguns pacientes têm também dores no corpo, congestionamento nasal, inflamação na garganta ou diarreia, normalmente de forma leve.

O que fazer em caso de sintomas

O ministro da Saúde destacou que, caso a pessoa sinta algum dos sintomas acima, deverá procurar um posto de saúde, evitando neste trajeto o uso de transporte público, dando preferência para carro particular.

Além disso, é preciso informar os agentes de saúde caso tenha ido para algum país de risco ou mesmo tenha tido contato com uma pessoa que tenha viajado para estas áreas.

Para se chegar a um diagnóstico, são retiradas duas amostras do paciente, uma que será analisada pelo hospital e outra que irá para algum instituto central, como a Fundação Oswaldo Cruz (RJ), Instituto Evandro Chagas (PA) ou Instituto Adolfo Lutz (SP), para ser a contraprova.

O teste será primeiro feito para detectar os tipos tradicionais de influenza. Caso dê positivo, o Covid-19 é descartado, em caso de negativo será aplicado o teste específico para o novo coronavírus. No paciente de São Paulo, tudo isso foi feito e comprovado em questão de horas.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.