Leilão de transmissão ajuda a alavancar a expansão de energias renováveis, diz Absolar

Associação do setor diz que conjuntura atual para a geração centralizada é de investimentos seletivos, visando contratos de longo prazo

Roberto de Lira

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Leilões de transmissão como o que a Aneel vai realizar nesta sexta-feira (30) são essenciais não só para permitir que se aproveite toda a energia gerada pelo parque produtor de energias renováveis, especialmente a solar, como também para alavancar a expansão de investimentos no setor. E isso é ainda mais importante num momento desafiador quando vários fatores conjunturais e legislativos e podem atuar como inibidores de investimentos.

O leilão organizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica negociará nove lotes de projetos de construção e manutenção de 6.184 quilômetros de linhas de transmissão, com R$ 15,7 bilhões em investimentos previstos. Dois deles envolvem diretamente o escoamento de parques geradores de energia solar.

Ricardo Barros, vice-presidente de geração centralizada da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) diz que o leilão, na prática, traz capacidade de aproveitar todo o potencial de energia renovável. “Há dois anos, havia um gargalo de rede e o parque gerador não podia gerar toda a capacidade. Então os leilões permitem que toda a energia gerada seja usada”, afirmou.

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Barros diz que vê a demanda crescendo no longo prazo, independentemente do ritmo de crescimento da economia ser de 2% ou mais, conforme algumas projeções. “Isso pela própria eletrificação de setores não eletrificados, como o hidrogênio verde, e a eletromobilidade, que precisa ser suprida por energia renovável. Nesse contexto, precisa de linhas de transmissão”, explica Barros, que elogiou o programa de leilões brasileiro como um exemplo no mundo.

O representante da Absolar diz que a energia fotovoltaica já provou ser a mais competitiva que existe no Brasil. “O consumidor de indústria, comércio e residencial quer claramente uma pegada renovável, com toda questão do ESG, quer limpar a cadeia de carbono. Quando vem da energia mais competitiva do mercado, isso é imbatível”, afirmou.

Mas ele reconheceu que o mercado atual está “um pouco travado”, sem tantas novas operações acontecendo. Isso, segundo ele por algumas inseguranças, como a discussão de projetos no Congresso, dúvidas a respeito da Reforma Tributária e a conjuntura de preços mais baixos no mercado de energia do que os observados há dois anos.

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Mesmo assim, há grandes consumidores que estão pensando no longo prazo e fechando contratos mais extensos, entre 10 e 20 anos, em valores mais altos que o atual, alguns em dólar. “Na geração centralizada, é um momento de negócios seletivos. E os que estão acontecendo são em função dos contratos de longo prazo”, explicou.

Já na geração distribuída, a demanda caiu devido à mudança na legislação, que tirou subsídios, o que deixou os consumidores mais retraídos.

Essa questão sobre os subsídios do setor são um tema muito debatido atualmente. Para o presidente da consultoria Thymos Energia, o volume de subsídios do setor de renováveis é imenso. “Todo mundo gosta de um subsídio para chamar de seu, mas acontece que eles (o setor de renováveis) atingiram um tal nível de competitividade que os subsídios não fazem mais sentido”, defendeu.

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A Absolar no entanto, afirma que devem ser reconhecidos também os benefícios trazidos pelo setor e não apenas observados os custos. Pelas contas da associação, a fonte solar já trouxe ao Brasil mais de R$ 100 bilhões em novos investimentos, mais de R$ 27 bilhões em arrecadação para os cofres públicos e gerou mais de 600 mil empregos desde 2012. Isso sem contar o ganhos ambientais, tento evitado a emissão de 28,4 milhões de toneladas de CO² na geração de eletricidade até o ano passado.

“É preciso reconhecer os custos e os benefícios. E nem sempre fazem isso. Temos muito a contribuir na reindustrialização do Brasil. A energia solar é uma espécie de indústria de base, com energia elétrica competitiva”, afirmou Barros.