AES Brasil + Auren tem clara ganhadora na B3 – mas ambas colherão frutos com união

Enquanto analistas veem AES ganhando na Bolsa por conta dos termos da operação, Auren tem uma matemática mais complicada, apontam analistas

Lara Rizério

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O comprador para a operação brasileira da AES (AESB3) chegou. A Auren (AURE3) anunciou na noite da última quarta-feira (15) uma proposta de fusão de suas atividades com a AES Brasil a um preço implícito de R$ 11,55 por ação, um prêmio de 18% sobre o preço das ações da AESB3. O desempenho das ações no pregão desta quinta-feira (16) mostrou claramente a vencedora na Bolsa: a AESB3 fechou com disparada de 13,80% (R$ 11,13), enquanto AURE3 caiu 1,66% (R$ 11,83).

A proposta oferecia aos acionistas da AESB três opções envolvendo caixa e ações (opção 1: 90% ações e 10% caixa; opção 2: 50% ações e 50% caixa; opção 3: 100% caixa). A AES Corp., acionista controladora da AES Brasil, já aderiu à opção 3, enquanto a Votorantim (uma das controladoras da Auren – e detentora de 4,1% de participação na AES Brasil) aderiu à opção 1.

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Para a XP, a companhia combinada, com 8,8 GW (gigawatts) de capacidade instalada, grandes ativos hídricos localizados no estado de São Paulo e ativos eólicos e solares na região Nordeste, pode colher sinergias operacionais e corporativas substanciais.

Do lado operacional, a AES Brasil ainda possui parques eólicos com disponibilidade relativamente baixa (88,5%), que podem ser recuperados para níveis próximos a 93-94%. Outro ganho potencial pode advir dos portfólios combinados de energia de ambas as empresas, especialmente no que diz respeito à capacidade hídrica não contratada da AES. Além disso, haverá economia de impostos relacionados à amortização do ágio e ao uso do prejuízo fiscal corrente. Em relação às sinergias financeiras, a nova empresa combinada pode se beneficiar de benefício fiscal. Além disso, o custo da dívida da AES (IPCA médio + 5,9%) é significativamente maior que o da Auren (IPCA + 4,4%).

A XP vê o negócio alinhado com a estratégia da Auren, com sinergias operacionais, de portfólio de energia e tributárias significativas a serem obtidas. “No entanto, a alavancagem deve aumentar significativamente com o negócio”, aponta a equipe de análise, de forma que está reavaliando as suas estimativas e revisando o preço-alvo da Auren para refletir o negócio.

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A Genial vê o evento como positivo, mas principalmente para o acionista da AES Brasil. Tal evento deve destravar um prêmio próximo a 18% em relação ao preço de fechamento do dia 15 de maio para AESB3 se considerada a proposta que envolve o pagamento 100% caixa da operação (o preço-alvo da Genial é de R$ 11,70 por ação versus a proposta em caixa de R$ 11,55 por ação na proposta da Auren).

A casa de research vê que a base acionária da AES Brasil tem a chance de migrar para um case que julga muito mais interessante que o da empresa como ele é hoje, que possui metade da sua capacidade instalada com concessões com prazo remanescente razoavelmente curtas (cerca de 50% da capacidade instalada da empresa termina em 2032) e um alto endividamento limitando o pagamento de dividendos, novas aquisições ou a entrada em novos projetos.

Além disso, os ganhos aos acionistas da AES Brasil não devem se limitar ao prêmio inicial de 18%. “Afinal de contas, a nova empresa a ser formada tem uma série de sinergias a serem apropriadas e de todos os demais benefícios da nova empresa que se forma, incluindo dividendos, crescimento, desalavancagem, entre outros. Entretanto, a operação não deve ocorrer sem grandes desafios, principalmente para o acionista da Auren”, avalia a Genial.

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Também na visão do JPMorgan, a AES Brasil é a clara vencedora na combinação de negócios com a Auren, mas esta última tem muitos frutos para colher – “vemos o negócio como um ganho mútuo para ambas as empresas”, avalia. O banco ressalta ainda que AESB3 eventualmente será deslistada da Bolsa.

Enquanto os termos da operação são mais claros para a AES, a matemática é mais complicada para a Auren. Apesar do prêmio claro para a AESB3, precisariam ser levados em consideração vários fatores de extração de valor para a Auren, tais como sinergias operacionais, benefícios fiscais, utilização de créditos fiscais e ganhos de escala.

“No geral, acreditamos que o acordo será neutro a ligeiramente agregador para AURE3 e reiteramos nossa classificação overweight [exposição acima da média, equivalente à compra] para o nome. AURE3 está sendo negociada atualmente a uma TIR [Taxa Interna de Retorno] implícita de 12,8% real, enquanto a AESB3 ao preço de aquisição tem uma TIR patrimonial de 7,4%”, avalia o JPMorgan.

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Com base nas opiniões dos investidores sobre as ações e no diferencial inicial de TIR entre os dois, o banco projetou, em relatório antes da abertura do mercado, que a reação dos investidores nesta quinta seria positiva para AESB3 e negativa para AURE3, o que se concretizou. “Mesmo assim, a nossa análise financeira e económica aponta para alguma criação de valor para AURE3, motivo pelo qual recomendamos uma compra em meio a uma possível fraqueza das ações”, apontou.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.