Publicidade
A divulgação do IPCA de julho, feita nesta terça-feira pelo IBGE, seguiu o roteiro das anteriores: a variação do índice oficial de inflação veio abaixo da estimada pelo mercado, puxada por alimentos e pela apreciação do real ante o dólar. No entanto, embora esteja desacelerando, o índice acumulado em 12 meses continua bem acima da meta buscada pelo Banco Central, com os preços dos serviços e os núcleos ainda pesado. Com isso, permanece entre os economistas a recomendação de um Copom cauteloso e de manutenção da taxa de juros.
O índice cheio do mês mostrou de 0,26% em julho, bem abaixo do consenso do mercado e também de algumas casas de investimentos, que previam um IPCA de até 0,36% ante junho. No acumulado de 12 meses, o indicados de inflação recuou de 5,35% para 5,23% em um mês – ainda distante da meta de 3% anuais perseguida pela autoridade monetária.
Os maiores alívios vieram dos grupo de Alimentação e Bebidas (-0,27% no mês) e Vestuário (-0,54%), enquanto as pressões de alta , que recuou 0,54%.
Já as pressões de alta estiveram concentradas em Habitação (+0,91%), com os preços do grupo puxados pelos reajustes de energia elétrica de vária capitais; e de Despesas Pessoais e Transportes (0,76% e 0,35%), nesses casos puxados pelo reajuste da loterias e pela alta das passagens aéreas na alta temporada.
Para André Valério, economista sênior do Inter, o resultado de julho foi sido uma surpresa positiva e, embora o dado de hoje tenha pouca influência no curto prazo, dará mais tranquilidade para o Copom para as próximas reuniões.
“Em agosto deveremos observar deflação do índice, influenciado pelo bônus de Itaipu, o que contribuirá para manter a atual tendência de desaceleração da inflação. No entanto, o início do ciclo de cortes ainda depende de uma sinalização mais clara de que a política monetária restritiva esteja impactando a atividade real”, comentou em nota.
Continua depois da publicidade
Ele também disse que há sinais nítidos de acomodação da atividade e no crédito, o que deve levar a um crescimento menor do PIB no 2º trimestre. “Mantemos a visão de que o Copom inicie o ciclo de cortes na reunião de dezembro, com um corte inicial de 50 pontos base.”
Industrializados x serviços
Ao avaliar a média de núcleos de inflação, Leonardo Costa, economista do ASA, considerou que o balanço foi misto, com qualitativo pior nos serviços. “A inflação de bens industrializados também tem surpreendido para baixo, provavelmente efeito da valorização do câmbio em 2025. Por outro lado, os serviços seguem em patamar elevado, com desaceleração mais modesta na comparação da média móvel de 3 meses (6,1% em julho)”, comparou.
Igor Cadilhac, economista do PicPay, reforçou essa visão, ao destacar que, com exceção dos serviços, todas as demais medidas vieram melhores do que as projeções. “No entanto, como os serviços subjacentes representam uma das principais métricas qualitativas, o resultado deve ser interpretado com cautela. Mantemos a avaliação de que ainda é necessária uma política monetária restritiva, com a Selic permanecendo em 15% até o final do ano”, recomendou.
O PicPay mantém a projeção de inflação de 5,1% em 2025 e segue observando um balanço de riscos equilibrado, com efeitos líquidos desinflacionários da guerra tarifária. “O câmbio permanece relativamente comportado e as expectativas vêm melhorando persistentemente. Além disso, os dados correntes indicam uma dinâmica mais positiva. Apesar disso, o quadro permanece significativamente pressionado”, alertou Cadilhac.
Gustavo Rostelato, economista da Armor Capital, por sua vez, comentou que a composição do IPCA manteve a dicotomia observada recentemente: enquanto bens industriais e alimentação no domicílio contribuíram com deflação, serviços e itens subjacentes permaneceram em patamares elevados. “Ainda assim, a média dos núcleos ficou em 0,26%, abaixo das projeções. Em linhas gerais, o resultado traz algum alívio para o Copom, mas ainda evidencia pressões nas categorias inerciais”, disse.
Prudência
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, concorda que a convergência da inflação para a meta ainda demanda prudência e firmeza do Banco Central. “A ata do último Copom registrou surpresas baixistas frente às projeções de mercado, mas a inflação de serviços segue elevada e os núcleos permanecem acima do nível compatível com a meta, sinalizando pressão de demanda e a necessidade de manter a política monetária contracionista por um período prolongado”, afirmou.
Continua depois da publicidade
Na visão de Claudia Moreno, economista do C6 Bank, os dados do IPCA de junho e julho mostraram algum arrefecimento da inflação, mas ela alertou que esse movimento deve ser temporário.
“Ainda que a queda nos preços das commodities e o enfraquecimento do dólar possam estar aliviando a pressão sobre os alimentos e os bens industriais, fatores domésticos, como o mercado de trabalho bastante aquecido e um provável câmbio mais depreciado, segundo nossa projeção, devem continuar pesando sobre a inflação brasileira”, comentou.
A estimativa o banco é de que o IPCA chegue ao final de 2025 em 5% e termine 2026 em 5,7%. “Os números do IPCA não alteram nossa expectativa de que o Comitê de Política Monetária deve manter os juros estáveis nos próximos meses. Nossa projeção é de que a Selic permaneça em patamar elevado por bastante tempo, mantendo-se em 15% até o final de 2026.”
