IPCA-15 fica em linha com o esperado – mas um fator gera dúvidas sobre novos cortes de juros pelo BC

Núcleos da inflação aparecem pressionados, fazendo com que economistas prefiram aguardar por mais dados para cravarem ou não um novo corte da Selic

Lara Rizério

(Raphael Ribeiro/BCB)

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SÃO PAULO – O IPCA-15, apresentado na manhã desta quinta-feira (23), ficou em linha com as expectativas dos economistas consultados pela Bloomberg ao subir 0,70% em janeiro na base de comparação mensal. O indicador registrou uma desaceleração frente à alta de 1,05% na medição anterior principalmente por conta da alta menos expressiva da carne.

Porém, ao fazer uma leitura mais atenta do dado, alguns economistas apontaram surpresas que podem trazer mais dúvidas sobre o ritmo de cortes de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que terá a sua próxima reunião para definir a Selic no dia 5 de fevereiro. Atualmente, a Selic está em 4,5% ao ano.

Afinal, se a alta dos preços das carnes foi de 17,71% de novembro para dezembro para avanço de 4,83% em janeiro e ajudou o índice a desacelerar (apesar de ter sido a maior contribuição individual para a alta do índice, com 0,15 ponto percentual), a inflação dos principais núcleos apresentou uma variação de magnitude mais elevada.

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A média dos sete principais núcleos de inflação acelerou para 0,44%, de 0,41%, ao invés de mostrarem moderação. Os núcleos são especialmente levados em consideração pelo BC, uma vez que procuram captar a tendência dos preços desconsiderando distúrbios resultantes de choques temporários.

Assim, o dado acende um sinal inicial de alerta de que a inflação pode não ser tão benigna quanto observado nos últimos anos em virtude do maior aquecimento do mercado de trabalho e atividade econômica.

Conforme ressalta Alberto Ramos, economista-chefe do Goldman Sachs para a América Latina, as pressões recentes nos núcleos e em serviços no IPCA-15 devem, provavelmente, levar o Copom a analisar cuidadosamente dados futuros com o objetivo de determinar se o custo-benefício de cortes de juros moderados adicionais no primeiro trimestre está garantido.

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Neste cenário, reforça Felipe Silveira, analista da Capital Research, será preciso observar os próximos indicadores para formar um consenso (se é que ele será formado) para a reunião do Copom. “O IPCA completo de janeiro, no entanto, não será um deles, já que deve ser divulgado apenas no dia 7 de fevereiro”, avalia.

Com isso, os investidores devem ficar atentos aos dados de atividade, que frustraram as expectativas em novembro, como os dados de produção industrial, varejo e serviços. “Uma nova frustração em dezembro deve levar as apostas a se consolidarem em um corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros”, afirma Silveira. Ao mesmo, os investidores devem observar o preço do petróleo no mercado internacional e o câmbio por aqui, fatores que têm muito impacto na expectativa para inflação.

Assim, se o tom é de cautela para alguns economistas, para outros a inflação não é algo preocupante. A equipe de análise econômica do Bradesco reforça que, enquanto o IPCA-15 de janeiro ainda repercute por conta do efeito no aumento dos preços da carne (como impacto da alimentação fora de casa), a maior parte dos efeitos parece estar desaparecendo. “Em nossa opinião, isso está alinhado com o nível de capacidade ociosa e a atividade econômica, que acelera, mas a passos lentos”, afirmam os economistas do banco.

Eles reforçam que o IPCA para 2019 foi de 4,31% em 2019, ligeiramente acima do centro da meta do Conselho Monetário Nacional (CMN), mostrando que uma postura mais cautelosa em relação à política monetária é uma boa decisão quando as taxas de juros já estão nas mínimas históricas.

A expectativa do Bradesco é do IPCA em 3,7% para 2020, confortavelmente abaixo da média de 4% ao ano: “com a atividade econômica provavelmente ganhando força a um ritmo lento ao longo do ano, ela ainda não deve ser um problema para inflação este ano”.

A tranquilidade com a inflação também foi destacada por Roberto Campos Neto, presidente do BC, em entrevista durante a tarde para o Valor Econômico. Campos Neto apontou que a inflação mais alta que o esperado em 2019 não influenciou tendência dos preços e que, apesar de alta, os núcleos da inflação ficaram estáveis e o aumento do preço das carnes está diminuindo.

Essas falas levaram os principais contratos de juros futuros, que abriram em alta com o IPCA-15, a diminuírem os ganhos.  “O mercado hoje reagiu negativamente ao IPCA-15, que trouxe um número pior qualitativamente, em núcleos e serviços. Mas voltou bastante depois que presidente do BC desqualificou a piora dos núcleos e disse que o choque de oferta é passageiro”, destacou Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, em entrevista à Bloomberg. “Acho que foi um recado de que há espaço para corte de 0,25 pp“, apontou ainda, ao destacar, contudo, que não acha que o BC deveria reduzir a Selic neste momento.

Assim, os próximos dados serão cruciais para definir se haverá corte de juros na próxima reunião do Copom – por enquanto, a porta ainda está bastante aberta.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.