IPCA de outubro mostra demanda aquecida no final do ano, mas não deve alterar rumos do BC, dizem analistas

Núcleos da inflação e índice de difusão mais alto colocam mais elementos de risco, mas postura "vigilante" do BC deve prevalecer

Roberto de Lira

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O início do período de consumo sazonalmente mais forte no último trimestre do ano, somado ao impacto ainda relevante do pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600 ,mantiveram a demanda aquecida e foram os principais fatores que levaram o IPCA de outubro a uma alta de 0,59% na comparação mensal. Para analistas, apesar do risco de um carrego maior de inflação para o início de 2023, o indicador não deve mudar a linha de comunicação do Banco Central, que tem evitado antecipar movimentos de queda de juros.

Ariane Benedito, economista e especialista em mercado de capitais, comentou que é comum observar um crescimento da inflação no período entre outubro e dezembro, com itens de consumo como alimentação fora do domicílio e os grupos de vestuário e de viagens apresentando maior demanda nesses meses.

Assim, ela acredita que os dados anunciados hoje pelo IBGE vieram em linha com o esperado. Ela alerta, no entanto, que indicadores como os núcleos da inflação e o índice de difusão – que mostra a quantidade de itens dentro do IPCA que apresentaram inflação – apontam para uma continuidade de alta nos preços para os meses à frente. “Dão um sentido altista para a inflação”, comenta.

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“Esse movimento nos grupos de vestuário, turismo (onde estão as passagens aéreas) e até de transportes devem continuar com os choques de alta. Em contrapartida, despesas pessoas e de educação, que também são sazonais, diminuem esse movimento no final do ano”, pondera, destacando que os dois últimos tendem a pressionar novamente entre janeiro e fevereiro.

BC vigilante

Ariane observa que o principal impacto em outubro ainda veio do pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600 iniciado em setembro. Ele alerta que a manutenção desses valores no ano que vem, que vem sendo negociada pela equipe de transição do novo governo Lula, tende a acrescentar um risco inflacionário para o horizonte relevante do Banco Central. “Deixa de ser complemento de renda e vira um adicional na mão da população brasileira. Isso impacta no curto prazo e carrega a inflação para o horizonte de 2023 e 2024”, comenta.

Ela não vê possível mudança de postura do Comité de Polícia Monetária (Copom) porque nas última três reuniões, a diretora do BC já sinalizou para o mercado não se animar muito com um possível corte na Selic. “O BC deu um cartão amarelo para a inflação no curto prazo. (O corte de juros) vai depender mais do fiscal”, afirma.

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Rafaela Vitoria, economista chefe do Banco Inter, concorda com essa visão. Ela acredita que a alta do IPCA em outubro serve de alerta que inflação ainda não está totalmente controlada. “Para a política monetária ter efeito mais eficiente, é importante ser seguida de um fiscal também mais contido”, recomenda.

Em relatório divulgado nesta manhã, a XP comenta que a surpresa no IPCA ficou concentrada nos preços de combustíveis veiculares e higiene pessoal. Por outro lado, os serviços apresentaram variação abaixo do esperado, com destaque para os serviços básicos, que desaceleraram no mês (de 0,61% para 0,36%).

A XP também cita o índice de difusão, que subiu de 62% para 68%, e os núcleos médios de inflação, que passaram de 0,41% para 0,55%.

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“No geral, apesar da surpresa ascendente, o detalhamento foi bom. O resultado de hoje adiciona um viés de alta à projeção do IPCA para 2022, após incorporar a inflação mais alta de outubro, bem como a projeção mais alta para novembro, devido aos preços mais altos dos combustíveis”, analisa o relatório XP Macro.

Ainda segundo o relatório, o Black Friday e a melhor dinâmica dos serviços podem compensar parte desse aumento no mês, além de colocar uma perspectiva mais benigna para 2023. “Para o ano, projetamos o IPCA em 5,6%”, prevê.

Pressão de alta

Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, diz que os aumentos verificados em Alimentação e Bebidas, Vestuário, Saúde e cuidados pessoais, refletiram o aquecimento da economia, incentivado pelos auxílios que foram concedidos a população e que isso deve pressionar ainda mais a inflação em novembro.

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“Principalmente em dezembro, com as festas de fim de ano e Copa, podemos ver ainda mais pressão na inflação nos próximos meses. O período da deflação definitivamente terminou em 2022, o que deve levar a inflação do ano fechar próxima a 8%”, estima.

Ele também não acredita que BC altere o cenário atual de manutenção de taxa de juros, a não ser que algum acontecimento de projeção maior cause algum grande impacto. “Por enquanto, o BC deve manter a taxa de 13,75 % em sua próxima reunião. Ainda que o comitê se mostre atento aos próximos números de inflação, não há sinalização de qualquer mudança de trajetória”, afirma.

O Itáu considera que, apesar da concentração dos aumentos em outubro ter ficado em administrados, a composição do dado segue benigna, com o núcleo subjacente para serviços e industriais desacelerando dos picos recentes. “Projetamos alta de 5,5% no IPCA em 2022, com viés altista em função da pressão de preços no atacado de alguns alimentos in natura e alta recente preços de combustíveis na bomba”, diz em relatório.

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Para Luca Mercadante economista da Rio Bravo, os dados do IPCA voltaram a representar um sinal ruim para a dinâmica de inflação. “A volta do IPCA para terreno positivo já era esperada, entretanto, tivemos uma elevação dos preços acima das expectativas e com um qualitativo ruim. Núcleos voltaram a acelerar, serviços se mantiveram pressionados, bem como bens industriais”, comenta.

“O resultado justifica, mais uma vez, a postura vigilante do Banco Central, entretanto ainda não antevemos mudanças nos rumos da política monetária para os próximos meses”, diz Mercadante.