IPCA acelera além do esperado e economistas esperam um BC mais atento ao choque inflacionário de 2021

Aperto monetário pode precisar ser maior para lidar com uma pressão como a atual enquanto a atividade econômica cresce

Ricardo Bomfim

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – O aumento de 0,83% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acima dos 0,71% esperados de acordo com dados compilados pela Refinitiv e da alta de 0,31% em abril, aumentou a preocupação dos investidores com a condução da política monetária pelo Banco Central este ano.

A inflação em 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já chegou a 8,06%, e o choque temporário de que tanto falam as autoridades do BC pode se desenvolver de modo um pouco diferente daquele traçado nos últimos comunicados do Comitê de Política Monetária (Copom).

Os economistas Solange Srour e Lucas Vilela, do Credit Suisse, revisaram suas projeções para o IPCA em 2021 de alta de 6,0% para 6,3% em 2021. Vale destacar que o centro da meta, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3,75% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é de 2,25% e o superior de 5,25%.

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Eles ressaltam que o dado maior que o projetado de maio se deveu a produtos industriais, que são muito sensíveis à taxa de câmbio e à cotação das commodities, e em serviços, que são mais inerciais e correlacionados com o desempenho da economia.

“Serviços devem ter um repique nos próximos meses devido ao relaxamento nas medidas de restrição à mobilidade e à recuperação econômica. Além disso, o núcleo da inflação já mostra sinais de uma dinâmica inflacionária menos benigna em itens que são menos voláteis”, escrevem em relatório.

Apesar de terem elevado suas projeções para a inflação no ano, os economistas não alteraram suas perspectivas para a taxa básica de juros, Selic, que ainda enxergam sofrendo elevações até chegar em 6,5% em outubro.

“Este é o nível neutro de juros, mas reconhecemos que os riscos aumentaram para a política monetária ser elevada para além deste patamar”, explicam.

Para Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, as intensas e cada vez mais disseminadas pressões inflacionárias, somadas a uma performance mais resiliente do que esperada da economia e aos prováveis novos estímulos fiscais devem levar o Banco Central a continuar a normalizar a política monetária e possivelmente antecipar e acelerar o caminho para a neutralidade dos juros.

Entretanto, Ramos admite que a apreciação recente do real, que levou o dólar a perto de R$ 5,00, reduziu um pouco das pressões no âmbito cambial.

“Acima de tudo, a dinâmica recente da inflação requer monitoramento mais próximo e justifica-se maior redução do nível atual de acomodação monetária, particularmente num cenário em que a dinâmica de crescimento tem surpreendido favoravelmente o consenso de mercado”, explica.

Em relatório, os economistas David Becker e Ana Madeira, do Bank of America (BofA), escrevem que a inflação brasileira deve continuar acima de 5,25% (o teto da meta do BC) ao longo de 2021. O banco projeta que o IPCA acumulado deste ano seja de 5,90%, havendo uma desaceleração maior a partir de junho, após a inflação de maio acumular alta de 8,06% em doze meses.

Na opinião dos economistas, isso ocorrerá porque a partir deste mês o aumento nos preços de combustíveis e eletricidade irá se desacelerar. Por outro lado, os preços ao produtor, que aumentaram novamente, devem pressionar a inflação também nos próximos meses, já que estão contaminando também os preços ao consumidor e as expectativas inflacionárias, analisam.

O alívio na inflação, defende o BofA, ocorrerá no segundo semestre devido ao hiato de produto e à fraqueza no mercado de trabalho. “O alto índice de desemprego também deve continuar a pressionar a inflação de serviços para baixo, mitigando as pressões no número cheio do IPCA. Notadamente, o núcleo da inflação está acelerando, mas continua abaixo da meta, enquanto a inflação de serviços segue muito fraca, incapaz de superar os 2% na comparação anual desde junho de 2020.”

Eles destacam que em maio o que mais contribuiu para o número acima do esperado foi o aumento de 1,78% na comparação mensal dos preços de moradia e de 1,15% na mesma base dos valores de transportes, que somados respondem por 0,51 ponto percentual no índice cheio.

Para Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, o BC deve manter sua perspectiva de aperto monetário, mas o próximo comunicado pode ficar sem a expressão “ajuste parcial” dos anteriores. “O choque da inflação não é tão temporário quanto julga o BC. Ele errou nesta perspectiva”, avalia.

Já Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch, acredita que um dado isolado não muda muito e que o Copom deve continuar elevando a Selic em 0,75 ponto percentual até chegar em 5,75% ao ano. “Muito disso foi a inflação de atacado ampliado e as tarifas de energia. A expectativa de inflação lá na frente não muda muito”, defende.

O Copom se reúne na próxima semana para definir os rumos da política monetária, com a decisão sobre a Selic ocorrendo na próxima quarta-feira (16).

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.