IPCA-15 tem deflação histórica de 0,73% em agosto, mas mercado esperava queda de 0,81%

Preços caíram devido à redução do ICMS sobre combustíveis e energia elétrica, e com isso a inflação desacelerou para 9,6% no acumulado em 12 meses

Lucas Sampaio

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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), prévia do índice oficial de inflação do Brasil, recuou -0,73% em agosto na comparação mensal com julho, graças ao impacto da redução das alíquotas de ICMS sobre os preços de combustíveis e da energia elétrica.

É a menor taxa desde o início da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em novembro de 1991. Com isso, o indicador desacelerou para 9,6% na comparação anual, com agosto de 2021, e voltou a ficar abaixo dos 2 dígitos (em julho, a alta acumulada era de 11,39%).

Os dados divulgados nesta quarta-feira (24) ficaram levemente abaixo da expectativa do mercado, que era de -0,81% na base mensal e de +9,5% na anual, segundo a Refinitiv.

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Apesar da deflação em agosto, no ano o IPCA-15 acumula alta de 5,02% e já estourou a meta do Banco Central para o IPCA de 2022 inteiro. A meta é de 3,5% para o indicador, com tolerância de 1,5 ponto percentual (ou seja: será cumprida se o indicador ficar entre 2% a 5%).

Caso a inflação não ceda até dezembro, será o segundo ano consecutivo que a meta do BC não será cumprida (em 2021, o IPCA foi de 10,06%). O mercado também prevê atualmente que a meta será descumprida também em 2023, segundo o Relatório Focus.

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Gasolina, etanol e luz puxam queda

A deflação de agosto foi puxada pela queda nos preços dos combustíveis e da energia elétrica. Mas, apesar da queda recorde para o IPCA-15, os preços dos grupos alimentação e bebidas (+1,12%) e saúde e cuidados pessoais (+0,81%) continuaram subindo.

Com a redução do ICMS sobre combustíveis e energia elétrica, além de 3 cortes seguidos nos preços da gasolina pela Petrobras (PETR3;PETR4), o grupo de transportes teve forte recuo de -5,24%, contribuindo com -1,15 ponto percentual (p.p.) no IPCA-15 do mês.

A queda em transportes foi puxada pelos preços dos combustíveis, que despencaram -15,33%. Ela foi causada não só pela gasolina (-16,80%), mas também pelo etanol (-10,78%), pelo gás veicular (-5,40%) e pelo óleo diesel (-0,56%). Outro item do grupo que despencou foi passagens aéreas (-12,22%), que recuou após 4 meses consecutivos de alta.

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Também houve queda nos preços em habitação (-0,37%) e comunicação (-0,30%). A variação negativa em habitação está relacionada ao recuo de -3,29% nos preços da energia elétrica residencial (também devido à redução do ICMS em vários estados); em comunicação, foi puxada pelos preços dos planos de telefonia fixa e móvel (que caíram 2,29% e 1,04%, respectivamente).

Inflação de alimentos e saúde

Apesar do IPCA-15 de agosto ter sido a menor taxa mensal desde o início da série histórica, iniciada em novembro de 1991, foram registradas altas de preços em 6 dos 9 grupos pesquisados pelo IBGE. A maior variação positiva (e o maior impacto no indicador) veio de alimentação e bebidas (que subiu +1,12% e contribuiu com 0,24 p.p. no IPCA-15 do mês).

Também se destacaram os grupos saúde e cuidados pessoais e despesas pessoais (ambos subiram +0,81% e contribuíram conjuntamente com 0,18 p.p.). Os demais grupos ficaram entre a alta de +0,08% de artigos de residência e a de +0,76% de vestuário.

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A inflação de alimentação e bebidas (+1,12%) foi influenciada principalmente pelo leite longa vida (+14,21%), que foi responsável pelo maior impacto individual positivo no índice (0,14 p.p.). No ano, o preço do leite dispara 79,79%. Outros destaques negativos no grupo foram as frutas (+2,99%), — que já haviam subido +4,03% em julho —, o queijo (+4,18%) e o frango em pedaços (+3,08%).

A alta registrada em saúde e cuidados pessoais (+0,81%) foi puxada por planos de saúde (+1,22%), um reflexo do reajuste de 15,50% autorizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em 26 de maio para os novos planos. Além disso, os preços dos itens de higiene pessoal aceleraram de 0,67% no IPCA-15 de julho para 1,03% no de agosto.

Diferença entre IPCA e IPCA-15

Tanto o IPCA quanto o IPCA-15 calculam a inflação de famílias com rendimentos de 1 a 40 salários mínimos (de R$ 1.212 a R$ 48.480 por mês), mas o IPCA-15 difere do IPCA (o índice oficial de inflação do país) no período de coleta e na abrangência geográfica.

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Para o cálculo do IPCA-15 de agosto, por exemplo, os preços foram consultados entre 14 de abril a 13 de maio e comparados com aqueles vigentes entre 16 de julho e 15 de agosto. No IPCA, a coleta começa nos últimos dias do mês anterior e termina nos últimos dias do mês vigente.

Além disso, o IPCA-15 pesquisa os preços nas regiões metropolitanas de Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, além do Distrito Federal e da cidade de Goiânia. Já o IPCA inclui também dados da região metropolitana de Vitória e das capitais Aracaju, Campo Grande, Rio Branco e São Luís.

Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.