Internet brasileira deve ter sobrecarga durante a crise

Operadoras oferecem pacotes melhores a clientes, mas latência pode estar comprometida 

Paula Zogbi Allan Gavioli

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SÃO PAULO – Para incentivar que pessoas fiquem em casa e facilitar a rotina de home office, as operadoras brasileiras anunciaram bônus de conexão à internet a praticamente todos os seus clientes. Mas, mesmo com pacotes mais robustos, a altíssima demanda pode significar lentidão na navegação.

Um monitoramento do site Speedtest nas regiões mais afetadas pela pandemia da Covid-19 mostrou velocidade comprometida pelo aumento da demanda na China, na segunda metade de janeiro, e na Itália, desde o fim de fevereiro. Nos Estados Unidos, os problemas com a rede de internet fixa começaram na terceira semana de março.

A pesquisa estima que o número de usuários acessando a internet simultaneamente pode ser o maior da história durante o período de isolamento social. Em Seattle, uma das regiões mais afetadas nos Estados Unidos, o tráfego já é 40% superior aos níveis de janeiro. Na Espanha, o aumento foi de 50%.

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Na segunda-feira (23) o Facebook anunciou que diminuirá a qualidade de transmissão de vídeos em suas plataformas para usuários da América Latina, replicando o que fez na Europa, para reduzir o congestionamento de dados. A Netflix e o YouTube, que também deixaram de transmitir na melhor qualidade disponível nos países da União Europeia, ainda não aplicaram a medida por aqui.

Em geral, as teles trabalham com infraestrutura acima da demanda, considerando que o tráfego de rede cresce, em média, entre 30% e 40% ao ano – por isso, o congestionamento esperado na crise é pontual: não se espera uma sobrecarga capaz de colapsar o sistema.

InfoMoney contatou as operadoras de telefonia para saber os procedimentos adotados caso a demanda prejudique a qualidade da rede fornecida no país. Por meio do SindiTelebrasil, as companhias informaram que trabalham em unir esforços para garantir estabilidade.

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“A capacidade das redes de telecomunicações não é infinita, mas as empresas estão envidando todos os esforços para manter a segurança, a estabilidade e o funcionamento das redes e, até o momento, não foram identificados registros de problemas”, informou o sindicato das empresas de telefonia.

De acordo com a nota, as companhias estão prontas para, “se necessário, implementar rotinas de contingenciamento e redirecionamento de tráfego para mitigar eventuais situações de congestionamento”.

Contatada, a Agência nacional de telecomunicações (Anatel) disse que as prestadoras “adotarão planos de ação para que os serviços de telecomunicação continuem operando”, com medidas de segurança reforçadas aos funcionários.

Sobre a velocidade de rede, a entidade informou que focará esforços no monitoramento das redes e na articulação, com prestadoras, poder público e demais setores privados, especialmente os provedores de conteúdo na internet, na adoção de todas as medidas necessárias para a superação da crise”. E acrescentou: “Do mesmo modo, priorizará soluções emergenciais que tenham por principal objetivo a continuidade do serviço e seu acesso pela população brasileira, sobrepondo-as às regras criadas para momentos de normalidade”.

Por que fica lento?

Ângelo Sebastião Zanini, coordenador do curso de Engenharia da Computação do Instituto Mauá de Tecnologia, explica que o congestionamento é praticamente inevitável. “Podemos pensar na internet como se fosse uma cidade: cada casa ou apartamento seria um computador ou uma pessoa e cada rua ou avenida seria a via de ligação entre eles. Assim como as ruas, essas vias têm capacidade de tráfego limitada. Como há muito mais tráfego agora (videoconferências, filmes, mensagens etc…) circulando, há congestionamento nos horários de pico”, define.

Para ele, a iniciativa das empresas de streaming e conteúdo de limitar a qualidade de vídeos é “muito acertada, principalmente nessa fase de adaptação até que haja o aumento da infraestrutura da internet”. O professor também defende um “código de conduta” das empresas, como estimular que funcionários só liguem câmera e microfone em teleconferências no momento em que forem falar.

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney