Inflação persistente nos EUA consolida projeção de nova alta de 0,75 ponto nos juros em novembro

Analistas passam a cogitar necessidade de o Fed manter o ritmo de alta de 75 pontos também na reunião de dezembro

Roberto de Lira

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O anúncio de nova alta além do esperado da inflação ao consumidor nos EUA – o CPI divulgado hoje pelo Departamento de Trabalho mostrou elevação de 0,4% na medição mensal e de 8,2% na comparação anual – aponta que o Federal Reserve precisará manter o ritmo de subida dos juros em 75 pontos-base (ou 0,75 ponto percentual) em sua reunião de novembro, na opinião de analistas de mercado.

O dado dos núcleos da inflação é que chamou mais a atenção: os 6,6% captados na comparação anual é a maior variação captada deste 1982.

Para Rafaela Vitória, economista chefe do Banco Inter, a inflação nos EUA não mostra sinais de desaceleração. Para ela, a curva de juros mostra que a taxa terminal de juros (a que apontará o final do ciclo contracionista), está precificada em 4,85%. Em setembro, o Banco Central americano subiu a taxa dos Fed Funds para uma faixa de 3% a 3,25%.

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Débora Nogueira, economista chefe da Tenax Capital, destaca que a Inflação de serviços está muito mais alta que o esperado. “Dentro de serviços, as surpresas ficaram bem espalhadas” comenta. Para ela, a alta do item hospedagem no mês (+078%) chamou a atenção. Também vieram fortes os preços de passagens aéreas (+0,8%), aluguel de carros (+2,5%) e seguros para veículos (+1,6%).

Segundo a economista, não dá para “culpar” a inflação de bens nesse momento. Embora os preços de carros tenham caído menos que o esperado, o núcleo de bens mostrou alta de 6,6%  em setembro ante o mesmo mês de 2021, ante alta de 7,7% em agosto. alto.

“Esse dado veio muito pior do que nossa expectativa e se configura em elemento novo no colo do Fomc (o comitês de política monetária dos EUA). Nosso cenário considera mais 75 b.p. em novembro e 50 b.p. em dezembro, mas o dado de hoje aumenta significativamente a chance de outra alta de 75 b.p.”, alerta Débora.

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Ubirajara Silva,gestor da Galapagos Capital concorda que o dado trouxe uma preocupação maior para o Fed, que “terá de subir os juros mais do que o mercado gostaria”. Ele destacou a reação imediata do mercado hoje, que inverteu a mão após a divulgação, com o S&P caindo mais de 2%, o dólar subindo e os Treasuries negociados acima de 4%.

Para o Morgan Stanley, o relatório de setembro envia uma mensagem agressiva, pois os sinais de pressões persistentes sobre os preços na divulgação de agosto não diminuíram. “É improvável que o relatório altere a trajetória de curto prazo da política do Fed, já que os dados do mercado de trabalho também foram robustos. A pressão mais sustentada dos serviços básicos, em particular os aluguéis, pode fazer com que o Fed tenha que contemplar outra alta de 75 pontos base em dezembro, contra nosso cenário base atual de 50 p.b.”, diz relatório.

Na análise da Levante, os números seguem muito acima das metas de inflação de 2% que devem ser cumpridas pelo Federal Reserve. “São os indicadores de inflação que deverão dar a tônica para os preços dos ativos ao longo dos próximos meses. Não será um caminho tranquilo”, diz relatório.

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“Essa inflação acima do esperado é vista como uma indicação da ineficácia, até agora, do endurecimento da política monetária pelo Fed. Se a variação dos preços permanecer acima da expectativa e das metas de inflação, a conclusão inevitável é de uma política monetária mais dura”, comentam os analistas.

Para a Levante esse endurecimento adicional pode ser na intensidade, com juros mais altos. E na duração, com taxas permanecendo elevadas por mais tempo. A chance maior é de o Fed elevar as taxas em 0,75% em novembro. “Se confirmado, o resultado vai mandar os Fed Funds, o equivalente americano da Selic, para o intervalo entre 3,75% e 4,0% ao ano. Só para comparar, no início do segundo trimestre, quando o Fed abandonou a leniência com a inflação, a projeção é que os Fed Funds só chegariam eventualmente a 4% ao ano no primeiro semestre de 2023.”

Pressão salarial

Francisco Nobre, economista da XP, chama a atenção para o índice de serviços básicos, que aumentou 0,8% na medição mensal, com a variação em 12 meses passando de 6,1% para 6,7%. Ele destaque os serviços de transportes e os serviços médicos estão à inflação salarial.

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“Apesar de os indicadores de alta frequência apoiarem a tese de que as pressões do mercado de trabalho e da inflação devem começar a diminuir, esses desenvolvimentos ainda não se refletiram nos dados oficiais. Dada a ênfase na ‘dependência de dados’ das autoridades, o Fed provavelmente será forçado a aumentar as taxas de juros em 75 b.p. pela quarta vez consecutiva em sua reunião de novembro”, comenta Nobre.

O economista da XP reforça que essa magnitude de aumentos de taxas pode revelar-se um erro de política e, se o Fed for forçado a cumprir as atuais projeções de “pontos” (cerca de 4,5-4,75% da taxa terminal), a economia mundial sofrerá significativamente. “Os efeitos do aperto já ocorrido na economia agregada ainda não se tornaram evidentes, e a maioria dos indicadores de alta frequência está mostrando que a economia está desacelerando agressivamente neste momento”, diz.

Para ele, a decisão a ser tomada na reunião de dezembro dependerá do emprego de outubro e novembro e das impressões do CPI.