Inflação dá “susto” com maior valor para novembro desde 2015 – mas não muda expectativa para corte de juros

Medidas de núcleo da inflação seguem em patamares confortáveis apesar de dado acima do esperado, o que baliza expectativa para próximo Copom

Lara Rizério

Prédio da sede do Banco Central, em Brasília (Beto Nociti/BCB)

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SÃO PAULO – Carnes, energia e loteria. Elas foram as grandes responsáveis pela inflação oficial de novembro, com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrando alta de 0,51% em novembro, a maior para o mês desde 2015.

O indicador, divulgado nesta sexta-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), veio acima do esperado pelos economistas consultados pela Bloomberg, cujo consenso apontava para mediana de 0,47%.

Isso, a princípio, poderia gerar algumas discussões sobre o ritmo de reduções de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom), mas não foi o que aconteceu.

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Os principais contratos de juros futuros registraram queda durante toda a sessão e as perspectivas seguem praticamente as mesmas para o encontro dos integrantes do Banco Central na próxima quarta-feira (11).

A expectativa é de uma queda de 0,5 ponto percentual na Selic, para 4,5% ao ano, atingindo nova mínima histórica.

Os motivos para a manutenção das expectativas foram reforçados pelo próprio IBGE. Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do Instituto destacou que, apesar da aceleração na inflação oficial do País, ainda não há pressão de demanda sobre os preços.

As carnes ficaram 8,09% mais caras, os jogos de azar subiram 24,35% e a tarifa de energia elétrica aumentou 2,15%.

Como resultado, os grupos Alimentação e bebidas, Habitação e Despesas Pessoais responderam por 82% do IPCA de novembro.”Em alimentos foi a carne, por restrição de oferta. Em despesas pessoais e habitação foram reajustes administrados”, disse Kislanov.

“Não teve tanto efeito de demanda especificamente, a demanda está relativamente estável. Apesar de os últimos resultados do PIB (Produto Interno Bruto) terem mostrado que o aumento no consumo das famílias vem sendo consistente”, completou o gerente do IBGE.

Em relatório, o Itaú Unibanco destacou que as medidas de núcleo de inflação (que procura captar a tendência dos preços desconsiderando distúrbios resultantes de choques temporários) seguem em patamares confortáveis, o que gera maior tranquilidade para o Copom seguir na sua trajetória de corte de juros. O núcleo de serviços subjacente registrou alta de 0,13%, em linha com o projetado pelo banco. Com isso, o acumulado em 12 meses caiu para 3,3% (de 3,6% em outubro).

O IPCA de novembro mostrou uma aceleração significativa e também deve permanecer alto em dezembro, destaca o Bradesco. No entanto, a maior parte dessa pressão veio de choques específicos de curto prazo.

Por um lado, a tarifa vermelha para as contas de luz domésticas que entrou em vigor em novembro será compensada em dezembro pela tarifa mais baixa já anunciada (“bandeira amarela”). Além disso, embora os reajustes dos preços das loterias ainda tenham algum impacto nos dados de dezembro, eles já estarão em uma tendência de desaceleração.

Contudo, apontam os economistas do Bradesco, os preços da carne ainda podem pressionar o IPCA de dezembro, além de outros itens de comida em casa (como alimentos perecíveis e feijão).

“O gap de produção, o nível ainda alto de desemprego, as expectativas baixas para os preços e as perspectivas de crescimento real do PIB ainda baixas devem contribuir para manter a inflação bem ancorada”, aponta Alberto Ramos, economista para América Latina do Goldman Sachs.

Assim, tanto Bradesco BBI quanto Goldman mantêm a previsão de corte nos juros de 0,5 ponto na reunião do dia 11. Desta forma, apesar do “susto” com a alta dos preços (principalmente da carne, principalmente por conta da maior exportação por conta da gripe suína na China), os economistas mantêm sua previsão para o ciclo de política monetária do BC.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.