Índice de alimentos da FAO cai 2,1% em agosto ante julho, mesmo com forte alta do arroz

Índice de cereais recua 0,7% em um mês, puxado peplo trigo; restrições à exportação de arroz pela Índia elevam preços em 9,8%

Roberto de Lira

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Os preços internacionais dos produtos alimentares caíram em agosto, puxados por produtos básicos que não o arroz e o açúcar, informou nesta sexta-feira (8) hoje a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

O Índice de Preços dos Alimentos da FAO, que acompanha as variações mensais dos preços internacionais dos produtos alimentares comercializados em nível mundial, registou uma média de 121,4 pontos no mês, uma queda de 2,1% em relação a julho, que representa uma retração de até 24% em relação ao pico alcançado em março de 2022.

Especificamente o índice de preços dos cereais da FAO caiu 0,7% em agosto relação a julho. Os preços internacionais do trigo, por exemplo, recuaram 3,8% no mês, num contexto de disponibilidades sazonais mais elevadas por parte de vários dos principais exportadores, enquanto os preços internacionais dos cereais secundários caíram 3,4%, com amplas ofertas globais de milho resultantes de uma colheita recorde no Brasil e do início iminente da colheita nos Estados Unidos.

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Em forte contraste, o índice de preços do arroz subiu 9,8% em relação a julho, atingindo o máximo nominal dos últimos 15 anos. Esse comportamento refletiu perturbações comerciais após a proibição das exportações de arroz branco Índica por parte da Índia, o maior exportador mundial do produto.

A incerteza sobre a duração dessa proibição e as preocupações com as restrições à exportação fizeram com que os participantes  da cadeia de abastecimento mantivessem seus estoques, renegociassem contratos ou deixassem de fazer ofertas de preços, limitando assim a maior parte do comércio a pequenos volumes e vendas previamente concluídas.

O índice de óleos vegetais da FAO caiu 3,1% em agosto, revertendo parcialmente um forte movimento de alta de 12,1% em julho. Os preços mundiais do óleo de girassol recuaram quase 8% durante o mês, motivados pelo enfraquecimento da procura global de importações e de ofertas abundantes dos principais exportadores.

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As cotações mundiais do óleo de soja caíram, devido à melhoria das condições das culturas de soja nos EUA, enquanto as do óleo de palma caíram moderadamente num contexto de aumento sazonal da produção nos principais países produtores do Sudeste Asiático.

O índice de preços dos lacticínios recuou 4,0% ante julho, liderado pelas cotações internacionais do leite em pó integral, abundante na Oceania. Os preços internacionais da manteiga e do queijo também caíram, em parte devido às fracas atividades de mercado associadas às férias de verão na Europa.

Já o índice de preços da carne da FAO caiu 3,0%. Os preços mundiais dos ovinos foram os que mais caíram, sustentados por um aumento nas disponibilidades de exportação, principalmente da Austrália, e pela procura mais fraca da China. A oferta robusta também derrubou os preços das carnes suína, de aves e bovina.

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O índice do açúcar subiu 1,3%, situando-se em média em agosto 34,1% acima do valor registrado há um ano. O aumento foi desencadeado principalmente por preocupações maiores sobre o impacto do fenômeno El Niño nas culturas de cana-de-açúcar, juntamente com chuvas abaixo da média em agosto e condições climáticas persistentes e secas na Tailândia.

A grande safra atualmente colhida no Brasil limitou a pressão ascendente sobre as cotações internacionais do açúcar, assim como a queda dos preços do etanol e o enfraquecimento do real brasileiro, disse a FAO em nota.

Produção

A organização também informou hoje que a previsão de produção global de cereais igualará o recorde anterior. Segundo a FAO, a produção mundial de cereais em 2023 aumentará 0,9% em relação ao ano anterior, atingindo 2,815 bilhões de toneladas.

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Embora a produção global de trigo deva diminuir 2,6% ante 2022, a produção total de cereais secundários deverá aumentar 2,7%, com o milho atingindo um novo recorde de 1,215 bilhão de toneladas, impulsionado por fortes rendimentos no Brasil e na Ucrânia. Apesar de uma ligeira revisão em baixa desde julho, a produção mundial de arroz em 2023/24 ainda deverá recuperar 1,1% em relação à época anterior.

A FAO reduziu a sua previsão para o comércio mundial de cereais em 2023/24 para 466 milhões de toneladas, uma queda de 1,7% em relação à comercialização anterior. A estimativa é que os volumes comercializados de trigo e milho diminuam, devido a uma série de razões, incluindo a queda das exportações da Ucrânia devido a perturbações comerciais associadas à guerra.

A organização também reduziu a sua previsão para o comércio mundial de arroz em relação aos números de julho, considerando o aumento das restrições à exportação por parte da Índia. Embora a duração destas restrições e a sua extensão sejam incertas, se forem prolongadas e se o El Niño induzir restrições à produção em outros exportadores asiáticos, pode ser mantida uma modesta a recuperação prevista no comércio de arroz para 2024, afirmou a FAO.