Gustavo Loyola: “Não há espaço para cortar juros no primeiro semestre de 2023”

"Estou pessimista em relação à existência de algum tipo de espaço para o BC iniciar uma queda de juros antecipada", afirmou o ex-BC

Estadão Conteúdo

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O ex-presidente do Banco Central (BC), Gustavo Loyola, vê pouco espaço para que a autoridade monetária comece a cortar juros no primeiro semestre do ano que vem. Se a política fiscal “fosse mais responsável”, o economista acredita que o BC poderia iniciar um relaxamento da política monetária na primeira metade de 2023.

“Estou pessimista em relação à existência de algum tipo de espaço para o BC iniciar uma queda de juros antecipada”, afirmou Loyola ao Estadão. Independentemente do candidato que ganhar as eleições presidenciais, o economista vê a política fiscal em xeque em 2023.

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Ele acha difícil que o próximo governo consiga interromper o pacote de bondades previsto para terminar em 31 de dezembro e diz que uma série de pressões orçamentárias irá se agravar um pouco no ano que vem. Entre elas, cita os reajustes de salários do funcionalismo público. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o sr. está vendo o cenário doméstico e internacional em relação à última reunião do Copom?

As incertezas continuam. O ambiente doméstico muito tensionado, expectativas sobre o 7 de setembro (com possíveis manifestações políticas), questões eleitorais. A aprovação desse pacote de bondades eleitorais, que já era esperado e se materializou, também é negativo. No cenário externo, vemos a continuidade da guerra (entre Rússia e Ucrânia), um quadro em que a inflação continua preocupando e aumentam os riscos de recessão nos Estados Unidos. A notícia boa é que houve queda no preço do petróleo e retomada das exportações de alimentos pela Ucrânia. Fundamentalmente, o quadro não mudou muito e continua bastante desafiador. Não há melhora sensível e também não houve piora que possa levar o BC a acelerar alta de juros.

Qual é a herança para 2023 de juro básico próximo do pico, combinado com os estímulos fiscais que estão sendo dados?

Na questão monetária, acho que o cenário mais provável é que o BC não tenha espaço para reduzir juros durante o primeiro semestre de 2023. Acredito que esse patamar de 13,75%, talvez um pouquinho mais, será mantido.

Por quê?

O processo de queda da inflação ocorre de maneira mais lenta e o BC precisa se assegurar de que ela vá convergir para a meta, não tanto em 2023, mas em 2024. Se a política fiscal fosse mais responsável, acho que poderia abrir espaço para o BC iniciar um relaxamento monetário mais cedo. Mas acho muito difícil que isso ocorra.

Quais seriam as razões?

Embora parte desse pacote de bondades tenha sido carimbado como temporário até o final do ano, acho que é muito difícil que seja revertido, tanto na continuidade da gestão Bolsonaro quanto se o Lula for eleito. Por outro lado, as pressões do funcionários públicos por aumento vão crescer. Há uma série de pressões orçamentárias que parece que irá se agravar um pouco no ano que vem. Não vejo espaço para uma melhora fiscal em 2023. Acredito que possa piorar. Estou pessimista em relação à existência de algum tipo de espaço para o BC iniciar uma queda de juros antecipada.

Quais os impactos de uma política fiscal frouxa e de juros altos na economia real?

Os impactos fundamentalmente são crescimento mais baixo e crédito mais apertado. A inflação continuará caindo, mas lentamente. Com os juros mais altos por mais tempo e o crédito racionado e difícil, a economia cresce pouco. A nossa projeção de crescimento para o ano que vem é bastante magra. Crescer 0,5% já seria acima do esperado.

Quais são os fatores de risco para os próximos meses?

No cenário doméstico, são as eleições e seus desdobramentos. Nesta parte não estou falando especificamente de quem será eleito. Estou falando dessa tensão institucional, desse questionamento sobre a segurança das urnas e uma eventual não aceitação do resultado. Isso pode gerar um resultado bastante negativo para o País. O Brasil vai ser visto cada vez mais como uma república de bananas. O segundo risco tem a ver com o programa de governo de quem for eleito. Esses dois riscos maiores afetam a taxa de câmbio e dificultam a queda da inflação. Do lado externo, os desdobramentos da guerra continuam e a questão da recessão americana e a política monetária dos Estados unidos que eventualmente podem repercutir negativamente no Brasil.

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