Fim da desoneração da gasolina deve ter impacto de até 0,60 ponto no IPCA de março

Novo governo prorrogou desoneração de PIS/Cofins e Cide sobre combustíveis até 28 de fevereiro; expectativas de inflação subiram

Roberto de Lira

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A prorrogação da isenção de impostos federais sobre combustíveis até 28 de fevereiro, definida na semana passada por meio de medida provisória, coloca pressão sobre a equipe econômica, que ainda busca uma melhor equação entre receitas e despesas para demonstrar seu compromisso com a responsabilidade fiscal. Mas também já deixa contratada uma inflação mais alta para os meses de março e abril, quando o impostos voltarão a ser cobrados, pelo menos no caso da gasolina.

Analistas consultados pelo InfoMoney calculam um impacto entre 0,40 e 0,60 ponto porcentual no IPCA entre março e abril só pela volta do PIS/Cofins e Cide sobre a gasolina.

A possibilidade de reoneração passou a entrar no radar das equipes de bancos e corretoras nas últimas semanas do ano passado e isso está espelhado no Boletim Focus. A projeção do IPCA para 2013, que estava em 5,08% há quatro semana, hoje está em 5,36%. A expectativa para os preços administrados, por sua vez, foi de 6,09% para 6,79% na mesma comparação.

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“Nossa projeção para o IPCA de 2023 é de 5,8%. A projeção mudou recentemente de um IPCA de 5,4%, devido ao impacto da reoneração do PIS/Cofins sobre a gasolina. O que significa que, diante da nossa projeção de 0,41% para o IPCA de dezembro, 2023 tende a ter um IPCA superior a 2022”, disse Eduardo Vilarim, economista do Banco Original.

O impacto específico da alta na gasolina seria de, aproximadamente, 0.60 ponto porcentual, distribuídos entre março e abril, nas contas do Original. “Nosso IPCA de março, por exemplo, saltou de 0,42% para 0,70%”, afirmou Vilarim. A projeção de alta de 0,60% no IPCA de março é mesma de Tatiana Pinheiro, economista chefe da Galapagos Capital. Para o ano, a previsão de inflação é de 5,2%.

Tatiana Nogueira, economista da XP, disse que a equipe já havia realizado uma alteração na projeção do IPCA para este ano, de 5,2% para 5,4% por enxergar a possibilidade forte da volta de impostos sobre combustíveis, por ser “é uma arrecadação bastante significativa para o governo abrir mão neste ano, quando vai ser importante fazer o ajuste fiscal mesmo com os gastos muito mais elevados”.

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Para ela, o fim da desoneração em março deve levar a uma alta de aproximadamente 10% no preço da gasolina a partir de março, com algum repasse também sendo feito em abril. “Não bate tudo de uma vez porque as cadeiras vão repassando o preço ao longo da semana corrente ou da semana seguinte. Então grande parte já vai bater no mês de março, fazendo o preço subir quase R$ 0,70 no litro da gasolina”, prevê.

Isso deve significar aproximadamente meio ponto de alto na inflação. A economista destaca que, com outros preços seguindo sua própria dinâmica, o IPCA de março deve vir um pouco abaixo dos 0,80%.

Rafael Cardoso, economista-chefe da Daycoval Asset, concorda que haverá um forte impacto quando PIS/Cofins e Cide voltarem a incidir sobre a gasolina. “Se voltar na totalidade, a gente calcula que o impacto pode ser de até 60 pontos base para o IPCA”, afirmou.

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Com isso, a projeção da Daycoval sairia de 5,40% para algo próximo a 6%. Caso aconteça também uma reoneração de ICMS, por conta de uma decisão judicial, chegaria a 6,50% no final do ano.

Impacto nos juros

Com a pressão maior de preços e as expectativa ainda forte para a inflação por conta das incertezas sobre a política fiscal do novo governo, a previsão dos economistas é que o Banco Central realize apenas pequenos cortes na taxa de juros e que isso só deve ocorrer no segundo semestre. Se ocorrer.

“A cada elevação das expectativas para o IPCA, fica mais difícil imaginar cortes na taxa básica de juros. Hoje trabalhamos com uma Selic terminal de 12,50% ao final de 2023, com cortes se iniciando a partir da 6ª reunião, de agosto, de 0,25 ponto, seguido por mais 2 cortes de 0,50 em ambas as reuniões subsequentes”, previu Vilarim.

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Ele ponderou, no entanto que, alguns modelos já “pedem” uma Selic terminal de 13%, diante da desancoragem as expectativas. “Seguimos monitorando e calibrando tais modelos. Mantemos o cenário básico, mas os riscos trazem um viés de alta para os juros”, disse.

Tatiana, da XP, acredita que, mesmo com a alta extra prevista para março e abril, o Banco Central vai se encontrar num dilema ao final do primeiro semestre porque a inflação corrente estará baixa, mas as expectativas podem estar ainda desancoradas devido à visão de que a política fiscal atual é expansionista.

“A partir de maio, junho, a gente vai ter uma inflação bastante baixa e isso pode alimentar a pressão sobre o BC para iniciar um ciclo de corte de juros. Num ambiente em que o governo sinalize mais previsibilidade dos gastos públicos, uma nova regra ou mesmo a manutenção dessa regra com alguma modificação e o mercado entenda que isso pode garantir a estabilidade da dívida, podemos ver espaço para um corte de julho a partir de junho ou julho, sem comprometer a convergência da inflação à meta”, comentou.

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Para Cardoso, da Daycoval Asset, existe uma possibilidade de o BC reduzir a Selic a partir de agosto. Para ele, o Copom vai começar “devagar”, com um corte de 25bps. “Mas tem espaço para terminar o ano em 12%”, afirmou. Segundo ele, a projeção mudou para este ano, pois estava em 11,75%.

“Mas nossa alteração mais forte foi para 2024: a gente tinha 8% e agora a gente tem 9%. Por duas razões: a primeira é pela expectativa de IPCA, que tem impacto pela decisão do BC. E a segundo é porque tem um nível de incerteza muito alto. O BC vai querer ver essas coisas solucionadas para eventualmente agir.”

Tatiana Pinheiro, da Galapago, também vês espaço para o início dos cortes de juros no terceiro trimestre deste ano. Mas ela alerta que um possível controle de preços pela nova diretoria da Petrobras pode aumentar o risco país, colocando mais pressão sobre o cambio.