EUA: Sanders vence primária democrata em New Hampshire e coloca em xeque campanhas dos até então favoritos

Mais conhecidos nacionalmente e com estruturas de campanha muito mais sofisiticadas, Elizabeth Warren e Joe Biden veem suas campanhas patinarem

Sérgio Teixeira Jr.

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NOVA YORK – Ninguém canta vitória só com uma boa performance nos dois primeiros estados a votar nas primárias americanas – mas é possível sair derrotado ou, no mínimo, desacreditado depois da divulgação dos resultados de Iowa e New Hampshire.

Repetindo o que se viu uma semana atrás, nos conturbados caucus de Iowa, o autointitulado socialista Bernie Sanders, senador, e o centrista Pete Buttigieg, ex-prefeito de uma pequena cidade do Meio Oeste americano, dividiram a preferência dos democratas – e se consolidaram como os dois grandes representantes das duas correntes que racham a oposição.

Já os dois nomes considerados grandes favoritos na disputa pela indicação do Partido Democrata estão contra a parede.

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Com 95% das urnas apuradas, Sanders tinha garantida a vitória em New Hampshire, com 25,8% dos votos. Buttigieg, em segundo lugar, contabilizava 24,4%, e Amy Klobuchar, em terceiro, tinha 19,7% dos votos.

A senadora Elizabeth Warren, uma das representantes da ala esquerdista do partido, ficou num distante quarto lugar, com 9,3% dos votos. O ex-vice-presidente Joe Biden, centrista considerado até bem pouco tempo atrás o nome com as melhores chances contra Donald Trump na eleição de novembro, ficou somente em quinto lugar, com 8,3%.

Além de mais conhecidos nacionalmente e com estruturas de campanha muito mais sofisticadas, os dois foram derrotados pela senadora Amy Klobuchar, outra surpresa da noite de ontem. Mesmo que tenha poucas chances de levar a indicação do partido, a moderada Klobuchar pode ser uma das fieis da balança na reta final do processo seletivo.

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As primárias estão somente começando, mas os sinais emitidos pelos eleitores dos dois pequenos estados têm enorme influência no desenrolar da disputa. “Nomes que eram praticamente desconhecidos nacionalmente, como [Jimmy Carter], [Bill] Clinton e [Barack] Obama se lançaram em Iowa e New Hampshire”, diz Steven Brams, professor do departamento de ciência política da Universidade de Nova York, referindo-se a três democratas que chegaram à Casa Branca. “Para muitos eleitores, é o primeiro contato que eles terão com os candidatos.”

Uma boa performance de Bernie Sanders já era esperada, pois o senador de 78 anos de idade formou uma base sólida junto aos eleitores jovens nas primárias de quatro anos atrás. Além disso, Vermont, estado pelo qual é senador, é vizinho de New Hampshire.

Com as campanhas de Warren e Biden patinando, Sanders certamente vai passar a concentrar as atenções – e os ataques – dos adversários.

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Apesar do favoritismo precoce, a margem de vitória de Sanders sobre Buttigieg, 38, foi menor do que muitos analistas esperavam. A ascensão do ex-prefeito da pequena South Bend é a grande surpresa da eleição até aqui.

Buttigieg (pronuncia-se “búri-djédj”), que pode tornar-se o primeiro candidato abertamente homossexual a concorrer à Casa Branca por um dos dois grandes partidos americanos, não tem muita projeção nacional — o que pode ser uma benção em um ambiente que cada vez mais dá valor aos políticos “não-tradicionais”.

Tudo ou nada para Biden e Warren

Horas antes de encerrada a votação, e já prevendo um desempenho decepcionante, Biden foi embora de New Hampshire e rumou para a Carolina do Sul, estado com uma importante população negra e que é considerado uma das grande esperanças para o ex-vice de Obama.

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Muitos analistas apontam que, sem o voto dos eleitores negros – uma das bases mais importantes para qualquer candidato democrata –, nenhum pré-candidato tem chances reais de ser o indicado do partido, muito menos levar a eleição geral, que acontece em novembro.

“99,9% dos eleitores negros ainda não tiveram a chance de votar. E 99,8% dos latinos não tiveram a chance de votar”, afirmou Biden na noite de ontem, numa tentativa de energizar sua base.

Apesar de sair de New Hampshire com a campanha abalada, a senadora Warren, que disputa com Sanders os democratas mais à esquerda do espectro político, também parece apostar em reviravoltas.

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Um e-mail enviado na tarde de terça-feira para os apoiadores da senadora, assinado pelo diretor da campanha, Roger Lau, diz que a disputa ainda é “volátil e imprevisível” e que não deve haver clareza antes da Super Terça – o dia 3 de março, quando 14 estados realizam suas primárias.

Os dois estados que já distribuíram delegados até agora não são matematicamente decisivos na convenção que acontece entre 13 e 16 de julho. New Hampshire, por exemplo, envia apenas 24 delegados para a convenção; o candidato vitorioso na precisa de 1 991 votos.

Mas a tradição diz que é importante ter um bom desempenho logo de saída – e é por esse motivo que tradicionalmente os candidatos montam operações de peso em ambos os estados.

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Um bom desempenho em Iowa e New Hampshire também se traduz em confiança por parte dos eleitores, o que se mede em doações. O longo ciclo de escolha dos presidenciáveis americanos inclui um intenso embate de ideias, mas igualmente – ou talvez ainda mais – importante é o corpo-a-corpo com os doadores.

Sanders inaugurou o modelo de pequenas contribuições (de 5, 10, 15 dólares) em grandes volumes. Warren adotou o mesmo sistema de contribuições diretas, mas por enquanto sem obter o mesmo sucesso.

Segundo os dados oficiais da Comissão Eleitoral Federal, os bilionários Tom Steyer e Michael Bloomberg são os líderes em dinheiro arrecadado até o fim de janeiro, com US$ 206 milhões e US$ 200 milhões, respectivamente (ambos estão financiando suas campanhas com recursos próprios). Donald Trump vem em terceiro lugar, com US$ 144 milhões, seguido por Sanders (US$ 109 milhões) e Warren (US$ 82 milhões).

Não se sabe até quando Tom Steyer, fundador do fundo de hedge Farallon Capital, vai levar sua aventura política. Mas o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg estaria disposto a dobrar os investimentos em anúncios de TV depois da confusão do caucus de Iowa.

Mesmo que não seja vitorioso na disputa interna do Partido Democrata, Bloomberg estaria disposto a investir até US$ 1 bilhão de dólares dos US$ 61,5 bilhões de sua fortuna pessoal para derrotar Trump em novembro.

Mas o dinheiro pouco vai importar se o Partido Democrata chegar às eleições de novembro rachado ao meio. Apesar de todos os candidatos prometerem união em torno do objetivo maior – tirar Trump da Casa Branca –, as alfinetadas entre os Sanders e Buttigieg vêm crescendo.

Em seu discurso na noite de ontem, Sanders fez uma referência indireta a Buttigieg, um candidato que recebe muitas doações vultosas de bilionários. Buttigieg, por sua vez, deixou claro que sua proposta para a saúde é muito diferente da cobertura universal e gratuita de Sanders.

Nas redes sociais, essas diferenças ideológicas estão se traduzindo em trocas de ofensas entre os apoiadores dos dois candidatos – o que certamente deve ser motivo de comemoração para os republicanos.

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Sérgio Teixeira Jr.

Jornalista colaborador do InfoMoney, radicado em Nova York