“Estou vendo uma volta para trás. Um retrocesso”, diz Henrique Meirelles, “pai” do teto de gastos

"Eles alteraram, criaram outro teto", disse Meirelles ao Estadão

Estadão Conteúdo

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“Pai” do teto de gastos, o ex-ministro Henrique Meirelles diz que a regra que limita o crescimento das despesas foi violada e deixará de ser eficaz com as mudanças negociadas pelo governo Bolsonaro com o Congresso para gastar mais no ano eleitoral de 2022. “Eles alteraram, criaram outro teto”, disse Meirelles ao Estadão. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Qual a sua avaliação sobre o desmonte do teto?

Estou vendo uma volta para trás. Um retrocesso do País. Um País que fez um esforço grande para voltar a crescer.

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Como “pai” do teto, como vê as críticas a ele? O próprio ministro Paulo Guedes diz que o sr. deu reajuste, inflou o teto e, depois, empurrou o aperto do teto para o governo seguinte.

Absolutamente negativo. As despesas começaram a cair imediatamente. As críticas que fazem ao teto é porque ele é rígido, não tem flexibilidade. Mas é um limite, não pode ter flexibilidade.

O teto de gastos morreu com a mudança articulada pelo governo e o Centrão?

Não morreu totalmente porque ele ainda vai dar trabalho. Tiraram certas despesas do teto, mas outras estão sujeitas. Eu diria que o teto foi violado, e isso enfraquece muito.

Quais serão as consequências do rompimento?

Se não se quer tomar as medidas necessárias para cortar despesas, quer voltar ao período da recessão que o Brasil entrou. A vantagem do teto é ser rígido e não dar espaço para manobra, interpretação, discussão subjetiva que acabou se instalando. Quando ele foi estabelecido, o Brasil estava numa recessão brutal por razão puramente fiscal, com um crescimento das despesas e da dívida pública insustentável.

É uma armadilha para quem assumir o governo em 2023?

Será um problema. As últimas projeções para a economia em 2022 são de inflação elevada e taxa Selic alta. E muito desse aumento dos juros no ano que vem vai se refletir em 2023, jogando a economia para baixo. A última projeção de crescimento que vi de uma instituição respeitada é de menos de 1%. Isso significa que o País entrou ou está entrando numa estagflação clássica. Para a frente, é um problema. O governo vai ter mais dinheiro para distribuir e, supostamente, isso aí vai dar vantagens eleitoreiras. Mas tenho dúvidas disso, porque o melhor programa social que existe é o emprego. A sensação de bem-estar da população está péssima e o crescimento não deslancha.

Qual o efeito disso tudo?

Entrar 2023 com a taxa de juros elevada, com a economia estagnada, o crescimento elevado e com um déficit insustentável. Uma coisa perigosa é começar a achar vantagem no aumento da inflação porque permite gastar mais.

Pode ser uma bomba para o próprio presidente Bolsonaro caso ganhe a eleição?

Certamente. Não há dúvida. Ele está agindo no curto prazo, tentando ganhar no ano que vem a qualquer preço. Mas o que digo é que os efeitos negativos podem superar a distribuição desses R$ 30 bilhões (do Auxílio Brasil fora do teto).

Ao lado de Bolsonaro, o ministro Guedes disse que abraçou o social. O que achou dessa declaração?

Abraçar social, tudo bem, desde que cortem despesa do outro lado.

Guedes, que vinha defendendo o teto, capitulou para o jogo político ao aceitar o rompimento do teto para mais gastos?

Ele disse isso: “Por que vocês acham que eu ia sair por conta de gastar mais R$ 30 bilhões”. Cada um que tire suas conclusões. Eu não preciso fazer grandes interpretações. Ele disse.

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