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Juros nos EUA devem cair só no 2º semestre, diz Franklin Templeton, que prega cautela

Daniel Popovich, da Franklin Templeton Brasil, também comenta sobre o Brasil e avalia que menos intervenção seria um "bom começo" para atrair estrangeiros após ruídos com Petro e Vale

Bruna Furlani

Daniel Popovich, gestor de portfólio da Franklin Templeton

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Foco das atenções dos investidores globais nesta quarta-feira (20), o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) se reúne hoje para decidir o nível de taxa de juros. Com a ampla maioria do mercado à espera de uma manutenção dos juros entre 5,25% e 5,50% ao ano, agentes estarão atentos à comunicação de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano) sobre sinais de quando a autoridade dará início ao ciclo de flexibilização monetária.

Com uma visão um pouco mais conservadora do que boa parcela do mercado, que projeta um começo dos cortes para junho, a Franklin Templeton Brasil, braço da gestora americana, defende que a autoridade deve iniciar o ciclo de afrouxamento monetário apenas na segundo semestre.

Em entrevista ao InfoMoney, Daniel Popovich, gestor de portfólio na casa, defendeu que o Fed deve ser cauteloso para dar o pontapé inicial diante da resiliência da economia americana, mas que os últimos dados divulgados deixaram a casa mais otimista.

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“O que temos observado é uma moderação no mercado de trabalho americano e isso tem um efeito menor sobre salários. Deve ter um impacto também mais positivo [na inflação de] serviços, que tem sido mais difícil de desacelerar”, diz o executivo.

Mas, até decidir pelo início dos cortes, a avaliação de Popovich é que o Fed deve manter uma “comunicação menos clara e que garanta maior liberdade de atuação”, já que a autoridade tem dito que é dependente de dados.

“Antes de subir a taxa, o Fed tinha uma comunicação de que não ia aumentar os juros e isso afetou muito a credibilidade do banco. Num período incerto, essa comunicação com mais liberdade joga a favor dele”, defende, ao destacar que isso também serve para fazer um “ajuste fino” nas expectativas de mercado.

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Sem querer colocar projeções para o nível de juros nos EUA ao fim deste ano, Popovich acredita que a autoridade monetária deve começar com um corte mais moderado, de 0,25 ponto, exatamente como ocorreu durante o período de aperto monetário. “Não vejo necessidade ou incentivos para um corte mais agressivo. A economia americana está resiliente”, diz.

A força da economia, aliada à melhora no perfil de endividamento das empresas, ajudam a impulsionar também uma visão mais favorável da casa para a renda variável nos EUA.

A gestora prefere não citar casos específicos por alocar por meio de fundos e ETFs (fundos de índice) nas ações do país, mas afirma que as grandes empresas de tecnologia estão “bem posicionadas” e resume que tem dado preferência a empresas de qualidade, com nível de endividamento mais baixo, posição dominante dentro dos mercados em que atua e menos intensiva em capital.

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Apesar do maior otimismo com a Bolsa americana, Popovich não descarta eventuais correções, provocadas principalmente pelos efeitos tardios de uma política monetária mais contracionista.

Brasil: menos intervenção seria um “bom começo”

Já ao ser questionado sobre o Brasil, a casa diz que detém apenas uma pequena alocação no país e defende que o movimento mais expressivo de saída de estrangeiros da Bolsa é reflexo de uma renda fixa e variável atrativas nos Estados Unidos.

Os investidores estrangeiros retiraram R$ 9,452 bilhões da B3 em fevereiro, resultado de compras acumuladas de R$ 259,601 bilhões e vendas de R$ 269,053 bilhões — maior saída para o mês de fevereiro desde 2020, quando foram retirados R$ 20,9 bilhões.

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Para o executivo, o Brasil está num patamar “atrativo” em termos de fundamentos, mas há uma incerteza sobre a situação fiscal e ruídos em tornos de companhias como Petrobras (PETR3;PETR4) e Vale (VALE3).

“Não é papel do investidor [estrangeiro] expressar visões políticas. Ele quer identificar empresas. A previsibilidade é recompensada com um valuation [preço] mais alto. Quando tem ruídos causados por política, isso gera incerteza. Quando as empresas são as mais representativas [do Ibovespa], o impacto é mais sentido”, avalia o gestor.

As últimas notícias em torno de questionamentos do Governo sobre a política de dividendos da Petrobras e interferências na sucessão do presidente da Vale deixam o investidor estrangeiro mais “reticente” e diminuem a previsibilidade sobre as companhias, na visão de Popovich. Nesse sentido, o especialista diz que “ter menos intervenções seria um bom começo” para atrair capital externo novamente para a Bolsa local.