Economistas veem sinais de moderação no aquecido mercado de trabalho dos EUA

Forte geração de vagas em fevereiro foi compensada por revisões de baixa nos meses anteriores; além disso, desemprego cresceu e aumentos salariais desaceleraram

Roberto de Lira

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Mesmo com a criação ainda forte de vagas nos EUA em fevereiro, os economistas viram indícios do que pode ser um alívio no aquecido mercado de trabalho americano, facilitando assim o trabalho nas decisões de política monetária. As revisões para baixo do payroll de dezembro e, especialmente, de janeiro, além da alta na taxa de desemprego e a desaceleração dos salários explicam essa leitura.

Segundo os dados do Departamento do Trabalho divulgados hoje, houve 275 mil novas vagas de trabalho em fevereiro, mas as revisões para baixo em dezembro e janeiro combinados ficou em -167 mil em relação ao reportado anteriormente.

A taxa de desemprego voltou a subir e passou de 3,7% em janeiro para 3,9% em fevereiro. E o salário médio por hora trabalhada registrou um leve crescimento (0,1%) na comparação mensal, desacelerando marginalmente na comparação anual.

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Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, avalia que os números vieram bem melhores do que se esperava. “Mesmo o número de vagas abertas vindo mais forte do que o mercado esperava, a revisão do dado anterior acabou fazendo com que esse número fosse bom também. Em termos gerais, eu acho que foi um bom número e o mercado está reagindo positivamente a esse resultado”, comenta.

Um dos impactos pode ser percebido na ferramenta de monitoração do CME Group, que apontava antes do payroll uma probabilidade de 74,4% de o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) começar a reduzir os juros na reunião de 12 de junho. Após o dado, essa chance foi a 82,9% no final da manhã. Até mesmo as apostas de um corte na reunião anterior, de 1º de maio, cresceram: de 26,6% para 31,0%.

Para Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, o dado de hoje nos trouxe uma sensação mista. Por um lado, a criação de vagas segue em ritmo forte, mas por outro, os dados trouxeram certo alívio em relação ao mercado de trabalho e ao crescimento dos salários.

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Ele lembra que, para banco central norte-americano, o dado do payroll é crucial. “Diante do dado divulgado hoje, é provável que o Fomc mantenha uma postura cautelosa na reunião do dia 19 e 20 de março. Os próximos dados serão importantes para compreender melhor a evolução da economia norte-americana”, comenta.

“Mantemos a perspectiva de redução na taxa de juros para o segundo trimestre deste ano, com maior probabilidade em maio e, menor, em junho.”

Mas André Cordeiro, economista-sênior do Banco Inter, adverte que, no geral, o dado do payroll indica aceleração do mercado de trabalho, com a média móvel de 3 meses avançando pelo quarto mês consecutivo.

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Ele pondera que o payroll é resultado de duas pesquisas distintas, uma a nível domiciliar e outra a nível da firma. Ele destaca que, nos últimos 3 meses, têm se observado uma forte discrepância entre as duas pesquisas. A pesquisa a nível domiciliar, diz o economista, indica 3 meses consecutivos de destruição de emprego, mas mesmo nela, a direção é de melhora, com a destruição sendo menor a cada mês.

“Apesar dos pesares, é mais um dado forte vindo do mercado de trabalho americano. Em termos de implicações para a política monetária, o resultado consolida a visão de que o início dos cortes de juros em março é inviável, mas ainda não coloca em risco o início dos cortes na reunião de junho”, afirma.

Já Andressa Durão, economista ASA Investments, pondera sobre a divergência entre a forte criação de vagas e o aumento da taxa de desemprego no mês. “Apesar da divergência entre as pesquisas, os dados ainda apontam para uma economia forte, que segue uma desaceleração sem recessão”, comenta.

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Ela destaca que o Fed está mais focado nos dados de inflação para as próximas decisões e que os dados de emprego não mudam cenário, por enquanto, uma vez que estão em linha com o esperado.

Sávio Barbosa, economista-chefe da Kínitro, analisa que o resultado de hoje representou uma moderação em relação aos dados de janeiro, ainda que que os dados mostrem a criação de postos em forte ritmo de crescimento.

“Também sinalizam menor pressão no mercado de trabalho, com uma maior taxa de desemprego e uma moderação dos salários. Acreditamos que esses dados elevam a probabilidade do início do ciclo de corte de juros nos próximos meses, até a reunião de junho”, previu.

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Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, reconhece que o mercado de trabalho está desacelerando, mas vê uma velocidade ainda muito baixia. “Os dados divulgados hoje não mudam nossa visão de que o início do ciclo de cortes dos juros deve começar no terceiro trimestre de 2024, já que o mercado de trabalho e a inflação vêm desacelerando muito lentamente”

(Com Estadão Conteúdo)