Economistas elogiam sinais positivos do governo da China em emissão de dívida

Para especialistas, efeito prático da medida será modesto, mas conjunto de ações mostra comprometimento com meta de crescimento

Roberto de Lira

(Shutterstock)

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O anúncio de que a China vai emitir 1 trilhão (cerca de US$ 137 bilhões) de yuans em títulos do tesouro, feito ontem e que deve elevar o déficit fiscal do país dos antes previstos 3% para 3,8% do PIB, foi considerado positivo pelos economistas especializados no país asiático. Nem tanto pela dimensão, mas pela sinalização de apoio demonstrada pelo governo central.

Os especialistas destacam que a China raramente ajusta seu orçamento semestral, tendo feito isso anteriormente em períodos mais desafiadores, incluindo o apoio de 2008 logo após o terremoto de Sichuan e o período da crise financeira asiática, no final da década de 1990.

Desta vez, os rendimentos da emissão de títulos do governo central serão transferidos para os governos locais para apoiar projetos de infraestrutura, em especial na regiões mais afetadas pelas fortes chuvas de verão. Isso inclui projetos conservação de água, prevenção de inundações e reconstruções pós-desastre.

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Segundo análise da Julius Baer, a alavancagem anunciada ontem é um passo na direção certa para impulsionar o crescimento econômico do país, embora o montante seja pequeno para causar um efeito real no curto prazo. Algum impacto positivo, no entanto poderá ser sentido principalmente nos setores de infraestruturas e cíclicos, como na produção de cimento, por exemplo.

“O que é mais importante é o efeito de sinalização desta e de outras medidas recentes que, esperamos, transmitam a mensagem de que o governo chinês coloca uma forte ênfase no crescimento econômico. Isto deverá ajudar a acalmar os investidores que recentemente estavam preocupados com a possibilidade de o estímulo desaparecer após alguns sinais de estabilização nos dados econômicos nas últimas semanas”, comentou a Julius Baer

Economistas do Citigroup ouvido pela Bloomberg disseram que esse movimento para além da meta habitual de dívida em relação ao PIB poderia “mostrar um maior sentido de urgência por parte dos decisores políticos”, à medida que pressionam para alcançar o objetivo de crescimento.

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Dados macroeconômicos mais fortes do que o esperado no terceiro trimestre de 2023 levaram as autoridades a declarar que estavam “muito confiantes” na capacidade da economia atingir a meta de crescimento de 5% neste ano.

Para o banco de investimento japonês Nomura, o movimento do governo sugere que Pequim pode não ser complacente com a recente estabilização do crescimento e que o governo pode ter ficado mais disposto a adicionar mais dívida, à medida que os empréstimos fora do orçamento dos governos locais se tornaram cada vez mais insustentáveis, segundo reportagem do jornal South China Morning Post.

O fato é que Pequim tem demonstrado uma determinação crescente em ajudar os governos locais com problemas fiscais. No mês passado, por exemplo, lançou um programa que permite às autoridades regionais em dificuldades trocarem empréstimos extrapatrimoniais com juros elevados por obrigações com juros mais baixos.

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O gabinete chinês já anunciou que vai restringir a capacidade dos governos locais em 12 regiões altamente endividadas de assumirem novas dívidas e impôs limites aos novos projetos financiados pelo Estado, disseram à Reuters fontes com conhecimento do assunto.

As 12 regiões, que cobrem uma vasta área do país, só poderão assumir projetos específicos, como os aprovados pelo governo central, disseram essas fontes. Outros projetos, como novas estações ferroviárias e centrais eléctricas, não serão permitidos.

A agência de notícias lembra que carga da dívida dos governos locais é muito mais elevada do que a do governo central. Embora a dívida do governo central represente apenas 21% do PIB, a dívida local atingiu 76% da produção econômica do país em 2022, acima dos 62,2% de 2019.

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As preocupações também permanecem no setor privado do país, o que tem levado as autoridades a tomar medidas para remover barreiras nesse negócios. O Conselho de Estado fez um pedido público para informar sobre casos em que as agências governamentais estejam impondo regras arbitrários ou favorecendo empresas estatais em detrimento das privadas, informou na terça-feira a Caixin Global.

O Diário do Povo informou que o próprio presidente Xi Jinping reiterou o apoio ao setor privado numa carta à federação das indústrias do país, apelando à mobilização mais estreita dos empresários privados em torno do Partido Comunista Chinês..

Além disso, num relatório apresentado ao Comitê Permanente no fim de semana, o governador do Banco Popular da China, Pan Gongsheng, prometeu tornar a política mais direcionada e contundente. Pan também destacou uma visão de longo prazo sobre a economia, ao mesmo tempo que indicou que a flexibilização ainda está prevista, dizendo que a política faria bons ajustamentos anticíclicos.

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As ações chinesas reagiram positivamente às novas medidas de apoio, embora os investidores ainda duvidem que a recuperação seja sustentável. O índice de referência CSI 300 avançou até 1,3% antes de reduzir os ganhos, enquanto o índice Hang Seng China Enterprises saltou mais de 3% em determinado momento, o mais alto em mais de um mês.

A recuperação nesta quarta-feira oferece aos investidores esperanças de alívio no mercado de ações do país, que atingiu vários marcos negativo na semana passada, que incluíram a eliminação de todos os ganhos do CSI 300 desde a reabertura pós políticas restritivas da covid-19.

(Com Bloomberg)