“Dólar blue” vai a 780 pesos na Argentina e governo negocia controle de preços de produtos básicos

Governo tenta limitar reajustes a, no máximo, 5% ao mês por 90 dias; inflação em julho foi de 6,3% e projeções apontam para IPC de dois dígitos

Roberto de Lira

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Os argentinos perderam a referência dos preços internos de uma variedade de produtos desde a desvalorização oficial de 22% no câmbio do país determinada pelo Ministério da Economia na última segunda-feira (14), que fixou a taxa em 350 pesos por dólar. Desde então, o dólar blue, também chamado de dólar livre, a principal cotação paralela de câmbio, subiu cerca de 30% e rondou ontem os 800 pesos, fechando a 780. Isso tem motivado remarcações de preços de vários produtos e setores.

Para deter ao menos a variação muito acelerada nos produtos da cesta básica, o governo tem feito reuniões com entidades do varejo e do mercado atacadista e já propôs um acordo de controle chamado de Preço Justo, que pretende limitar os reajustes em 5% ao mês durante 90 dias. A contrapartida oferecida para as empresas é uma série de isenções de impostos e benefícios para as empresas que aderirem ao acordo.

O último dado oficial de inflação oficial do mostrou que os preços subiram 6,3% em julho, chegando a 60,2% no ano e a 113,4% em 12 meses. E as últimas projeções do mercado apontam para um inflação de dois dígitos tanto em agosto como em setembro.

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Em entrevista ontem à noite, o ministro Sergio Massa, que é candidato à presidência nas eleições de outubro, ameaçou os empresários que não cumprirem os termos do acordo.

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“As sanções para quem assina o acordo e não o cumpre, econômicas e criminais, não são mais simplesmente um projeto de lei da Secretaria de Comércio, porque estão acessando benefícios fiscais. Vamos aplicar todo o peso da lei para quem não quiser entrar no programa e abusar dele”, disse.

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O decreto do acordo traz, entre seus principais pontos, a promessa de redução para 0% na alíquota do imposto de exportação para mercadorias incluídas nos itens tarifários da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM).

Além disso, será liberado o recolhimento do Imposto PAIS para a compra de cédulas e moeda estrangeira para importação de mercadorias incluídas nas posições tarifárias da NCM. Entre outros benefícios, também foi incluída a prorrogação dos prazos de pagamento de impostos e obrigações previdenciárias.

O decreto indica que perderá os benefícios quem não cumprir o compromisso assumido no âmbito dos acordos de preços, sem prejuízo da aplicação das sanções que se encontrem previstas no regulamento.

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Ao detalhar o programas, o candidato presidencial do União pela Pátria aproveitou para desmentir rumores de que poderia renunciar ao Ministério da Economia para se dedicar exclusivamente à campanha eleitoral.

“Não me ocorre deixar o ministério ”, disse em entrevista ao canal TN, afirmando que uma saída “causaria muitos danos à estabilidade econômica”.

Segundo Massa, todas as medidas difíceis já foram tomadas, referindo-se à desvalorização de 22% aplicada pelo Banco Central da Argentina no câmbio oficial e à elevação da taxa de juros.

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Segundo Massa, a desvalorização era uma exigência do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele revelou que as primeiras negociações com o organismo internacional falavam de uma desvalorização de 100%. Mas após as negociações “finalmente o acordo que chegamos fechou em uma negociação de 20%”.

Mesmo em campanha, o ministro disse que nesta semana e na próxima, “o candidato Massa não tem lugar, porque o ministro Massa tem que estar lidando com os problemas”.

Ele aproveitou para fazer críticas às propostas do candidato libertário Javier Milei, que saiu vitorioso nas prévias eleitorais (PASO) do último domingo. Ele comparou as promessas de dolarização da economia local ao plano Bonex, de 1991. “O que o Milei falou é que se ele for presidente vai ter um plano do Bonex. O que ele fala é que vai pegar dinheiro dos poupadores”, criticou. Segundo ele, os liberais “estão acostumados a fazer isso, que está na origem da crise de 2001” e só que eles têm um olhar que “é ver como o Excel fecha”.

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O plano Bonex foi uma reestruturação compulsória da dívida pública, pela troca de depósitos nos bancos por títulos dolarizados e prazo de resgate de dez anos, que antecedeu um período de hiperinflação no país.

“A Argentina não tem soluções mágicas, mas sim um programa de exportação que no ano que vem vai significar US$ 50 bilhões a mais em vendas do que em importações. Esse é o caminho”, afirmou .