Dólar ‘blue’ na Argentina bate novo recorde, mas governo minimiza risco inflacionário

No mercado paralelo, moeda americana atingiu 1.280 pesos, passando a marca de 1.260 observada em 25 de janeiro; só em maio, a divisa já subiu 23,1% e a diferença cambial em relação ao câmbio oficial supera os 40%

Roberto de Lira

Imagem de nota de 100 dólares com foto do presidente da Argentina, Javier Milei - 16/11/2023. (Reuters/Matias Baglietto)

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O dólar “blue”, a cotação paralela da moeda americana mais utilizada na Argentina, segue em sua tendência de alta e bateu no início da tarde desta quarta-feira (22) seu novo recorde nominal, ao atingir 1.280 pesos, ultrapassando assim a marca de 1.260 observada em 25 de janeiro. Só em maio, a divisa já subiu 240 pesos, ou 23,1%, e a diferença cambial em relação ao câmbio oficial voltou a superar os 40%.

Para o governo, a flutuação atual é natural, pelo período recente de estabilidade, e não deve influenciar nos preços domésticos, trazendo algum risco à inflação, que está em tendência de desaceleração. “Que as pessoas fiquem tranquilas, não tem nada a ver com preços”, garantiu o porta-voz presidencial, Manuel Adorni, em seu contato matinal com a imprensa.

Ele insistiu que os preços tanto da cotação paralela como do dólar financeiro “ficaram sem muita variação por muito tempo” e descartou que qualquer intervenção no mercado de câmbio.

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“Não há razão para que isso tenha qualquer implicação nos preços além do processo inflacionário que estamos vivendo devido aos desequilíbrios que ocorreram em questões monetárias e fiscais na Argentina”, repetiu quando questionado se o governo está atento a um possível impacto na inflação.

Especialistas no mercado cambial argentino ouvidos pelo portal InfoBae explicaram que a alta se deve a três motivos básicos. O primeiro, e mais relevante, é decisão do Banco Central de cortar a taxa de juros básica com intensidade nos últimos cinco meses – na semana passada, ela caiu para 40% ao ano – o que torna a poupança em pesos menos atrativa e pressiona para cima a cotação no mercado paralelo.

Outro elemento citado é que o BC local está comprando dólares de forma sustentada, mas não nos níveis esperados para esta época do ano, quando a liquidação relacionada à safra agrícola costuma estar e seu ponto mais forte. A autoridade monetária (tem comprado cerca de US$ 150 milhões por dia, quando a média dos outros anos foi de US$ 250 milhões.

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Por fim, existem as pressões naturais de desvalorização, uma vez que que o mercado vem apontando que o dólar oficial está defasado, com a taxa indexada de 2% ao mês.

Para Gustavo Quintana, da PR Operadores de Câmbio, está acontecendo um processo de reajuste de preços em decorrência das reduções ordenadas pelo BC. Com isso, os investimentos em pesos perderam sua atratividade e há uma transferência por parte dos investidores, que voltam a tomar posições em dólar.

Para Joel Lupieri, economista da Epyca Consultores, enquanto as taxas de juros permanecerem baixas, é natural que muitos pequenos investidores comecem a dolarizar suas carteiras.

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Daqui para frente, os analistas esperam que o dólar “blue” ainda suba um pouco, mas que o aumento da demanda por pesos que geralmente ocorre em junho – para pagar bônus de Natal e bônus especiais nas empresas – deve ajudar a frear essa tendência.