Diretor diz que BC busca “pouso suave”, reduzindo inflação com impacto menor na atividade

Maurício Costa de Moura disse em debate na Câmara que a autoridade monetária não mantém os juros altos por prazer ou sadismo

Roberto de Lira

Logo do Banco Central na fachada da sede (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

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O Banco Central tem como missão perseguir e assegurar a estabilidade de preços e tem desempenhado seu papel para colaborar nos esforços conjuntos de buscar o desenvolvimento sustentável, com inflação baixa. A declaração foi nesta terça-feira (15) por Maurício Costa de Moura, diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta do BC e membro votante do Copom.

Em debate na Comissão de Indústria, Comércio e Turismo da Câmara do Deputados sobre o impacto dos juros na concessão de crédito às micros, pequenas e médias empresas, o diretor explicou que o BC depende  de sua credibilidade para atingir essas metas e que não toma decisões por decreto.

“O Banco Central do Brasil não mantém os juros altos por prazer ou sadismo. E tem conseguido realizar o chama de ‘pouso suave’, que é conseguir combater a inflação com o mínimo de impacto possível na atividade, no emprego e no crédito”, afirmou, ao lembrar que ele participou tanto do ciclo recente de baixa (estava na diretoria quando a Selic chegou a 2% ao ano), como nos de estabilidade e de alta.

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Sobre esse “pouso suave”, ele lembrou que a política monetária conseguiu derrubar a inflação em 8,7 pontos percentuais entre junho de 2022 e junho de 2023, com o PIB crescendo 0,3%.

Moura afirmou que em todos os países, as pessoas têm consciência do custo da inflação, especialmente para as camadas mais pobres da população, mas também na desorganização da economia e o quanto ela cobra seu preço na redução do investimento e na criação de emprego e geração de renda.

Sobre as expectativas de inflação atuais, ele comentou que os núcleos ainda estão em 5,6% em 12 meses, bem mais altos do que as metas de 3,5% em 2023 e de 3,0% nos anos seguintes. Sobre os componentes principais, o diretor do BC afirmou que a inflação da alimentação no  domicílio tende a cair, mas a variação de preços de serviços é mais difícil de se debelar.

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Os preços administrados, que incluem gasolina e diesel, também terão repique de 0,40 p.p. neste ano, divididos ente agosto e setembros após o reajuste praticado pela Petrobras hoje.

Também prese te ao debate, Gilberto Rodrigues, chefe do Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), comentou que o impacto dos juros é mais pronunciado para as micro e pequenas empresas. As taxas referenciais para a microempresas estavam 36% no final do ano passado, enquanto para as pequenas estavam na casa dos 35%. “A diferença gritante quando se olha para as taxas referenciais de juros para grandes empresas, de 17%”, comparou

Ele explicou que as MPMEs tem menos acesso a linhas de financiamento e são mais sensíveis aos ciclos econômicos ao mesmo tempo em que exercem um papel especial na dinâmica da economia porque são as grandes geradoras de empregos formais.

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Pelos cálculos do BNDES, o saldo devedor das MPMEs no Sistema Financeiro Nacional é de R$ 1 trilhão, sendo que o tem participação de 16% nesse total, seja no crédito indireto, seja na condição de garantias.