Diferente de Europa e EUA, Brasil não está pronto para reabrir economia – e incerteza sobre PIB aumenta

Para o Bradesco, PIB brasileiro deve cair 4% este ano, mas número se mostra cada vez mais otimista diante dos fracos indicadores divulgados

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Se de um lado alguns países da Europa e Ásia e alguns estados americanos começam a reabrir seus negócios em meio aos impactos da pandemia do novo coronavírus, o Brasil ainda parece estar um passo atrás, com as primeiras cidades declarando lockdown nos últimos dias.

Como destacam analistas do Bradesco em relatório, a flexibilização das medidas de isolamento na China e Europa foi condicionada à redução do número de novos casos e de mortes.

“Nessas regiões, o pior parece ter ficado para trás, embora não se descarte uma nova fase de disseminação do vírus”, dizem os analistas ressaltando que essas dúvidas só devem sumir quando houver uma medicação eficaz e a imunização da população.

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Esta melhora no cenário externo, inclusive, tem ajudado o mercado financeiro a se acalmar nos últimos dias. Desde o fim de abril, as bolsas têm voltando a registrar ganhos conforme os investidores acompanham a retomada destas grandes economias.

Apesar dos principais índices de ações ainda estarem longe de apagar as perdas do ano, muitos registraram fortes ganhos no mês passado, enquanto nos EUA o Nasdaq na última quinta-feira voltou a acumular valorização em 2020.

Como destacam os analistas da área de investimento do Bradesco (BBI), enquanto em março, os participantes do mercado estavam concentrados no número de casos e, em abril, olhavam para o pico do número de mortes, o assunto agora é o fim dos bloqueios sociais.

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Mas enquanto o mundo já está olhando para esta próxima etapa do processo de luta contra o coronavírus, o Brasil ainda parece estar tentando administrar o aumento no número de casos e mortes, aponta a equipe do Bradesco BBI.

“No Brasil, pode-se afirmar que os números não mostram um claro e inequívoco alívio na curva, embora tenha sido tentador nos últimos dias. O sistema de saúde está quase cheio, o que cria um impedimento natural [para a retomada]”, afirmam os analistas lembrando que a principal razão do isolamento social é evitar sobrecarregar o sistema de saúde.

Segundo eles, o País não tem uma estratégia de teste em massa, embora tenha havido esforços recentemente, além da falta de um rastreamento do contato de pessoas infectadas como um procedimento sistemático.

“Tudo isso significa que o Brasil não tem a mesma situação que a maioria dos países europeus agora anunciando detalhes sobre as regras pós-bloqueio”, afirmam eles, ressaltando ainda que o Brasil teve uma infecção tardia do vírus, o que até justifica estarmos “atrasados”, mas também isso deveria ter feito com que o País tivesse se preparado melhor.

E como fica a economia

Diante deste cenário ainda sem clareza dos impactos reais no Brasil, o Bradesco diz que as previsões econômicas ficam mais desafiadores, principalmente do Produto Interno Bruto (PIB).

“Nossa projeção de queda de 4% do PIB neste ano pressupõe um ritmo moderado de retomada da atividade no segundo semestre com a reabertura da economia, mas, pelos motivos descritos, há incerteza em torno dessa trajetória”, afirmam os analistas, destacando que neste momento esta projeção parece otimista.

O banco fala ainda sobre as variáveis que complicam ainda mais a avaliação do cenário. A primeira é a defasagem das divulgações dos dados de mercado de trabalho, produção industrial, vendas do varejo e volume de serviços, que ocorrem com um ou dois meses após o referido mês.

A segunda variável é o risco de interrupção temporária de divulgações de algumas pesquisas, como a Pnad Contínua, dada a dificuldade em se obter respostas durante a quarentena. “Assim, indicadores antecedentes e coincidentes ganharam importância adicional neste momento”, dizem.

O Bradesco BBI destaca, neste cenário, o recente número da produção industrial, que desabou 9,1% em março, ficando muito abaixo das projeções, com bens duráveis recuando 23,5% e bens de capital caindo 15,2%, ambos na comparação mensal.

“Esses números são uma indicação de dias muito piores à frente em abril em termos do próximo conjunto de números reais”, alertam os analistas projetando uma queda de pelo menos 20% da produção industrial em abril.

Repassando os números de março para os modelos já feitos, a equipe do banco de investimentos diz que o indicador teria uma queda anual em 2020 de 16,6% se o perfil mensal da produção for mantido. “Portanto, o PIB brasileiro cairia muito mais do que a atual contração de 4% que temos em nossa estimativa”.

O Bradesco também destaca os números de desemprego, que apesar de ficarem estáveis em março em termos dessazonalizados, houve queda de 1% da ocupação, atingindo o emprego formal e o informal. Além disso, o banco aponta que houve um recuo de 1% da População Economicamente Ativa (PEA), o que evitou uma alta maior do desemprego. Diante disso, os dados de abril devem mostrar uma grande piora.

Os analistas apontam também para a desaceleração da massa salarial, de uma alta interanual de 1,9% para outra de 1,7%, o que deve reduzir o consumo das famílias, refletindo os choques de oferta e de demanda, com o fechamento de estabelecimentos por conta da quarentena.

Eles afirmam que mesmo considerando as medidas do governo para atenuar a crise, é possível que ocorra um recuo de 6% da massa salarial, o que é compatível com uma queda de aproximadamente 4,5% do PIB.

Porém, o Bradesco trabalha com a hipótese de retração de 50% do rendimento dos informais, compensados parcialmente pelo auxílio de R$ 600 para as famílias, e uma queda de 25% da renda dos formais, compensada parcialmente pela MP do emprego, com recuperação gradual no segundo trimestre.

“Considerando um ritmo de retomada um pouco mais forte, mas utilizando as mesmas hipóteses iniciais, teríamos uma retração de 5% da massa de salários, com uma contração de 4,0% do PIB”, avaliam.

Por fim, os analistas dizem que os dados apontam para recuos expressivos da atividade em março e, principalmente, em abril, com a projeção deles de que o PIB tenha retraído em torno de 1% no primeiro trimestre, mesmo com as paralisações se iniciando apenas na segunda quinzena de março.

Apesar disso, eles seguem acreditando que o País começará a se recupera no segundo semestre: “entendemos que a piora do mercado de trabalho, o aumento da incerteza e a recessão global possam afetar a velocidade de retomada, mas tais vetores devem ser, em alguma medida, transitórios além de suavizados pelas expansões fiscais e monetárias no Brasil e no mundo, favorecendo também uma retomada mais intensa em 2021. Projetamos contração de 4,0% do PIB em 2019, sucedido por uma elevação de 3,5% no próximo ano”, concluem.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.