Declaração final do Brics ignora crises na América do Sul e em Hong Kong

Os cinco países concordaram em "fortalecer a cooperação" e se comprometeram com o "multilateralismo"

ANSA Brasil

BRICS 2019 (Facebook/Jair Bolsonaro)

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SÃO PAULO, 14 NOV (ANSA) – A declaração final da 11ª cúpula do Brics, grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, não faz menção às crises que sacodem países da América Latina, como Venezuela, Bolívia e Chile.

Alinhado com os Estados Unidos, o governo de Jair Bolsonaro apoia abertamente o autoproclamado presidente Juan Guaidó, enquanto Moscou e Pequim estão ao lado do regime de Nicolás Maduro.

Apesar de ter reconhecido Jeanine Áñez como presidente interina da Bolívia, a Rússia também questiona a legitimidade do processo que levou à renúncia de Evo Morales e já chamou a queda do ex-mandatário de “golpe”. O Brasil, por sua vez, foi o primeiro país a reconhecer Áñez.

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O documento também não cita os protestos em Hong Kong, onde movimentos pró-democracia pedem mais liberdade em relação à China. Apesar disso, os cinco países concordaram em “fortalecer a cooperação” e se comprometeram com o “multilateralismo”, o que contraria a visão “antiglobalista” predominante no governo Bolsonaro.

“Continuamos comprometidos com o multilateralismo, a cooperação de Estados soberanos para manter a paz e a segurança, em promover o desenvolvimento sustentável, em garantir a promoção e a proteção dos direitos humanos e liberdades fundamentais para todos e em construir um futuro compartilhado mais brilhante para a comunidade internacional”, diz o texto.

A declaração final ainda defende o “papel central” das Nações Unidas (ONU) na resolução de crises internacionais e pede reformas nos organismos multilaterais, como a própria ONU e a Organização Mundial do Comércio.

“Reafirmamos a necessidade de uma reforma abrangente das Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança, com vistas a torná-lo mais representativo, eficaz e eficiente e aumentar a representação dos países em desenvolvimento. China e Rússia reiteram a importância que conferem ao status e ao papel de Brasil, Índia e África do Sul nas relações internacionais e apoiam sua aspiração de desempenharem papéis mais relevantes na ONU”, acrescenta o documento.

Outro ponto da declaração final que vai de encontro à postura do governo Bolsonaro é o apoio à implementação do Acordo de Paris, embora destaque o “princípio de responsabilidades comuns, mas diferenciadas”, de acordo com o nível de desenvolvimento de cada país.

“Estamos comprometidos em trabalhar pelo sucesso da COP25, particularmente no que diz respeito à obtenção de um resultado abrangente e equilibrado sobre todos os itens restantes do Programa de Trabalho do Acordo de Paris”, afirma o texto.

Os países do Brics ainda ressaltaram a importância de “mercados abertos” e de um “ambiente de negócios e comércio justo, imparcial e não-discriminatório”. “Ressaltamos a necessidade de maior participação dos países em desenvolvimento nas cadeias globais de valor. Continuaremos a cooperar no G20 e a promover os interesses dos mercados emergentes e dos países em desenvolvimento”, diz.

A cúpula ocorreu em Brasília e contou com as presenças dos presidentes da Rússia, Vladimir Putin, da China, Xi Jinping, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa, além do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. O encontro também marcou a passagem da presidência rotativa do Brics do Brasil para Moscou. (ANSA)

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