De arroz até bicicleta, doce, internet e reforma: veja o que mais aumentou de preço durante a pandemia

Desvalorização do real, alta das commodities, maior demanda e menor oferta são algumas das explicações para a inflação nos últimos 12 meses

Mariana Fonseca

Ilustração sobre contas a pagar
Ilustração sobre contas a pagar

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SÃO PAULO — A pandemia de coronavírus chegou a terras brasileiras acompanhada pela inflação, o aumento generalizado e persistente de preços na economia. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cresceu 6,76% entre maio de 2020 e abril de 2021. Alguns produtos puxaram o índice — mais especificamente, 156 deles cresceram acima da média do IPCA.

O InfoMoney listou abaixo quais são esses itens, com sua respectiva variação de preço no período. Também conversou com economistas para entender por que o IPCA nos últimos doze meses ficou acima do teto da meta de inflação, de 5,25%.

Grandes vilões: alimentação e combustível

Lucas Souza, economista-chefe da gestora de patrimônio Berkana, afirmou que a alta do IPCA nos últimos 12 meses se deveu a dois grandes fatores: o repasse da desvalorização cambial para os preços desde março de 2020 e a pressão exercida pelas commodities desde setembro de 2020. O dólar ter ficado mais caro em relação ao real só aumentou os preços já elevados das commodities, porque elas são precificadas em dólar.

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“A cotação mais elevada no mercado internacional de bens básicos – como petróleo, trigo, algodão, minério e soja – é repassada por aqui com ainda mais força, por ter o efeito da fraqueza do real”, explica Souza. O impacto é visto nos grupos “Alimentação” e “Transporte”, que subiram respectivamente 11,5% e 12,3%. As categorias representam quase 40% do IPCA.

A “Alimentação no domicílio” marcou presença entre as maiores altas. Quatro das cinco primeiras posições são da categoria: óleo de soja (82,37%), arroz (56,66%), feijão fradinho (50,71%) e peito (46,17%). Outro destaque é a categoria de “Combustíveis”, com etanol (37,16%), gasolina (35,59%) e óleo diesel (24,56%).

“O petróleo é provavelmente a ligação mais forte entre a tão comentada ‘alta das commodities‘ e os preços mais salgados da economia como um todo. Quase tudo que consumimos foi gerado a partir do uso do petróleo no processo produtivo. Logo, o efeito cadeia do aumento dos preços do petróleo impacta todos os demais grupos de forma direta ou indireta”, diz o economista.

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Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, concorda que as commodities foram o primeiro grande impulso ao IPCA. A alta dos produtos básicos começou nos alimentos e passou para os combustíveis. Agora, está também na energia elétrica. “Temos pressões em diversas frentes”, diz.

Preços maiores dentro e fora de casa

A alta das commodities impacta inclusive itens que não parecem tão básicos. Em “Vestuário”, as maiores altas foram joia (21,89%) e relógio de pulso (11,89%). Segundo Souza, o salto das commodities metálicas (ouro, prata, cobre e níquel) explica a alta dessas categorias. “O Ouro cotado a US$ 1.600 a Onça Troy no começo de março de 2020 está atualmente próximo dos US$1.900 a Onça Troy. No caso do cobre, muito utilizado em circuitos elétricos, a cotação dos contratos da commodity na London Metal Exchange aumentaram mais de 30% nos últimos 12 meses.”

Mas dólar e alta das commodities não são os únicos culpados pela inflação. A explosão repentina de demanda por alguns itens também se refletiu em preços mais altos em outras categorias.

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Apesar do isolamento social, a categoria “Alimentação fora do lar” também apresentou altas de preços, em itens como vinho (10,20%), lanche (8,33%), cafezinho (8,17%) e doces (7,21%). “São produtos que as pessoas consomem, mesmo em esquema de delivery. O auxílio emergencial foi importante para a Alimentação como um todo”, diz Vale.

Também foi o caso de materiais de construção e eletrodomésticos. “A combinação do isolamento social com o reforço financeiro do auxílio emergencial colocou milhões de cidadãos aptos a realizar reparos menores por conta própria, e a substituir gastos com serviços fechados pela pandemia por gastos com bens”, afirma Souza.

O colchão (52,75%) foi único item que ficou no top 5 de altas sem ser um alimento. Esse é um dos itens da categoria de “Móveis e utensílios”, que também viu aumento relevante em flores naturais (31,99%) e roupa de cama (15,06%). “Habitação” foi outra categoria que marcou presença, com itens como material hidráulico (32,24%), tijolo (31,28%), revestimento (23,28%) e botijão de gás (21,09%). Por fim, os “Aparelhos eletroeletrônicos” também estão na lista de produtos que aumentaram preços para além da média do IPCA, como televisor (24,36%), videogame (23%) e computador pessoal (20,85%).

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Além dessa explosão de demanda, a falta de oferta também levou ao aumento de preços. “Faltaram insumos e houve dificuldade de produção, o que se refletiu na menor oferta de bens”, explica Vale.

“A margem comprimida dos produtores impediu que a queda da demanda reduzisse os preços. Os custos subiram de forma mais do que a queda na demanda. O produtor tem dois caminhos: repassar ou não. Nos setores em que a margem do produtor está muito pequena, ele acaba repassando”, completa Souza. “Sempre lembramos das condições de demanda com a pandemia, mas devemos observar também os gargalos de oferta que a crise sanitária trouxe.”

Em “Despesas Pessoais”, os gastos que mais encareceram foram bicicleta (19,24%), instrumento musical (16,40%), cartório (9,38%) e alimento para animais (9,12%). O acesso à internet também cresceu acima da média do IPCA (8,51%). “Na maioria desses casos, a trinca cotação internacional em alta, efeito dólar e realocação do consumo de serviços para bens contribui para a alta”, diz Souza.

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O InfoMoney listou abaixo as maiores altas do IPCA nos últimos 12 meses, agora separadas pelas categoria do índice. Foram colocados as cinco maiores altas por categoria, ou apenas os produtos que cresceram acima da média do IPCA no período (6,76%). Confira:

Como fica o futuro da inflação?

Na comparação de doze meses, a inflação deve seguir alta no curto prazo. Isso porque os meses de pouca inflação ou deflação vistos no primeiro semestre do ano passado estão sendo substituídos por meses de maior inflação no primeiro semestre deste ano.

Segundo Vale, o IPCA deve terminar em 5,2% no acumulado de 2021. O número é menor do que os 6,76% vistos nos últimos doze meses, mas ainda é alto. Está próximo do teto da meta de inflação para este ano. A meta de inflação é de 3,75%, com teto de 5,25%.

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O IGP-10 cresceu forte na divulgação de maio, mostrando a pressão que ainda teremos no atacado por conta da falta de insumos. Também temos uma retomada da economia, ainda que lenta. Ela pode acelerar a demanda por serviços”, diz Vale.

Já Souza afirma que a tendência é de melhora nos índices de inflação no segundo semestre. “Não há motivo para que a alta das commodities se mantenha por um longo período, passada a reorganização da economia e retorno da oferta”. Em termos de repasse cambial, o dólar já exerce uma menor pressão desde abril deste ano.

Vale também destaca a preocupação com a inflação de 2022. “Por enquanto a estimativa é de inflação de 3,5%. Mas há a expectativa de que ela vá crescendo gradualmente, e que o Banco Central vá se afastando da meta de 3,5% – assim como aconteceu em 2020, e provavelmente acontecerá em 2021.”

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Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.