Dados ajustados do Caged apontam para desaceleração gradual no emprego formal, dizem analistas

Tanto as contratações como as demissões caíram em fevereiro ante janeiro; emprego formal deve crescer entre 800 mil e 1 milhão neste ano

Roberto de Lira

(Wikimedia Commons)

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Apesar do dados do Caged relativos a fevereiro, divulgados nesta quarta-feira (29) pelo Ministério do Trabalho terem ficado acima do consenso do mercado – o consenso Refinitiv apontava para saldo positivo de 161 mil contratações, ante o dado oficial de 241.785 postos de trabalho – os analistas afirmam que os números corroboram uma visão de desaceleração gradual do mercado de trabalho formal no País.

A XP Investimentos, por exemplo, observa que pelos dados com ajustes sazonais, o saldo de empregos diminuiu ligeiramente, de 73 mil em janeiro para 66,5 mil em fevereiro. Com isso, a média móvel trimestral recuou para 55 mil, dos 60 mil no período anterior.

O relatório da XP também destaca que, tanto as contratações quanto as demissões recuaram na comparação mensal. O primeiro dado registou uma quebra de 4,8% no mês, para um total de 1,742 milhão, enquanto o segundo registou teve uma retração 4,5% 1,675 milhão. Além disso, as contratações e demissões estão em torno de 7% e 2% abaixo dos níveis do ano anterior.

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“O mercado de trabalho formal brasileiro segue em processo de arrefecimento gradual. Prevemos uma criação líquida total de aproximadamente 800 mil empregos em 2023, após um saldo significativo de 2,04 milhões de empregos em 2022”, projeta a XP em relatório, que tem como uma das premissas um crescimento de 1% do PIB em 2023.

Olhando para os principais setores, a XP aponta que as atividades de Serviços revelaram uma criação líquida total de 60 mil empregos em fevereiro, ante 57 mil empregos em janeiro, com dados já dessazonalizados. O acréscimo de empregos no Varejo recuou de 20 mil para 8 mil na comparação mensal, enquanto a Construção Civil e a Indústria de Transformação registraram saldos de empregos próximos a zero (2 mil e 5 mil, respectivamente).

Nas contas com ajustes feitas pelo Santander, também ficam claros os sinais de desaquecimento. Para o banco, a criação líquida de empregos formais até acelerou, para 135 mil em fevereiro, ante 102 mil em janeiro. Mas a queda nas demissões em fevereiro ante o mesmo mês do ano passado (-3,1,%) superou a contração nas admissões (-1,1%), na mesma comparação.

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Para o Santander, o resultado no mês representou uma surpresa positiva e uma aceleração em relação aos dados de janeiro, mas a diferença para o nível neutro de desemprego continua próxima de zero, indicando que a tendência de queda da taxa de desemprego de fato acabou. “Em nossa visão, os resultados do Caged de fevereiro ainda são compatíveis com um mercado de trabalho em desaceleração”, afirma o relatório do banco.

O banco também espera que o resultado líquido da geração de empregos em 2023 fique abaixo de 1 milhão, em linha com o cenário de aumento da taxa de desemprego.

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, escreveu em sua conta no Twitter que, apesar da desaceleração econômica recente, o aumento dos gastos do governo e seu efeito estimulativo em setores intensivos em mão-de-obra mantém tem mantido o mercado de trabalho aquecido e que “isso deve manter a pressão salarial e a expansão da massa salarial real à frente”.

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Na visão do Banco Original, alguns fatores devem se traduzir em uma perda de ímpeto do mercado de trabalho neste ano. “A perspectiva de desaceleração da atividade econômica, especialmente a partir do segundo trimestre, o declínio das forças que impulsionaram o setor de serviços no pós-pandemia e o fato de estarmos próximos do pleno emprego, segundo nossas estimativas”, afirmam em relatório os economistas Marco Caruso e Igor Cadilhac.