Custo logístico e juros altos travam competitividade das exportações, aponta CNI

Velhos problemas como portos ineficientes, tarifas e burocracia e continuam atrasando a evolução do país no mercado internacional, de acordo com a entidade

Anna França

Imagem de drone mostra local de construção do terminal STS11 da Cofco para armazenamento e exportação de soja em Santos, São Paulo
31/01/2025. REUTERS/Roosevelt Cassio
Imagem de drone mostra local de construção do terminal STS11 da Cofco para armazenamento e exportação de soja em Santos, São Paulo 31/01/2025. REUTERS/Roosevelt Cassio

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A competitividade das exportações brasileiras continua comprometida por gargalos internos, especialmente logísticos, e por fatores macroeconômicos, como juros elevados. É o que revela a nova edição da pesquisa Desafios à Competitividade das Exportações Brasileiras, divulgada nesta terça-feira (9) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O levantamento, que avaliou o impacto de 50 tipos de entraves sobre as operações externas, mostra que os quatro maiores obstáculos enfrentados pelos exportadores estão diretamente ligados à logística e infraestrutura. O principal deles é o alto custo do transporte internacional, apontado como um fator crítico por 58,2% das empresas ouvidas.

Na sequência estão ineficiência dos portos para manuseio e embarque, indicada por 48,5% das companhias; limitações de rotas marítimas, espaço ou contêineres com 47,7%; e altas tarifas portuárias (46,2%). A primeira barreira não logística surge somente na quinta posição: a volatilidade cambial, citada por 41,8% dos exportadores como um entrave relevante.

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Para o presidente da CNI, Ricardo Alban, esses gargalos internos prejudicam a capacidade da indústria brasileira de competir no cenário global, num momento decisivo em que o país tenta manter sua inserção internacional. Ou seja, com um ambiente externo marcado por disputas comerciais e novas medidas restritivas, o Brasil continua enfrentando desafios domésticos de longa data, segundo ele.

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Desafios antigos

A pesquisa também aponta outros entraves estruturais conhecidos há muitos anos dentro da pauta exportadora: burocracia aduaneira, infraestrutura insuficiente e um arcabouço regulatório complexo, que eleva custos e reduz previsibilidade. “Precisamos eliminar esses gargalos com ação coordenada entre governo e setor privado, para que as reformas fortaleçam a competitividade e ampliem o acesso a mercados”, afirma Alban.

Quando comparado ao levantamento anterior, de 2022, o cenário apresenta nuances. Houve leve melhora no custo do transporte doméstico, mas pioraram as percepções sobre logística portuária e o ambiente institucional.

Um exemplo, segundo a CNI, é a ineficiência portuária, que saltou da 14ª posição na edição de 2022 para a 2ª neste ano. Isso é reflexo de gargalos operacionais que se agravaram.

Para Alban, as duas décadas de pesquisa vêm oferecendo diagnósticos essenciais para aprimorar o ambiente de negócios. Esse histórico, diz ele, deve nortear o planejamento estratégico da política comercial brasileira.

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A gerente de Comércio Exterior da CNI, Constanza Negri, reforça que esse diagnóstico é fundamental para definir prioridades e ampliar a participação do Brasil no comércio mundial.

Isolamento

O levantamento também mostra que a ausência de acordos comerciais com parceiros estratégicos é o maior entrave ao acesso a mercados externos, citado por 25,8% das empresas.

Outros obstáculos incluem:

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Outras barreiras

Além disso, 31% das empresas enfrentaram barreiras nos destinos de exportação, sobretudo tarifas de importação (67,2%), burocracia aduaneira (37,8%) e normas técnicas (37%). A pesquisa identificou ainda entraves tributários e regulatórios que afetam diretamente o custo operacional e 32,1% classificam como crítico o alto tributo sobre serviços importados usados na exportação. Outros 29,1% apontam insegurança jurídica; 27,3% reclamam do excesso de documentos; 26% citam ausência de janela única de inspeções. Apesar de instrumentos como Drawback e Recof, a adesão é limitada pela burocracia.

Com base no diagnóstico, a CNI propõe medidas para fortalecer a inserção internacional da indústria que incluem:

1. Financiamento às exportações

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2. Tributação

3. Logística e infraestrutura

4. Facilitação do comércio

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5. Acordos e integração internacional

6. Governança

Pedras no caminho

A pesquisa da CNI evidencia que o principal inimigo das exportações brasileiras ainda está dentro do país, numa combinação fatores importantes como fretes caros, portos ineficientes, juros altos, burocracia e baixa integração comercial, que somados reduzem a competitividade e limita a presença do Brasil nas cadeias globais de valor. Segundo a entidade, 2026 será um ano decisivo para se avançar em reformas, acordos e modernização logística a fim de garantir a competitividade da indústria.

Anna França

Jornalista especializada em economia e finanças. Foi editora de Negócios e Legislação no DCI, subeditora de indústria na Gazeta Mercantil e repórter de finanças e agronegócios na revista Dinheiro