CPI da Zona do Euro consolida visão de que BCE manterá ritmo nos juros, dizem analistas

Preços de energia aceleraram inflação, mas núcleo também veio forte, por conta dos serviços; projeção é de nova elevação de juros em 75 p.b.

Roberto de Lira

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Embora a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) na Zona do Euro nesta quarta-feira (19), de 9,9% em setembro, na comparação anual, não tenha trazido surpresas – a estimativa oficial já apontava para alta de 10% – o dado preocupa pela aceleração da alta de preços. Segundo analistas, isso deve consolidar a visão de que o Banco Central Europeu (BCE) deverá elevar os juros em 75 pontos-base em sua próxima reunião, marcada para o dia 27 de outubro.

A avaliação do Bradesco é que, embora parte relevante da inflação seja explicada pelo aumento dos preços de energia – que refletem os efeitos da restrição de oferta de gás natural -, o núcleo do índice também mostrou aceleração, para 4,8% em termos anuais, indicando que os preços de serviços também estão pressionados.

“Em nossa visão, esse resultado não deve alterar a condução de política monetária do BCE, que tem adotado um discurso duro e enfatizado seu compromisso de garantir a convergência de preços”, diz o comentário do banco.

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Para Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, o dado veio em linha com as projeções e reforça a expectativa de novas altas de juros. “Diferente do Brasil, que começou a subir juros meses atrás, o BCE demorou para fazer a primeira alta e agora sofre para controlar a inflação”, disse.

Ângelo Polydoro, economista da ASA, destacou que, embora o dado geral esteja “poluído” pelos preços de energia, o núcleo também mostrou aceleração no mês, com “salgados” 4,8%. “Olhando as métricas mais curtas, os preços nos últimos três meses subiram 6%, muito alto para uma média histórica de 2%. Isso não faz que eles (BCE) pensem em reduzir o ritmo do nível de juros”, disse.

Polydoro avaliou que a inflação de bens na Zona do Euro deu uma moderada, mas a de serviços está “horrorosa” muito acimado padrão histórico.

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Limites

Fabio Fares, especialista em análise macro da Quantzed, também acredita que o Banco Central Europeu continuará com a atuação mais “hawkish”, mas alertou que isso pode ter um limite. “Por mais que a gente saiba que o BCE tenha um trabalho árduo pela frente, ao mesmo tempo sabe-se que não tem como subir muito os juros por causa das dívidas dos países”, ponderou.

Ele lembrou que os juros altos trarão graves problemas para países como Itália, Espanha e Portugal. “É um desafio muito grande controlar a inflação sem quebrar países, sem ter problema de insolvência. Agora é esperar os próximos passos do BCE para vermos o que eles vão fazer e qual o ritmo de alta de juros que irão adotar”, disse.