Copom deve manter Selic em 15% e “perseverar” para consolidar recuo da inflação

Com unanimidade sobre a manutenção da taxa, mercado buscará no tom do comunicado e nas projeções de inflação informações que indiquem como os diretores estão avaliando os números da economia

Élida Oliveira

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A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira (17) sobre os juros no Brasil deve ser a de manter a Selic em 15%, seguindo a orientação de “uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado” prescrita na reunião de julho, ou seja, até que o recuo da inflação de curto prazo se consolide.

Assim, a maioria do economistas tem como expectativa um corte de juro apenas em 2026, com o mercado se dividindo nas projeções sobre quando se dará este início: as apostas vão de janeiro a março para o início da flexibilização.

Para a decisão da manutenção do juro, devem pesar na avaliação do Copom os dados de inflação, que apontam melhora recente mas sem dissipar a resistência nos preços de serviços, além da análise do mercado de trabalho, que registra emprego e renda recordes, o que também pressiona os preços pela demanda. 

Pelo lado externo, o quase certo corte de juro nos EUA deve favorecer o câmbio no Brasil, diminuindo a pressão inflacionária.

Para a XP, o comunicado do Copom deve trazer a mensagem de “perseverar” até convergir a inflação à meta. A projeção é de corte de juros em janeiro de 2026, seguido de cortes sucessivos de meio ponto percentual, com a Selic chegando em 12% ao final do ano que vem.

Real valorizado, PIB, emprego e renda

Os dados atuais da economia brasileira apontam melhora no cenário de inflação desde a última reunião do Copom. Foi registrada deflação em agosto, de -0,11%, menos intensa que o esperado, refletindo os efeitos temporários de queda de preços em alguns setores, mas sem sinais de melhora estrutural na inflação.

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Houve valorização do real, acumulando ganho de 15% sobre o dólar no ano, apreciação que já foi repassada ao IPCA.

A atividade econômica apresenta sinais de desaceleração, com o PIB do 2° trimestre indicando perda de fôlego na demanda doméstica. Enquanto a taxa de desemprego e a renda estão em níveis recordes.

Inflação segue desancorada

A avaliação do Copom deve ser a de que as expectativas de inflação seguem desancoradas, embora tenha tido recuo recente e dos cortes sucessivos na projeção apontada no Boletim Focus, avalia Rodolfo Margato, economista da XP. A estimativa para o IPCA no ano caiu de 4,85% para 4,83%, mas ainda está longe da meta de 3%.

“Considerando que as expectativas de inflação estão desancoradas, e que ainda há incertezas do ambiente global e de natureza fiscal, a gente não vê aqui uma motivação para o Copom mudar de forma significativa o seu comunicado, e ele deve manter a sinalização de que a taxa básica seguirá nos patamares atuais por um período bastante prolongado. É um Copom bastante previsível”, diz Margato.

“Para que a taxa básica se aproxime do seu nível neutro – que estimamos em 5,5% em termos reais – será necessário maior progresso no reequilíbrio do hiato do produto e (principalmente) nas perspectivas de reformas fiscais a partir de 2027”, avalia a XP.

Os membros do Copom em reunião (Foto: Raphael Ribeiro/Banco Central)

Riscos

Para José Alfaix, economista da Rio Bravo Investimentos, o processo desinflacionário está sendo sustentado por fatores externos que não estão ligados ao ambiente doméstico, especialmente pelo câmbio. 

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“Quando eu pego essas categorias mais sensíveis à Selic, eu não vejo toda essa melhora que as pessoas têm falado. Eu vejo uma melhora muito decorrente do câmbio e uma reversão de um preço de choque de oferta lá no começo do ano”, diz.

Para ele, o câmbio aliviado traz o aspecto artificial de que está tudo melhorando porque os juros estão fazendo efeito na economia. “Mas a variável que capta juro, de fato, é serviços, e tudo que tem alto peso de importação, com [a variação do] câmbio, melhora”, afirma.

A projeção da casa é de corte na Selic em janeiro ou março, em uma cadência progressiva e intervalada, para que o Copom possa observar os riscos inflacionários do ano que vem, como aqueles relacionados ao estímulo do governo, elevando gastos e sustentando o consumo.

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Banco Central em “piloto automático”

Segundo o economista da Suno Research, Rafael Perez, o Banco Central deve ficar ao longo do segundo semestre de 2025 no “piloto automático”, sem mudanças na postura em relação à Selic ou nos comunicados.

Ele avalia que a autoridade monetária irá observar a inflação e os demais indicadores da economia para verificar quando haverá condições favoráveis para o corte. Por isso, a estimativa da casa é que o BC segure o início de corte para março do ano que vem, finalizando o ano em 13%, uma aposta mais conservadora do que o mercado.

Thiago Calestine, economista e sócio da Dom Investimentos, também vê maior probabilidade de início de cortes a partir de março, com corte de 0,50 p.p.

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“Apesar de o BC ter sinais de possíveis cortes, manter o juro alto é ter uma espécie de ‘garrote’ no governo um pouco mais apertado, porque qualquer gasto extra que o governo quiser fazer ele irá avaliar que o custo é de 15% ao ano. Seria uma forma indireta de frear possíveis vontades do governo de fazer uma política fiscal expansionista,” analisa.

Por isso, a estimativa da gestora é de que a taxa de juros fique em 13,5% a 14% ao final de 2026.

Comunicado cauteloso

Os olhos vão se voltar com lupa para o teor do comunicado, com o mercado analisando cada palavra escolhida para compor a redação do documento que acompanha a decisão sobre a política de juros. Para Rafael Perez, o tom será cauteloso.

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É de se observar, por exemplo, se o Copom considera que o cenário de inflação melhorou e ajusta a redação para afirmar que não antevê necessidade de retomar o ciclo de aperto monetário, já que até o último comunicado, havia a sinalização de o comitê não hesitaria em retomar o ciclo de alta de juros. Ou, ainda, observar se o Copom manterá o comunicado sem alteração, para manter o mercado sob pausa.

Para Fernando Fenolio, economista-chefe da WHG, “tudo o que o Banco Central não quer é abrir a porta para um corte antes da hora”. Ele considera que o comitê deve se esforçar “ao máximo” para evitar que o mercado “embarque em uma onda de cortes” mais cedo. “Quanto menos ele falar, melhor.”

Assim, o mercado deve observar as projeções oficiais do comitê, considerando câmbio e IPCA, que também são formas de comunicação sobre a visão do comitê para a economia no longo prazo. Assim, qualquer corte na projeção de inflação já pode indicar uma propensão ao corte de juros. 

“Quanto mais baixa ele colocar uma projeção de inflação para o horizonte relevante, mais o mercado pode se animar de que [o Copom] abre espaço [para o corte] antes, então talvez ele também não mude muito a projeção”, avalia Fenolio.

Nas projeções da XP, é esperado que o Copom estime recuo da inflação de 4,9% para 4,8% no final de 2025; de 3,6% para 3,5% em 2026; e de 3,4% para 3,3% no 1° trimestre de 2027.