Copom deve levar Selic de volta aos dois dígitos, para 10,75%, mas sinalizar desaceleração das altas para próximas reuniões

XP destaca que o Copom vai indicar que calibrará o próximo passo a depender dos dados e manterá a sinalização de 'persistência'

Lara Rizério

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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central iniciou sua primeira reunião de 2022 nesta terça-feira (1) e divulgará a sua decisão de política monetária na próxima quarta (2), a partir das 18h30 (horário de Brasília).

A expectativa de consenso no mercado é de nova alta de 1,50 ponto porcentual, com a Selic devendo voltar aos dois dígitos, patamar que abandonou em julho de 2017, e registrando a maior taxa desde maio daquele ano (11,25%), ao chegar a 10,75%.

Se confirmada a expectativa do mercado, o processo de aperto monetário atual acumulará alta de 8,75 pontos porcentuais e será o mais forte desde 1999, quando, em meio à crise cambial, o BC aumentou a Selic em 20 pontos porcentuais de uma vez só. O ciclo atual começou em março do ano passado, com os juros básicos da economia no piso histórico de 2%.

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A XP entende que a análise dos dados desde o último Copom deixa seus membros marginalmente mais preocupados com o processo de desinflação adiante, por conta da inflação corrente pressionada, das expectativas em alta e da elevação do preço das commodities neste início de ano. Já atividade em desaceleração e menor pressão no câmbio aliviam parcialmente o quadro.

“Nossas simulações replicando o modelo do Copom sugerem elevação da projeção de IPCA de 2022 de 4,7% para 5,0% e a manutenção da projeção de 2023 em 3,2%. Uma possível mudança da hipótese de bandeira tarifária para energia elétrica reverteria a elevação da projeção para 2022”, aponta a equipe de macroeconomia da XP que, em linha com o consenso, projeta uma alta de 1,5 ponto da Selic.

Para frente, os economistas consideram o ajuste monetário já implementado e o nível de juros acima do nível que consideram neutro (que não estimula nem desacelera a economia, calculado por volta dos 6,5%). Eles esperam ainda que o Copom deixe de sinalizar “um ajuste da mesma magnitude” na próxima reunião.

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“O desafio é não soar muito otimista com a inflação (dovish). Para tal, entendemos que o Copom indicará que calibrará o próximo passo a depender dos dados e manterá a sinalização de ‘persistência'”, apontam os economistas.

Os economistas da XP apontam que o desafio continua grande. A inflação ao consumidor segue rodando muito acima da trajetória de metas e ainda há pressões no atacado para que sejam repassadas adiante.

A casa de análise segue confiante na desaceleração da inflação ao longo do ano. A demanda interna já está se enfraquecendo, e a maior parte do ajuste monetário já promovido pelo BC ainda se fará sentir na economia ao longo do ano que vem.

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“Neste sentido, mantemos nosso cenário de que o Copom reduzirá o ritmo de alta de juros para 0,75 ponto percentual em março, levando a taxa Selic para 11,0%. Consideramos este patamar contracionista que, mantido por tempo suficientemente prolongado, vai produzir a convergência da inflação para a trajetória de metas em 2023”, apontam os economistas.

Os riscos persistem, contudo. No cenário externo, as commodities continuam subindo apesar da sinalização de ajuste monetário global. “Se esse movimento persistir e assistirmos mais um ano de commodities em alta, a desinflação será bem mais difícil. Do lado doméstico, o de sempre: a percepção de aumento do risco fiscal, mantendo a taxa de câmbio pressionada”, avalia a XP.

Para essa reunião, o Itaú prevê que o Copom manterá o tom de aperto monetário contracionista pelo menos até a próxima reunião de março, quando deve moderar o ritmo de alta.

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“Tal decisão é consistente com a comunicação da autoridade até o presente momento, que busca perseverar na estratégia de aperto monetário, avançando significativamente em território contracionista, até que haja consolidação, tanto do processo de desinflação quanto da ancoragem de expectativas em torno das metas”, escreveram os analistas do banco.

O UBS BB avalia que o Copom deva destacar a inflação e a deterioração das expectativas como os principais motivos para que sua projeção de IPCA permaneça acima da meta oficial, daí a necessidade de uma taxa de política mais apertada.

“Depois de quarta-feira, nós projetamos uma nova alta da Selic de 1,25 ponto percentual em março e uma taxa terminal de 12%. Atualmente, o IPCA está pairando em torno de 10% ano a ano, e projetamos desaceleração mais forte apenas
no segundo semestre de 2022, finalizando o ano em 4,25% contra a meta oficial de 3,5%”, aponta o UBS BB.

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As eleições presidenciais no segundo semestre podem representar um risco para políticas fiscais de longo prazo, avaliam os analistas do banco suíço.

“Até lá, o BC poderá ser mais conservador, apesar de projeção de PIB estagnado e melhores números fiscais. Caso as eleições evoluam bem em termos de políticas macroeconômicas, a taxa básica pode retornar ao patamar neutro em 2023”, avaliam.

Em entrevista à Bloomberg, Rafael Ihara, economista-chefe da Meraki, destacou esperar alta da Selic em 1,5 ponto nesta semana, avanço de 1 ponto no encontro de março e uma última dose de 0,50 ponto na reunião seguinte, com taxa final a 12,25%.

Mas, se a dinâmica da inflação ficar bem comportada ao longo desses primeiros meses do ano, não descarta que o ciclo termine na reunião de março, com 11,75%. “Esses 50 pontos-base [finais] a mais são cosméticos”, avalia.

Para o comunicado do Copom, Ihara diz ser “factível” que o BC deixe a porta aberta para redução no ritmo na reunião de março.

(com informações do Estadão Conteúdo)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.