Copom deve cortar Selic em 0,75 p.p. nesta quarta, mas comunicado pode ser influenciado por dados econômicos recentes

Economistas estão praticamente unânimes na decisão e esperam por sinalizações sobre novos cortes ou fim de ciclo

Ricardo Bomfim

(Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)

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SÃO PAULO – Os dados econômicos fracos como o de vendas no varejo, divulgado na terça-feira (16) mostram que os investidores devem ficar bastante atentos ao teor do comunicado da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira (17).

Apesar de não mudarem o cenário para esta decisão específica – para a qual está amplamente precificado um corte de 0,75 ponto percentual na Selic –, a ideia é observar se a autoridade monetária deixará a porta entreaberta ou fechada para uma nova redução na taxa básica de juros.

Hoje, a Selic já está em seu menor patamar histórico, em 3% ao ano, depois de uma redução de 0,75 p.p. na reunião do Copom de 6 de maio. Foi o sétimo corte consecutivo da taxa, que estava em 6,50% até setembro de 2019, quando o atual ciclo de relaxamento monetário começou.

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Caso seja confirmada a redução de 0,75 p.p., a Selic cairá para 2,25% ao ano.

Segundo Jason Vieira, economista da Infinity Asset, o ineditismo do cenário atual dificulta a atuação do Banco Central em criar expectativas de longo prazo. “Teremos mais dados econômicos ruins em maio e junho, e as perspectivas só mudam se houver alteração no contexto da pandemia”, explica.

Para ele, os juros já estão superestimulativos e o ponto a ser observado é como o BC entenderá o contexto macroeconômico desta reunião em diante, com bastante atenção aos sinais sobre os próximos movimentos do Copom. “Eventualmente será necessário revisar os instrumentos que eles têm de política monetária para reverter o cenário atual.”

Em relatório, a equipe de análise da XP Investimentos escreve que não espera uma porta fechada para novos cortes no comunicado, apesar do comitê ter sinalizado na reunião passada que esta seria a última redução.

Isso porque as projeções de inflação do BC estarão bem abaixo da meta para os próximos dois anos, com as expectativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caindo de 2,4% para 1,8% em 2020 e de 3,4% para 3% em 2021. A meta de inflação do BC atualmente é de 4%.

Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest, também acha pouco provável que o comunicado seja definitivo ao afirmar que o ciclo de cortes acabou, mas não vê o BC sendo muito “dovish” (afeito a relaxamento monetário) no texto. “Não há muito mais espaço para afrouxar a política monetária. Estamos claramente em um final de ciclo”, avalia.

A economista entende que apesar dos dados econômicos brasileiros ainda estarem patinando, a confiança pouco a pouco mostra recuperação, o que é importante para a retomada econômica.

Outro ponto que não causa mais preocupação é o exterior. Jason Vieira lembra que com os Estados Unidos criando 2,5 milhões de empregos em maio e exibindo um crescimento de mais de 17% nas vendas do varejo de um lado, e a China em franca retomada de outro, os exportadores são os menos preocupados com a crise.

“A melhora no exterior é o que tem dado o alívio, pois tudo pode ser bem menos pior do que se imaginava. A questão é como vai ser a reação aqui”, diz Vieira.

Por outro lado, os analistas do Itaú BBA escreveram em relatório que o comitê deve continuar ressaltando as incertezas do cenário e pode sinalizar a interrupção do ciclo de baixas na Selic. Entrando assim “em um período de observação, para avaliar os efeitos das decisões recentes e, assim, desenhar os próximos passos de sua estratégia”.

De acordo com o Itaú, expectativas bem ancoradas e o elevado grau de ociosidade da economia indicam um cenário prospectivo de inflação abaixo da meta no horizonte relevante de política monetária. “Nesse ambiente, considerando uma redução do risco externo e expectativa de propagação menos intensa do vírus, esperamos que a autoridade monetária opte por manter a taxa básica neste patamar extraordinariamente estimulativo de 2,25% a.a. por algum tempo, mesmo com certo risco advindo da trajetória fiscal.”

Ausência de Kanczuk

À Bloomberg, Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, destacou que a ausência de Fabio Kanczuk, diretor de Política Econômica do BC, na reunião do Copom não altera a decisão, mas pode significar uma perda da comunicação.

Kanczuk tem sido um dos membros mais comunicativos do Comitê. Foi ele que disse no começo de junho que o patamar de 2,25% não é um piso para a Selic. “Eu diria que não vejo a taxa de 2,25% como algo que está escrito em uma pedra, algo já fixado, que já temos em mente que não podemos cruzar. Nós vimos membros diferentes do Copom fazendo cálculos diferentes”, explicou na época.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.