Combinação de desemprego baixo e salários em alta mantém BC alerta, dizem economistas

Especialistas veem um efeito positivo para a atividade econômica e para a arrecadação, mas alertam para pressões nos preços dos serviços pelo mercado de trabalho aquecido

Roberto de Lira

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A despeito de a taxa de desemprego no trimestre encerrado em janeiro ter mostrado ligeira alta ante dezembro, conforme dados divulgado hoje pelo IBGE, os economistas avaliam que o indicador continua a mostrar o aquecimento do mercado de trabalho. E alertam que os novos dados sobre salários devem manter os alertas acesos no Banco Central, devido a possíveis pressões inflacionárias.

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, explica que a taxa anunciada foi de 7,6% para o trimestre encerrado em janeiro de 2024, mas que com o ajuste sazonal, a desocupação recuou de 7,8% para 7,7%. “A taxa está em patamar historicamente baixo e mostra que o mercado de trabalho se mantém aquecido”, comenta, acrescentando que o número de pessoas empregadas continuou subindo, renovando o recorde da série histórica iniciada em 2012.  

Além disso, ela cita que a renda real habitual teve um crescimento de 1,1% frente ao trimestre imediatamente anterior e de 3,8% na comparação com o mesmo trimestre de 2023. Com a ocupação alta e os salários crescendo, afirma, a massa de renda real habitual atingiu novo recorde, crescendo 2,1% frente ao trimestre anterior e 6% na comparação anual.

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“Os salários elevados combinados a uma taxa de desemprego baixa devem continuar pressionando a inflação de serviços, aumentando o risco de o Banco Central não chegar a uma taxa terminal de juros de 9% neste ano”, adverte. A projeção do C6 Bank é que a Selic fique em 9,25% ao final de 2024 e em 8,5% no fim de 2025.

A XP lembra em relatório que os rendimentos reais do trabalho aumentaram pelo quinto mês consecutivo e que ajustado pela inflação, ele se expandiu 0,5% mês a mês em janeiro, levando a um ganho acumulado de 3,3% desde setembro.

“O indicador está 3% acima dos níveis pré-covid. O aumento acentuado dos rendimentos reais do trabalho ajuda a apoiar o consumo pessoal, o que desencadeou revisões em alta para o crescimento do PIB em 2024”, comenta o economista Rodolfo Margato.

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“Por outro lado, esta dinâmica é um dos principais riscos de curto prazo para o processo de desinflação e a margem adicional para a flexibilização da política monetária”, alerta Margato no relatório.

O economista da XP também destaca que o rendimento agregado real do trabalho – que combina o emprego e o rendimento médio do trabalho – aumentou 0,9% em janeiro, na oitava leitura positiva consecutiva. “Este indicador deverá saltar cerca de 4,0% no corrente ano, depois de ter subido cerca de 7% em 2023”, compara.

Rafael Perez, economista da Suno Research, tem uma visão similar. Ele lembra que o mercado de trabalho resiliente e a expansão dos rendimentos dos trabalhadores têm sido fundamentais para sustentar o crescimento da economia desde o ano passado.

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“Contudo, este movimento tem ligado um sinal de alerta para o Banco Central, já que pode pressionar a inflação de serviços e dificultar uma queda mais acentuada dos preços.

Em uma outra vertente, ele avalia que o aumento do número de trabalhadores com carteira assinada, principalmente em setores ligados a transportes e logística, mostra uma melhora qualitativa do emprego e pode ajudar elevar a arrecadação do governo.

Resiliência

João Savigon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital,  também destacou o mercado de trabalho muito aquecido. “Para termos uma dimensão da resiliência do mercado de trabalho, esse foi o primeiro avanço da taxa de desemprego depois de nove leituras consecutivas de queda”, compara.

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Ele cita ainda a dinâmica muito positiva do rendimento médio real do trabalhador e da massa salarial, que segue renovando seus níveis recordes. “Nesse sentido, o mercado de trabalho segue corroborando nosso cenário de desaceleração bastante gradual da economia doméstica. Projetamos crescimento do PB de 2,0% este ano”, estima.

Para Carla Argenta, economista chefe da CM Capital, apesar do aumento da taxa de desemprego em função do crescimento do número de desocupados, permanece a leitura de que o mercado de trabalho no âmbito doméstico segue evoluindo de maneira positiva e mostrando resiliência frente ao atual estágio da política monetária.

“Cabe ressaltar que sazonalmente há uma tendência de crescimento no número de desempregos nos primeiros meses do ano. Esse movimento também foi observado em 2023, quando a taxa de desemprego avançou 0,9 p.p. no primeiro trimestre, chegando ao nível de 8,8% em março após encerrar 2022 em 7,9%.”

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Para Igor Cadilhac, economista do PicPay, o avanço dos salários, na margem, veio principalmente no setor público formal e segue dando sustentação ao consumo das famílias. “Pensando nas implicações para o cenário de inflação de médio prazo, a dinâmica traz alguma preocupação, sobretudo com a nova regra do salário-mínimo.

“De modo geral, a leitura qualitativa do indicador é de que o mercado de trabalho segue forte e com uma composição saudável, recuperando suas características intrínsecas.”