Carne dispara nos EUA, atinge máxima de R$ 143/kg e pode piorar com tarifa ao Brasil

Hambúrgueres e churrascos ficam mais caros com oferta doméstica menor e importações em queda

Paulo Barros

(Foto: Mattes/Wikimedia Commons)
(Foto: Mattes/Wikimedia Commons)

Publicidade

Os preços da carne bovina nos Estados Unidos atingiram novos recordes em julho e tendem a seguir pressionados, em meio à combinação de estoques domésticos reduzidos e tarifas de importação impostas pelo governo Trump.

Segundo o Departamento de Estatísticas de Trabalho (BLS, na sigla em inglês), o índice de carne bovina e vitela subiu 2,5% em julho, acumulando alta de 11,3% em 12 meses. O preço médio da carne moída chegou a US$ 6,34 por libra (equivalente a R$ 76 por quilo), enquanto o de bifes crus atingiu US$ 11,88 por libra (R$ 143/kg) — ambos em máximas históricas. Um ano antes, esses valores eram de US$ 5,62/lb (R$ 68/kg) e US$ 10,86/lb (R$ 60/kg), respectivamente.

O Departamento de Agricultura (USDA) estima que o rebanho de bovinos nos EUA recuou para 94,2 milhões de cabeças, frente a 94,4 milhões em 2020. A projeção oficial é que a produção de carne caia para 31,1 bilhões de libras em agosto de 2026, o menor nível desde 2019.

Aproveite a alta da Bolsa!

A oferta limitada se traduz em preços mais altos para pecuaristas e frigoríficos. O WASDE de agosto aponta corte nas previsões de abate e de peso médio dos animais em 2025, prolongando a escassez. “A força recente dos preços e a resiliência da demanda sustentam a valorização do gado, e isso está sendo carregado para 2026”, informou o USDA.

Tarifa sobre o Brasil muda o jogo

A estratégia do governo Trump de impor tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras, que representaram 27% das importações de carne bovina dos EUA em 2025, ameaça agravar o desequilíbrio. O USDA já reduziu a projeção de importações tanto para 2025 quanto para 2026, citando “menores embarques devido às tarifas mais altas, particularmente do Brasil” .

Ao Wall Street Journal, o CEO da JBS USA, Wesley Batista Filho, afirmou que não há alternativa imediata capaz de substituir o fluxo brasileiro: “Austrália e outros exportadores não têm volume suficiente para cobrir essa lacuna. O resultado será uma disputa mais intensa por cortes magros de carne, essenciais para a produção de hambúrgueres”, falou.

Continua depois da publicidade

A pressão já se faz sentir nas redes de fast-food. O Wall Street Journal relata que, sem a gordura importada do Brasil, empresas estão tendo que recorrer a cortes nobres do gado americano, como o round primal (parte traseira), para compor a carne moída. Esse redirecionamento pode encarecer também bifes e churrascos. “Esse lean vai ter que vir de algum lugar”, disse Batista Filho. “As coisas vão ter que se ajustar”.

Paulo Barros

Jornalista, editor de Hard News no InfoMoney. Escreve principalmente sobre economia e investimentos, além de internacional (correspondente baseado em Lisboa)