China está “conformada” com ritmo de crescimento mais fraco em 27 anos – mas investidores não

Autoridades chinesas dão sinais de que crescimento do PIB será menor daqui para frente, enquanto agentes de mercado estão cada vez mais cautelosos

Lara Rizério

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – Mais um dado econômico foi publicado expondo as fragilidades do crescimento da economia mundial. A China, até pouco tempo atrás considerada a locomotiva do mundo, vê a sua atividade desacelerar e engatar o menor ritmo de crescimento em 27 anos.

A alta de 6% no terceiro trimestre de 2019 na comparação com igual período do ano passado a princípio parece invejável, mas foi levemente abaixo do esperado e foi no ritmo mais lento desde o início da série histórica, em 1992.

Conforme aponta a XP Research, estes números confirmam o entendimento que o cenário permanece desafiador. Os números do PIB da China seguem um aviso do FMI nesta semana de que o crescimento global cairá para o nível mais baixo desde a crise financeira internacional. A economia mundial deve crescer 3% em 2019, 0,3 ponto percentual abaixo da previsão equivalente há seis meses, informou o fundo.

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Ao mesmo tempo, outros números apresentados mostraram pontos positivos, como a produção do setor industrial, que apresentou expansão de 5,8% em setembro na base anual, crescimento superior aos 4,4% de agosto e superando as expectativas de alta de 4,9% da mediana dos economistas. Segundo aponta o Credit Suisse, houve uma reação mais lenta da produção ao aumento do crédito no setor, o que indica mudanças na relação entre a concessão de estímulos e a reação na atividade.

As vendas de moradias na China também apresentaram expansão, de 10,3% entre janeiro e setembro em relação a igual período do ano passado, indicando uma aceleração no setor imobiliário do país.

Por outro lado, os investimentos em ativos fixos em áreas não-rurais tiveram ganho de 5,4% entre janeiro e setembro ante os nove primeiros meses de 2019. O dado foi em linha com o que os economistas estavam esperando – contudo, comprova a ligeira desaceleração dos investimentos, que foram de 5,5% na comparação anual de janeiro a agosto.

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A desaceleração dos investimentos no setor de manufatura foi o indicador que mais preocupou a equipe de economistas do Credit Suisse, uma vez que registrou alta de apenas 1,7% no trimestre. Enquanto isso, com relação aos investimentos em infraestrutura, mesmo com com a retórica bastante contundente de estimular o setor, o avanço passou de 3,9% no segundo trimestre para 5,2% no terceiro trimestre, o que é visto como uma aceleração apenas modesta pelo banco suíço.

Estímulos necessários… e ainda insuficientes

O Credit Suisse revisou levemente para baixo a expectativa do PIB para 2019 e 2020 em 0,1 ponto percentual, passando para 6,1% e 5,9%, respectivamente, em função da maior preocupação com a manufatura. Assim, o cenário é o que pode se desenhar como de “leve desaceleração”, com a atividade devendo se sustentar em um ritmo estável, com as autoridades chinesas devendo implementar medidas em 2020 para melhorar a eficiência da alocação de crédito e fiscal.

Com uma visão cautelosa, o Morgan Stanley vê risco de um crescimento menor de 6% no quarto trimestre para a economia chinesa, apontando que o mercado imobiliário doméstico pode desacelerar devido às políticas mais rigorosas, enquanto o crescimento deve permanecer moderado em meio ao mercado de trabalho fraco. Assim, a expectativa dos economistas do banco também é de que as autoridades seguirão com suas políticas de estímulo nos próximos dois trimestres.

O porta-voz do Escritório Nacional de Estatísticas (NBS, na sigla em inglês) voltou a enfatizar hoje que o governo da China planeja apresentar alguns planos de infraestrutura, ecoando a visão de que os formulares de políticas públicas possam emitir títulos especiais do governo nos próximos dois meses.

“Dito isto, estes medidas poderiam apenas compensar parcialmente as dificuldades de crescimento, tendo em vista uma postura política ainda restritiva para o setor imobiliário e a continuidade do ambiente de aversão ao risco em meio à continuidade da incerteza comercial”, avaliam os economistas do Morgan.

Com uma visão mais otimista, contudo, o Bradesco avalia que os estímulos ainda presentes e uma possível trégua das tensões com os EUA podem fazer com que a economia se estabilize ao redor de 6%.

“Acho que 6% é um teste de estresse para o mercado”, destacou Zhou Hao, economista sênior do Commerzbank.

“Por um lado, a China parece estar disposta a aceitar um crescimento um pouco menor e está enviando um sinal de que 6% não é um resultado intocável”.  Por outro lado, disse Zhou, o mercado está cada vez mais cauteloso com a desaceleração do crescimento e a relutância dos formuladores de políticas em usar medidas mais fortes de estímulo. Desta forma, a expectativa é de que, em certa medida, os estímulos continuem – mas se eles são suficientes é uma dúvida para os investidores.

“A taxa de crescimento diminuiu, mas está entre as melhores das principais economias do mundo”, disse Mao Shengyong, porta-voz do departamento de estatística da China. “O próximo estágio da economia mundial provavelmente é de continuidade de desaceleração. Mas, de nossa própria perspectiva interna, existem fatores de suporte. A tendência de crescimento econômico estável no quarto trimestre está garantida”, apontou.

A China parece conformada com um crescimento econômico mais fraco, mas os investidores seguem atentos. Afinal, caso os dados da economia apontem para uma fraqueza ainda maior, a expectativa é de que as autoridades do país ajam com mais ímpeto. Se isso não acontecer, os temores de uma desaceleração global ainda mais intensa vão aumentar de forma considerável – elevando os riscos para o mercado.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.