Cenário de emergência como o atual sugere juros mais próximos de 2%, dizem economistas

Avaliações são de que o Banco Central deixou a porta aberta para uma nova redução em junho e tamanho vai depender da pandemia de Covid-19

Anderson Figo

SÃO PAULO — O Banco Central cortou nesta quarta (6) a taxa básica de juros brasileira em 0,75 ponto percentual, para 3% ao ano. É o menor patamar histórico da Selic.

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A decisão surpreendeu a maioria dos economistas, que previam um corte menor, de 0,50 ponto percentual. Mas alguns contavam com um movimento mais agressivo da autoridade monetária, diante do agravamento da crise do coronavírus e o cenário de baixa pressão inflacionária no país.

É o caso de Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor de política monetária do BC e CEO da Mauá Capital. “Da última reunião do Copom para cá, muita coisa aconteceu”, disse em live do InfoMoney (assista acima).

“As perspectivas de inflação se reduziram fortemente (…). Aquela postura de agir gradualmente que o BC assumiu já estava fora do lugar porque estamos em uma situação de emergência. Não é à toa que os mais importantes bancos centrais do mundo fizeram reuniões extraordinárias várias vezes. Neste lado, o Brasil estava atrasado.”

Segundo Figueiredo, o Copom deve voltar a cortar a Selic em 0,75 ponto percentual ou 0,5 ponto percentual em sua próxima reunião, levando a Selic para mais perto de 2% ao ano, o que seria ideal para o cenário atual, na visão da Mauá.

“Nós temos um sistema de metas no BC que funciona muito bem há 20 anos. Se a inflação está abaixo da meta, corta juros; se está acima, aumenta os juros. É simples assim. A gente estava fugindo um pouco dessa regra que sempre funcionou tão bem, mas, com a decisão desta quarta, voltamos para o regime”, completou.

Guilherme Attuy, economista-chefe da Gauss Capital, previa um corte de 0,50 ponto percentual na Selic na reunião do Copom deste mês. Diante da surpresa de uma redução mais expressiva e do teor do comunicado da decisão, ele prevê agora uma nova queda de 0,50 ponto percentual no encontro de 16 e 17 de junho e, possivelmente, um corte adicional de 0,25 ponto percentual na reunião seguinte.

“Houve uma mudança muito grande de atividade e isso naturalmente passa a preocupar a pressão de inflação para baixo”, disse o economista, “o que teria feito o BC agir de uma maneira mais agressiva do que ele gostaria anteriormente.”

“Existe uma expectativa de um retorno [à normalidade] mais gradual, o que pressiona a atividade para baixo, forçando alguns municípios e estados a entrar em processo de lockdown. Isso joga a favor de juros mais baixos”, completou.

Os economistas do Morgan Stanley destacaram em relatório que o Banco Central fez questão de frisar que os impactos da pandemia de Covid-19 podem ser piores do que os incialmente esperados.

Eles citaram que o BC deixou a porta aberta para um novo corte da Selic em junho, que pode ser de até 0,75 ponto percentual, o que coloca em risco o cenário-base do banco, que prevê a Selic em 2,75% ao ano até dezembro.

Já Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, destacou que foi surpreendido pelo corte de 0,75 ponto percentual na Selic, uma vez que ele esperava uma redução menor, de 0,50 ponto percentual.

Agora, após analisar o tom do BC em seu comunicado, Ramos disse que uma manutenção dos juros na próxima reunião do Copom é muito improvável e que ele passou a esperar uma redução entre 0,50 ponto percentual e 0,75 ponto percentual na Selic em junho.

“O Brasil está caminhando rapidamente para um território financeiro inexplorado, com taxas reais nulas. A economia nunca operou em tal ambiente. Pode acontecer que o novo território seja favorável ao mercado e hospitaleiro, mas não saberemos até que operemos lá pelo menos um pouco”, disse.

A equipe de análise da XP Investimentos disse que os argumentos expostos pelo BC em sua decisão de cortar a Selic são majoritariamente “dovish”  — ou seja, reforçam o cenário de mais cortes de juros adiante. Para a corretora, é “mais provável um corte adicional de 0,75 ponto percentual na próxima reunião” do Copom, em junho.

“Dado o cenário de forte contração da atividade e considerável deflação nas próximas leituras do IPCA, ambos com risco de surpresas ainda mais negativas, o nosso entendimento é de que o Copom deverá reduzir a Selic para 2,25% ao ano na próxima reunião”, disse.

“Apesar de o Comitê sinalizar que o próximo corte deva ser o último, reconhecemos a razoável possibilidade de que estímulos adicionais sejam considerados dada a complexidade do cenário, reforçando que os riscos fiscais terão maior peso nas próximas decisões”, concluiu a XP.

Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.