Campos Neto diz que há preocupação com impacto do mercado de trabalho na inflação

Presidente do BC disse que efeito de emprego e renda aquecidos ainda não foi observado no Brasil, mas que as expectativas de inflação seguem em processo de desancoragem

Estadão Conteúdo

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (Foto: Brendan McDermid/REUTERS)
Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (Foto: Brendan McDermid/REUTERS)

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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta segunda-feira (10) que a possibilidade de o mercado de trabalho apertado afetar inflação de serviços é uma preocupação, embora esse impacto ainda não tenha sido observado no Brasil.

“Nos preocupamos se isso irá se traduzir em inflação nos serviços ou se explica porque a inflação de serviços ainda está acima da meta na maioria dos lugares”, disse durante em webinário promovido pela Constellation Asset Management.

Ainda segundo o presidente do BC, os números recentes de inflação foram benignos e mostram convergência em direção à meta e “não são muito diferentes” do esperado.

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Mas ele ressaltou que as expectativas de inflação seguem em processo de desancoragem, citando também que prêmios de risco estão muito altos no Brasil.

Alimentos e clima

Campos Neto comentou também que, embora a inflação de energia e a de alimentos estejam convergindo na maioria dos lugares, os preços dos alimentos estão um pouco mais altos recentemente em nível global. “Isso não está acontecendo apenas no Brasil, estamos olhando para outros países e está acontecendo o mesmo”, disse durante a apresentação.

O banqueiro central destacou que o movimento coincide com dados que indicam o aumento de anomalias em termos de temperatura no planeta nos anos recentes, com destaque para 2023 e 2024.

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Segundo o presidente do BC, grande questão agora, compartilhada por outros bancos centrais pelo mundo, é o porquê de as condições financeiras estarem tão frouxas se os juros estão tão altos. Ele repetiu que a inflação de serviços segue acima da meta e o mercado de trabalho apertado em muitos lugares.

E ponderou que, apesar de permanecerem com o mercado de trabalho forte, a maioria dos países emergentes registraram alguma convergência na inflação de serviços, diferente do que ocorre nas economias avançadas.

Campos Neto acrescentou que há ainda uma preocupação sobre de onde virá a desinflação nos Estados Unidos. “Nós estamos vendo uma desaceleração agora na margem na indústria, mas ainda assim, os números são fortes. No mercado de trabalho, ainda vemos números fortes em serviços.”

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Influência do quadro fiscal

Campos Neto comentou ainda que política fiscal é absorvida pela autoridade monetária apenas na medida em que tem impacto em variáveis econômicas que influenciam a sua função-reação. “Não é trabalho do BC tratar disso”, declarou. “O importante, para nós, não é o fiscal em si, é o que o fiscal significa para as variáveis macroeconômicas que afetam a nossa função-reação.”

Campos Neto acrescentou que as expectativas fiscais do mercado – por exemplo, para o déficit primário – não têm piorado. No entanto, levantamentos qualitativos, como o Questionário Pré-Copom, têm mostrado uma piora da percepção.

Para ele, isso significa que o Brasil precisa sinalizar sustentabilidade para a sua trajetória de dívida.

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O presidente do BC acrescentou que o quadro fiscal está negativo no mundo inteiro e lembrou que o Brasil aprovou um novo arcabouço. “O que o mercado está questionando é a capacidade do governo de cumprir o arcabouço”, disse.

(Com Reuters)