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Dados positivos de geração de emprego e a menor taxa de desemprego da série histórica mostram que a economia aquecida está trazendo novas oportunidades de renda para a população, o que não exclui os desafios envolvendo a contratação e retenção de talentos.
Dados preliminares da pesquisa Lugares Mais Incríveis para Trabalhar (LIPT) 2025, elaborada pela FIA Business School e divulgados com exclusividade para o InfoMoney apontam que o salário já não é o principal chamariz para os empregados.
Do lado dos empregadores, as dificuldades passam pela falta de qualificação da mão de obra, o baixo estoque de trabalhadores disponíveis (e dispostos a aceitar as condições de jornada), além da concorrência com a Gig Economy – impulsionada pela “pejotização” e “uberização” dos contratos de trabalho temporários.
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O trabalhador ‘tá on’!
O cenário do trabalho no Brasil é de economia aquecida. Os dados mais recentes do Novo Caged apontam que o Brasil gerou mais de 1,5 milhão de novos empregos formais nos últimos 12 meses. A taxa de rotatividade é de 33%.
Com mais vagas, há menos desemprego. A taxa medida pela Pnad Contínua chegou a 5,8% no trimestre de abril a junho, o menor índice da série histórica, que começou em 2012. Neste período, caíram os percentuais de desalentados (quem gostaria de trabalhar, mas desistiu de procurar emprego), de subutilização (quem está em idade de trabalho mas não procura emprego), de desocupados, e até de informalidade. A renda média mensal chegou a R$ 3.477, a maior já registrada pela pesquisa, segundo o IBGE.
Eles não querem ‘só’ salários
Em meio ao cenário de mercado de trabalho aquecido e renda elevada, dados preliminares da pesquisa Lugares Mais Incríveis para Trabalhar (LIPT) 2025, elaborada pela FIA Business School, apontam que o famoso dueto “salário e estabilidade” não lidera as preferências dos ocupados. Para eles, é preciso mais.
Para 29% dos entrevistados, a perspectiva de crescimento na carreira é o maior fator de atração no emprego. Em seguida, vem a identificação com a proposta do cargo (20%) e a imagem e reputação da marca (17%). A pesquisa teve mais de 195 mil respostas de todo o Brasil, e os trabalhadores puderam listar mais de um item entre as suas preferências.
A necessidade de trabalhar aparece em 5º lugar, salários e benefícios, em 6°. Estabilidade e segurança é o penúltimo item avaliado.
Veja abaixo os motivos de atração para o trabalho, segundo a pesquisa LIPT 2026:
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| Ranking | Motivos | Porcentagem |
| 1º | Perspectiva de crescimento de carreira | 29% |
| 2º | Identificação com a proposta do cargo | 20% |
| 3º | Imagem e reputação da marca da empresa | 17% |
| 4º | Oportunidade de aprendizado | 16% |
| 5º | Necessidade de trabalhar | 16% |
| 6º | Oferta de remuneração e benefícios | 15% |
| 7º | Alinhamento com a cultura da empresa | 14% |
| 8º | Amizade com pessoas que já trabalham na empresa | 12% |
| 9º | Perspectiva de estabilidade e segurança | 10% |
| 10º | Localização da empresa | 8% |
Para Lina Nakata, professora da FIA Business School e uma das responsáveis pela LIPT, a pesquisa reflete um mercado de trabalho com mais vagas, que permite ao trabalhador elencar preferências além do salário – o que não quer dizer que os trabalhadores vão aceitar posições que paguem mal, mas sim que entre as opções de salários semelhantes, há outros fatores que impactam na retenção dos trabalhadores.
Para ela, os salários, em geral, estão baixos, o que afeta a qualidade de vida, especialmente nas grandes cidades em que os custos com alimentação, moradia e transporte são elevados. Além disso, o despreparo de lideranças para conduzir equipes preocupa trabalhadores que evitam ambientes em que vão se sentir sobrecarregados.
O patrão está esgotado
Enquanto as vagas estão bombando, as contratações se mostram desafiadoras. Dados de uma sondagem empresarial feita pela FGV-Ibre apontam que 60% de todos os quatro grandes setores da economia (indústria, serviços, varejo ampliado e construção) afirmam ter dificuldades em contratar ou reter mão de obra. Comércio e construção apontam a falta de qualificação como o principal motivo, já o setor de serviços cita a dificuldade em pagar os salários demandados.
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Com tantas vagas disponíveis e menor desemprego, o “pool” de trabalhadores disponíveis para contratação piora, avalia Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Ibre), elevando a dificuldade das empresas.
Além disso, os contratantes enfrentam a concorrência dos programas de transferência de renda e do aumento da tendência do trabalho autônomo. E, se este trabalho for na informalidade, é possível unir as duas rendas, elevando o rendimento, apesar da precarização.
Isso fez com que o “salário de reserva”, que é o valor que a pessoa busca para sair de casa, se eleve, o que aumenta a barreira de contratação para as posições com valores mais baixos.
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Gui Dias, CMO e cofundador da Gupy, plataforma de contratação online, afirma que as vagas tradicionais já não atraem como antigamente, e a flexibilidade da Gig Economy – que inclui trabalhos temporários, freelancers, motoristas e entregadores de aplicativo, vendas em plataformas online, por exemplo – tem atraído uma parcela da mão de obra que poderia estar disponível para contratação efetiva.
Otimização na seleção e benefícios
A pesquisa da FGV aponta que as principais estratégias adotada pelas empresas para superar as dificuldades de contratação são investir em capacitação interna (44,6%), oferecer mais benefícios (32,1%), realocar colaboradores (20,4%), mudar processos para reduzir a dependência de mão de obra (18,8%), aumentar salários (14%), terceirizar o recrutamento (10,5%), postergar contratações (5,5%) e oferecer vagas 100% home office ou híbridas (4,9%).
E, para chegar ao candidato, as empresas estão precisando reinventar os processos seletivos. Uma alternativa desenvolvida na Gupy é o processo rápido dentro do ambiente do WhatsApp usando Inteligência Artificial, que será lançado em setembro. De acordo com a empresa, o serviço tem potencial de reduzir em até 60% o tempo de contratação.
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“As pessoas estão menos dispostas a colocar energia até no processo seletivo. Quando temos processos que são muito extensos, com muitas etapas, vemos que o candidato já vai desistindo antes mesmo da negativa da empresa”, diz.
Para reter os talentos, não há um modelo ideal, mas os empregadores precisam ter em mente o quadro amplo: pode ter quem se interesse pelo salário, ou outros que queiram maior flexibilidade de jornada ou de benefícios.
“Por muito tempo a gente olhou o salário como único ponto de atração. Ele continua tendo seu peso, sem dúvida, mas há outros atributos importantes, como o fator de flexibilização que a Gig Economy traz. Nas empresas, isso pode ser visto em cima do que pode ser flexibilizado: quando vou tirar minha folga, quanto vou receber no VT [vale-transporte], VA [vale-alimentação] ou no VR [vale-refeição], se a empresa investe no funcionário dando formação, por exemplo.”