Bancos centrais devem resistir a apelos para antecipar cortes de juros, diz FMI

Diretora-gerente do Fundo, Kristalina Georgieva, diz que flexibilização prematura pode trazer novas surpresas inflacionárias, o exigiria até um novo aperto monetário

Roberto de Lira

Diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, em Brasília - 04/03/2024 (Reuters/Ueslei Marcelino)

Publicidade

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, alertou em discurso nesta quinta-feira (11) que muitos dos banqueiros centrais de todo o mundo estão acertadamente calibrando cuidadosamente a escolha de suas políticas monetárias e que eles precisam resistir aos frequentes apelos para antecipar os cortes nas taxas de juros.

“Sempre que necessário, os decisores políticos devem resistir aos apelos a cortes antecipados das taxas de juro. A flexibilização prematura pode trazer novas surpresas inflacionárias que podem até exigir um novo aperto monetário. Por outro lado, atrasar demais pode jogar água fria na atividade econômica, declarou em pronunciamento que antecede as reuniões de primavera do Fundo em Washington, na próxima semana.

Georgieva lembrou que o ritmo e o momento do pivô monetário variam, sendo que alguns bancos centrais já começaram a afrouxar a política, principalmente nos mercados emergentes, onde a inflação foi combatida mais cedo.

Continua depois da publicidade

“Mas em outros lugares, principalmente nas economias avançadas, eles ainda estão adiando, por enquanto. Eles devem calibrar cuidadosamente suas decisões com os dados recebidos”, afirmou.

Nesta reta final, disse a diretora, é duplamente importante que os bancos centrais mantenham a sua independência, uma vez que a credibilidade política é vital na luta para restaurar a estabilidade dos preços.

Política fiscal e dívida

Ela também defendeu que chegou a hora de reconstruir os amortecedores fiscais. “Nos últimos dois anos, defendemos a contenção da política fiscal para apoiar os bancos centrais no combate à inflação. A tónica na política orçamental é agora justificada por direito próprio. As reservas orçamentais esgotam-se e os níveis de dívida na maioria dos países são simplesmente demasiado elevados”, alertou.

Continua depois da publicidade

A diretora destacou no discurso que a tendência de aumento das dívidas começou há mais de uma década – durante um período prolongado de taxas de juros muito baixas – e que a pandemia exigiu uma resposta fiscal sem precedentes para proteger vidas e meios de subsistência. Com isso, a dívida aumentou ainda mais.

“Agora, estamos em uma era de juros muito mais altos. Isso está elevando o custo do serviço da dívida”, frisou.

Nas economias avançadas, excluindo os EUA, os pagamentos de juros da dívida pública representarão em média cerca de 5% das receitas do governo este ano, segundo a diretora do FMI.

Publicidade

Ela reforçou que o custo do serviço da dívida é mais doloroso em países de baixa renda. “Seus pagamentos de juros devem atingir em média cerca de 14% da receita do governo – aproximadamente o dobro do nível de 15 anos atrás.”