Banco Central corta Selic em 0,75 p.p., para 3%, e indica nova redução de juros em junho

Maioria dos analistas consultados pela Bloomberg esperava um corte de 0,50 p.p., mas já via a possibilidade desta redução maior

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu nesta quarta-feira (6) cortar a Selic em 0,75 ponto percentual, para 3% ao ano, a menor taxa básica de juros da história.

Esta foi a sétima redução seguida na taxa básica de juros e apesar de não ser exatamente uma surpresa, não era a expectativa da maioria dos analistas. Apenas sete dos 30 especialistas consultados pela Bloomberg projetaram um corte desta magnitude, enquanto 22 apontavam para 0,50 p.p. de redução.

No comunicado, o Banco Central destacou que ainda considera mais um corte de juros em sua próxima reunião, em junho, mas “não maior do que o atual”. Segundo a autoridade, reduzir mais a Selic é uma forma de complementar o grau de estímulo necessário como reação às consequências econômicas da pandemia da Covid-19.

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“No entanto, o Comitê reconhece que se elevou a variância do seu balanço de riscos e ressalta que novas informações sobre os efeitos da pandemia, assim como uma diminuição das incertezas no âmbito fiscal, serão essenciais para definir seus próximos passos”, ponderou o BC na nota.

Especialistas avaliavam antes da decisão que o corte ocorreria por conta dos recentes dados fracos da economia brasileira em meio aos impactos do novo coronavírus, além das projeções de inflação em queda por conta do recuo do petróleo e da demanda fraca reduzindo o preço de serviços e bens industriais duráveis.

O corte de 0,75 p.p. não chegou a surpreender porque neste cenário acima, analistas já falavam que o Banco Central tinha espaço para reduzir os juros neste nível. A questão era que a maioria acreditava que a autoridade monetária iria manter uma maior cautela, com a autoridade monetária preferindo um corte menor para avaliar o impacto desta decisão antes de reduzir mais os juros.

O Comitê disse que “a conjuntura econômica prescreve estímulo monetário extraordinariamente elevado”, mas que existem limitações para um ajuste mais forte nos juros.

Segundo o comunicado, dois membros do Copom sugeriram um corte maior já neste momento, o que viria com a sinalização de manutenção das taxas para os próximos meses, “de modo a reduzir os riscos de não cumprimento da meta para a inflação de 2021”.

“Entretanto, foi preponderante a avaliação de que, frente à conjuntura de elevada incerteza doméstica, o espaço remanescente para utilização da política monetária é incerto e pode ser pequeno. Assim, o Copom optou por uma provisão de estímulo mais moderada, com o benefício de acumular mais informação até sua próxima reunião”, explicou o BC.

Confira o comunicado na íntegra:

Em sua 230ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 3,00% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.

Por um lado, o nível de ociosidade pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado. Esse risco se intensifica caso a pandemia provoque aumentos de incerteza e de poupança precaucional e, consequentemente, uma redução da demanda agregada com magnitude ou duração ainda maiores do que as estimadas.

Por outro lado, políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país de forma prolongada, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco e gerar uma trajetória para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.

O Copom avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual, para 3,00% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2021.

O Copom entende que, neste momento, a conjuntura econômica prescreve estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reforça que há potenciais limitações para o grau de ajuste adicional. O Comitê avalia que a trajetória fiscal ao longo do próximo ano, assim como a percepção sobre sua sustentabilidade, serão decisivas para determinar o prolongamento do estímulo.

Dois membros do Comitê ponderaram que, mesmo com a possibilidade de elevação da taxa de juros estrutural, poderia ser oportuno prover todo o estímulo necessário de imediato, em conjunto com a sinalização de manutenção da taxa básica de juros pelos próximos meses, de modo a reduzir os riscos de não cumprimento da meta para a inflação de 2021.

Entretanto, foi preponderante a avaliação de que, frente à conjuntura de elevada incerteza doméstica, o espaço remanescente para utilização da política monetária é incerto e pode ser pequeno. Assim, o Copom optou por uma provisão de estímulo mais moderada, com o benefício de acumular mais informação até sua próxima reunião.

Para a próxima reunião, condicional ao cenário fiscal e à conjuntura econômica, o Comitê considera um último ajuste, não maior do que o atual, para complementar o grau de estímulo necessário como reação às consequências econômicas da pandemia da Covid-19. No entanto, o Comitê reconhece que se elevou a variância do seu balanço de riscos e ressalta que novas informações sobre os efeitos da pandemia, assim como uma diminuição das incertezas no âmbito fiscal, serão essenciais para definir seus próximos passos.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fábio Kanczuk, Fernanda Feitosa Nechio, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.